Título: Incerteza marca projeções para investimento
Autor: Lamucci,Sergio
Fonte: Valor Econômico, 09/01/2012, Brasil, p. A7

Depois do desempenho decepcionante em 2011, o investimento entra em 2012 num cenário marcado pela incerteza. As projeções para a formação bruta de capital fixo (medida das contas nacionais do que se investe na construção civil e em máquinas e equipamentos) são díspares, oscilando de 4% a pouco mais de 8%. Para os mais otimistas, a queda dos juros reais e a aposta na aceleração dos investimentos da União, no avanço das obras ligadas à Copa do Mundo e à Olimpíada e na intensificação dos projetos relacionados à exploração do petróleo na camada de pré-sal justificam a crença numa recuperação mais forte em 2012.

Na contramão, os riscos vêm do cenário externo bastante turbulento, que abala a confiança dos empresários, e a situação delicada da indústria de transformação. Em 2011, o crescimento deve ter ficado na casa de 4% a 5%, bem abaixo da expansão próxima de dois dígitos esperada no fim de 2010, ano em que houve alta superior a 21%. O ciclo de aumento dos juros - já revertido -, o recuo do investimento público e o aumento das incertezas externas contribuíram para esse resultado frustrante.

A maior parte das previsões para o investimento em 2012 se concentra na faixa de 4,5% a 6,5%. O economista Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco, projeta expansão de 4,5%. O número não parece muito animador, mas esconde uma trajetória de recuperação ao longo de 2012, diz ele. Para Bicalho, os juros reais (descontada a inflação) em níveis baixos para padrões brasileiros - na casa de 4% - e a retomada dos investimentos públicos devem fazer a formação bruta puxar a demanda no segundo semestre de 2012. "Os 4,5% são um número um pouco enganoso."

O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, aposta numa alta do investimento de 4% em 2012, abaixo dos 4,5% deste ano. No entanto, a exemplo do que vai ocorrer com o PIB, a formação bruta de capital fixo estará "contaminada" pela baixa herança estatística (o "carry over") que 2011 deixará para o ano que vem.

No caso do investimento, o carry over será negativo em 0,5%, o que significa que, se não crescer nada em relação ao nível do fim deste ano, a formação bruta encerrará 2012 com queda de 0,5%. Para chegar a 4%, o avanço trimestral médio do investimento terá de ser de 2% sobre o trimestre anterior, feito o ajuste sazonal. Já os 4,5% de 2011 embutem uma alta trimestral média de apenas 0,3% - a diferença é que a herança de 2010 para 2011 tinha sido expressiva.

"Estamos projetando forte aceleração do PIB e da formação bruta de capital fixo ao longo de 2012, especialmente do segundo trimestre em diante", diz Borges, que prevê crescimento do PIB de 3,1% no ano que vem. Para ele, cinco fatores devem levar à aceleração do investimento: a aposta na redução da incerteza externa, o efeito defasado da queda dos juros, o aumento dos investimentos da Petrobras e da Eletrobrás, a elevação dos investimentos da União e o impulso das obras de infraestrutura pelo setor privado por causa das concessões, como as de aeroportos.

A MB Associados e o Bradesco têm as previsões mais otimistas para o investimento em 2012, de 8,2% e 7,8%, pela ordem. O economista-chefe da MB, Sérgio Vale, porém, diz que a sua previsão depende de "nada exótico ocorrer na Europa". Segundo ele, uma ruptura, como uma saída da Grécia da zona do euro, "pode reverter esses números para o negativo". Uma recuperação mais firme só se sustenta com alguma melhora da situação europeia. "Se isso ocorrer, a retomada das expectativas será imediata, ainda que não se traduza em maior crescimento na Europa. Isso pode atrair mais investimentos das empresas europeias que não terão oportunidades de crescer por lá".

Vale vê um investimento muito concentrado em setores ligados a commodities e à infraestrutura. Na indústria manufatureira, há uma grande perda de competitividade, exacerbada nos últimos anos pelo câmbio valorizado.

O diretor do departamento de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, reconhece que, "em função dos ruídos da crise europeia, existe um contágio de expectativas dos empresários, que pode estar afetando o processo decisório de investimento". Ainda que os projetos não sejam abandonados, a crise pode levar a uma reavaliação do timing de alguns. Barros, contudo, acredita que a formação bruta "seguirá relativamente insensível à desaceleração de curto prazo na economia", crescendo mais que o PIB e que o consumo das famílias.

Segundo ele, alguns segmentos de fato vão se destacar, como o de infraestrutura, mas a sondagem do Bradesco de anúncios de investimentos mostra um grau de difusão de 74% em novembro, o que significa que, dos 50 setores acompanhados no levantamento, em mais de 70% há intenção declarada de investir. "A decisão de investimento, de um modo geral, tem horizontes de médio e longo prazos, que independem da desaceleração cíclica que observamos no momento. E as perspectivas para o Brasil seguem favoráveis", diz Barros, que projeta um crescimento do PIB de 3,7% em 2012.

Na virada do ano, o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, reviu a sua projeção para a formação bruta, que passou de queda de 0,4% para alta de 5,2%. Ele mudou bastante a sua visão sobre o investimento privado (no qual inclui as estatais). Primeiro, por acreditar que a Petrobras, em especial, vai investir mais, dada a intenção de Dilma Rousseff de acelerar a formação bruta de capital fixo em 2012.

Além disso, Gonçalves considera que o BNDES deverá voltar a ter papel mais ativo do que no ano passado, ampliando a oferta de recursos ao setor privado. Segundo ele, a situação fiscal tranquila, sem riscos de solvência, abre espaço para que o Tesouro faça empréstimos de R$ 30 bilhões a R$ 40 bilhões ao banco de fomento sem que isso levante dúvidas sobre a saúde das contas públicas. Nesse quadro, ele passou a apostar que o investimento privado crescerá 4,9% neste ano, e não recuar 2,3%. Gonçalves mantém o otimismo quanto ao investimento público, estimando uma alta de 6,6%. A questão é que o governo federal investe pouco, não muito mais que 1% do PIB.

O economista-chefe do BNDES, Fernando Puga, acredita numa retomada do investimento em 2012, mas não projeta números exuberantes. Para ele, a formação bruta de capital fixo deve crescer 6,5% no ano que vem. "O investimento público deve ter uma cara bem distinta do que foi 2011."

O governo colocou o pé no freio neste ano para segurar a política fiscal, mas agora deve acelerar as obras, também impulsionadas pela proximidade da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. "Os juros mais baixos também podem dar um alento grande para o investimento residencial", afirma ele, referindo-se ao fato de que a queda das taxas barateia o crédito imobiliário.

Ele cita como um grande trunfo a vitalidade do mercado interno, que atrai empresas de outros países, em setores como o automobilístico, e as perspectivas positivas no setor de petróleo e gás. Segundo levantamento do banco, dos R$ 603 bilhões a serem investidos na indústria de 2011 a 2014, 63% são desse segmento. Uma das expectativas de Puga é que o investimento no setor de petróleo dinamize outros segmentos.

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