Título: Telemar desiste de oferta e ações sobem
Autor: Moreira, Talita e Adachi, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2006, Empresas, p. B2

Os controladores da Telemar, operadora de telefonia que atua em 17 Estados do Sudeste, Nordeste e Norte, desistiram da oferta pública de ações da companhia, alegando que ela se tornou "inviável" neste momento.

O grupo, no entanto, manteve a proposta de simplificação de sua estrutura societária, da qual resultará uma única companhia com ação em bolsa - a Oi Participações -, de capital pulverizado.

Até então, a realização da oferta secundária e a da reorganização das empresas estavam vinculadas. A separação das duas coisas foi bem vista pelo mercado e, conseqüentemente, os papéis Telemar subiram ontem. As ações ordinárias da Tele Norte Leste Participações fecharam o dia com valorização de 5,15%, cotados a R$ 71,50.

Num comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Telemar atribuiu o cancelamento da oferta secundária de ações, estimada em cerca de R$ 3 bilhões, a "alterações das condições do mercado".

É uma referência à turbulência que a bolsa enfrentou nos últimos meses. Entretanto, desde que a operação foi lançada, em abril, as ações da Telemar nunca encostaram no patamar estabelecido pelos controladores para que a oferta ocorresse. O preço para os papéis na oferta era de R$ 2,69, o que significaria um múltiplo de 5 vezes seu lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações.

A venda das ações estava programada inicialmente para julho, foi adiada e, agora, cancelada.

A restruturação societária prevê a migração dos acionistas das empresas Telemar Norte Leste (operadora) e Tele Norte Leste para a holding Telemar Participações, que hoje não é listada em bolsa e, ao final, passará a se chamar Oi Participações. Os acionistas majoritários terão sua participação diluída. Juntos, terão 30,96% do capital da empresa, mas deixará de existir o acordo que hoje lhes permite constituir um bloco de controle.

Eles deverão se abster de vender suas ações num prazo de seis meses após a reestruturação. Embora alguns dos investidores desejem sair da Telemar, a decisão foi tomada para evitar mexer com os papéis neste momento, disse ao Valor fonte próxima à companhia.

"O mercado não estava confortável com a operação daquela forma. A vinculação da oferta e da reestruturação acabava restringindo o potencial de valorização dos papéis", disse a analista Luciana Leocádio, da BES Securities. "Mostra que o controlador quer ficar numa empresa melhor e mais líquida."

Desde o início havia quem fosse contrário a a atrelar a reestruturação societária à oferta de ações. "A oferta não deveria ter sido colocada, porque impunha uma condição aos minoritários", disse fonte ligada à Telemar.

A relação de troca das ações proposta em abril será mantida e os controladores não querem abrir mão desse quesito, pois consideram que esse é o prêmio necessário para terem o retorno mínimo desejado por eles no investimento. Essa relação ainda deve gerar alguma dor de cabeça porque os preferencialistas serão diluídos.

No desenho da operação havia dois caminhos a seguir. Uma opção era não dar tag along aos minoritários donos de ações ordinárias. "Nesse cenário, os preferencialistas não seriam tão onerados". E a outra opção, que prevaleceu, era dar o tag along. Os advogados que assessoraram a empresa e os controladores optaram pelo segundo modelo por considerar que o primeiro daria margem a questionamentos dos detentores de ações ordinárias que exigiriam o tag along a que têm direito em caso de mudança do controle acionário. Embora a empresa não esteja sendo vendida, haverá uma dispersão do bloco de controle.

A decisão de pulverizar o controle da Telemar e de desistir da segunda etapa da operação, a oferta secundária, é suficiente para resolver uma divergência importante entre os acionistas. De um lado, Andrade Gutierrez e LaFonte (grupo Jereissati) não têm pressa em se desfazer da participação que detêm. De outro, está a situação da GP. O investimento em Telemar é administrado pela GP, mas os maiores acionistas são o trio formado por Carlos Alberto Sicupira, Marcel Hermann Telles e Jorge Paulo Lemann. Os três, que fundaram a GP, deixaram a sociedade há dois anos e hoje estão em processo de dar liquidez às suas participações. A GP, segundo o Valor apurou, vinha pressionando para que a alienação do bloco de controle da Telemar fosse feita logo. E La Fonte, Andrade Gutierrez e BNDES não tinham interesse em adquirir a participação do sócio.

Para a reestruturação acontecer, ainda terá de ser submetida à votação dos acionistas da Telemar, em assembléia geral extraordinária que ainda não foi convocada. Se a operação for aprovada, a companhia terá apenas ações ordinárias e passará a ser negociada no Novo Mercado da Bovespa. Individualmente, o maior acionista será o BNDES, que detém 25% da Telemar Participações e terá 7,74% da Oi.

Segundo fonte ligada aos controladores, a pulverização é conseqüência de um estudo feito pela Telemar que indicou que a empresa tinha múltiplos inferiores aos seus pares porque, entre vários motivos, havia a percepção de desalinhamento entre os sócios. A avaliação é de que o processo levará a uma valorização dos papéis, dando saída aos atuais acionistas.