Título: ACM e Durval romperam nos anos 80
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2006, Especial, p. A16
Hoje em campos opostos da política baiana, João Durval Carneiro e Antonio Carlos Magalhães já foram aliados de primeira hora. Apesar de ter Feira de Santana, a segunda maior cidade da Bahia, como base eleitoral, João Durval não havia ascendido ainda ao primeiro time da política no Estado até 1982, quando, na reta final, acabou concorrendo ao governo.
Foi de ACM a chancela ao nome de João Durval Carneiro para disputar o posto de governador. Até pouco antes da eleição daquele ano, quem liderava a disputa era o carlista Clériston Andrade. Em uma viagem entre as cidades de Itapetinga e Vitória da Conquista, o helicóptero em que Andrade estava caiu em meio à neblina que cobria a Serra do Marçal e matou todos os passageiros e tripulantes.
João Durval, que havia sido secretário de Saneamento no governo de Antonio Carlos Magalhães, venceu a disputa interna no PDS. Havia temor de que um nome surgido de última hora pudesse jogar por água abaixo o favoritismo da campanha de Clériston Andrade. Como o grupo carlista poderia manter a dianteira? "Com um saco de dinheiro em uma mão e o chicote na outra", declarou ACM, em uma das tiradas mais famosas de sua carreira política. "Na Bahia, eu sou capaz de eleger um poste".
O alto e esguio João Durval venceu a disputa. Ele bateu Roberto Santos, do PMDB, com uma dianteira de 580 mil votos. O feito teve ainda outros requintes. Foram unânimes as vitórias nos municípios de Cairu, Jiquiriçá, Nova Itarana, Rodelas, Urandi, Serrinha e Wenceslau Guimarães, nas quais Santos não levou um voto sequer. Das 367 cidades que o Estado tinha então (hoje são 417), o candidato do PMDB conseguiu amealhar menos de 5% dos votos em 155. Em outros 83, garimpou menos de 1%.
O afastamento entre João Durval e ACM começou a se desenhar no fim do mandato do patriarca dos Carneiro. Quem concorreria à sua sucessão pelo grupo carlista seria Josaphat Marinho. A tarefa era inglória: derrotar o então ministro da Previdência de José Sarney, Waldir Pires, que vinha embalado pela onda de apoio que abençoou o PMDB com o fim da ditadura militar. Em 1986, o partido acabou elegendo governadores em todos os Estados, com exceção de Sergipe.
Ainda assim, ACM creditou a derrota a João Durval. Na convenção que escolheria o nome do PFL para disputar o Senado em 1990, Carneiro, que tinha na bagagem os quatro anos de governo estadual, foi preterido em nome de Josaphat Marinho, derrotado por Waldir Pires na disputa de 1986. João Durval ainda tentou voltar ao Palácio de Ondina, residência oficial dos governadores da Bahia, em 1994, mas foi batido por Paulo Souto, que hoje ocupa novamente o posto e tenta se eleger pela terceira vez. João Durval afastou-se da vida pública depois disso e só agora, 12 anos depois, concorre com chances de vencer a corrida ao Senado. (PC)