Título: Investimento menor prejudica defesa, diz Guedes
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2006, Agronegócios, p. B12

Numa análise rigorosa dos vários níveis de responsabilidade pelas ações de defesa agropecuária, o ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, afirma que o país paga o preço da redução de investimentos na área. "Muitos Estados reduziram recursos para a defesa e fecharam 'Emateres'. Estão tomando consciência hoje do tamanho do prejuízo, como no caso de Mato Grosso do Sul", disse ao Valor.

Responsável pela formulação de políticas e auditoria da sua execução, Guedes afirma que o combate à febre aftosa depende de todos. "Se todos vacinassem, reduziríamos. Não é justo se cobrar só do setor público ou do governo federal. Os recursos estão aquém do desejável porque são limitados", avalia. E reclama dos Estados. "Não quero acusar, mas neste ano nove Estados sequer apresentaram projetos e outros três não poderemos pagar porque não fizeram prestação".

De acordo com ele, é preciso agir "integrados com outros países". Ele informou que assinou convênio com FAO e IICA para um programa continental de combate a doenças animais e vegetais transfronteiriças. "Aftosa é prioridade e ponto de apoio".

Guedes também negou interferências políticas, disse que o rebanho é grande e tem uma forte questão econômica de "alguns reais a mais por arroba". "Não adianta dizer que o Paraguai é ou não é [exportador de aftosa]. Não vai ajudar, ao contrário". E informou que têm sido ampliado os recursos para a defesa e foram contratados 1.034 fiscais desde 2001.

Sobre outra polêmica recente, em que teve um papel destacado nos bastidores do governo, o ministro Guedes defendeu a intervenção do conselho de ministros na operacionalização da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). "A função da CTNBio é analisar do ponto de vista técnico os impactos e efeitos da biotecnologia. Havia muitas discussões colaterais, inclusive de ordem formal, de procedimentos internos, pedidos de vista, inversão de pauta. A função dela é analisar se há risco e quais são dessa demanda", afirmou. Segundo ele, havia "postergação" da análise técnica com o levantamento de outras questões.

O ministro da Agricultura também não descarta a redução do quórum mínimo para aprovação comercial de transgênicos pela CTNBio. "A decisão é aguardar o que vai acontecer com as novas recomendações do conselho. A CTNBio tem 27 membros e em quatro reunião a presença máxima chegou a 22. Então, vamos avaliar isto [redução do quórum]", afirma o ministro.

Guedes defendeu que o tema não pode ser debatido com discussões "subjetivas e emocionais, mas técnicas e científicas". Sobre os detratores dos transgênicos, é mais duro: "O que se vê muito nesses movimentos [de oposição aos transgênicos] que conheço bastante é que estas discussões não são com fundamentação técnicas ou científicas. Muita gente nem sabe o que é um transgênico. A pessoa sai com bandeira na rua [contra] e põe na veia a insulina". (MZ)