Título: Inflação de demanda não é risco para 2012, diz Barbosa
Autor: Villaverde,João
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2012, Brasil, p. A3

A demanda das famílias não é o principal fator determinante do aumento de preços no Brasil, e, por isso, pontos de impulsão da economia brasileira em 2012, como a forte elevação do salário mínimo, não preocupam o governo, afirmou ontem o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. De acordo com Barbosa, a inflação mais salgada registrada em 2011 foi resultado da combinação entre choques de preços e inércia inflacionária (indexação de contratos a índices de preços). Sem choques, o Índice nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) será muito inferior neste ano - mais de 1,5 ponto percentual inferior aos 6,5% registrados em 2011, avalia.

Barbosa participou ontem do seminário internacional Laporde, na Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), promovido em conjunto com a Universidade de Cambridge (Inglaterra). O secretário apresentou um modelo flexível da curva de Phillips para explicar a dinâmica da inflação nos Estados Unidos e no Brasil. Segundo Barbosa, os preços nos EUA são influenciados principalmente pelos choques nos preços do petróleo e pelo ritmo da demanda, enquanto no Brasil a variação do IPCA é resultado, especialmente, da taxa de câmbio real e da inércia inflacionária.

"No começo de 2011, os economistas diziam que era preciso reduzir o ritmo da economia e aumentar o superávit primário para fazer a inflação recuar", afirmou Barbosa. "Pois o avanço do PIB caiu quase 4,5 pontos percentuais, da alta de 7,5% de 2010 para algo como 3% em 2011, o superávit primário foi forte, inclusive com o adicional de R$ 10 bilhões realizado em agosto, e, mesmo assim, o IPCA saiu de 5,9% [em 2010] para 6,5%".

De acordo com o secretário, a trajetória desses indicadores é "uma clara evidência" de que a demanda não foi preponderante para o ritmo mais acelerado do IPCA, mas sim o contágio externo do aumento de preços das commodities. "Não é que a demanda não produz efeito sobre a inflação, mas suas implicações ocorrem com defasagem, por meio da inércia inflacionária", disse Barbosa.

De meados de 2010 ao início de 2011, afirmou o secretário-executivo da Fazenda, os preços das principais commodities aumentaram 66% em reais. Esse salto nos preços já começou a ser incorporado internamente no último trimestre de 2010, mas seu efeito ficou concentrado no início do ano passado. Segundo ele, a valorização do real no primeiro semestre de 2011 não foi capaz de neutralizar totalmente o aumento de preços de commodities. Além disso, o choque de preços no etanol também produziu drástico efeito sobre o IPCA.

Depois de sua participação no evento da FGV, Barbosa falou com os jornalistas. Em resposta às perguntas que lhe foram feitas, afirmou que o tamanho do pacote de contingenciamento de gastos do governo em 2012 não está definido. Segundo o secretário, é necessário que o ministro Guido Mantega se reúna com a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, e com a ministra Gleisi Hoffmann, da Casa Civil. A decisão deve ser anunciada entre o fim de janeiro e o início de fevereiro, segundo ele.

Para Barbosa, as perspectivas do Ministério da Fazenda de um crescimento mais acelerado do PIB em 2012, que estão entre 4% e 5%, são compatíveis com o cumprimento do superávit primário. "Com a atividade econômica crescendo mais, a arrecadação da Receita tende a acelerar. Houve também a diminuição dos gastos com pessoal para dar conta do impacto do aumento do salário mínimo e cumprir a meta cheia do superávit", disse ele.

Esse crescimento do PIB será sustentado, de acordo com o secretário, por medidas que vêm sendo tomadas desde 2011. "Já foram adotadas medidas de estímulo, como o aumento do salário mínimo, a redução da taxa de juros e o relaxamento das medidas macroeconômicas", enumerou. Segundo Barbosa, a Fazenda ainda espera que o PIB em 2011 feche com crescimento de 3,2%, apesar de as expectativas do mercado apontarem para um índice inferior a 3%.

Na visão da Fazenda, o cenário para a inflação em 2012 é melhor que o do ano passado. Barbosa não afirmou se a inflação convergirá para o centro da meta, de 4,5%, em 2012, mas acredita que ela ficará abaixo de 5%. "A inflação ficará abaixo de 5%. Não deve se repetir o aumento do preço do etanol que ocorreu no ano passado, por exemplo, pelo menos não na mesma proporção. Alguns fatores que puxaram para cima a inflação em 2011 não devem se repetir", disse. "Mas sempre há novos fatores", alertou Barbosa.