Título: Convenção do PMDB acentua divisões e adia reforma ministerial
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 10/12/2004, Política, p. A6

O afastamento do PMDB da base do governo deverá ser aprovado na convenção marcada para este domingo, em Brasília, aprofundando a convulsão dentro da legenda que enfraqueceu todos os possíveis interlocutores da sigla junto ao Palácio do Planalto. Auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliam que a ampliação do espaço do PMDB dentro do governo e as discussões para uma coalizão em 2006 ficam arquivadas até o partido voltar a ter lideranças. A nova orientação já deve ficar clara na reunião ministerial que ocorrerá hoje e amanhã, na Granja do Torto, com toda a equipe do presidente. Inicialmente, a reunião era vista como marco para uma nova reforma ministerial. Poderá perder este caráter. A pulverização do comando pemedebista também não assegura a candidatura própria, outro ponto que consta da pauta da convenção. Possíveis presidenciáveis, como os governadores Jarbas Vasconcelos (PE) , Germano Rigotto (RS) e Roberto Requião (PR), e o ex-governador Anthony Garotinho (RJ), não têm apoio congressual para construírem seu projeto para 2006. Vencedor da contenda com os governistas, o presidente do partido, Michel Temer, deverá ver a decisão da convenção ser desrespeitada pela bancada e pelos ministros da sigla. Ontem, representantes das diversas alas do partido retomaram o diálogo, já em busca de uma reconstrução a partir da segunda-feira. O governador Joaquim Roriz (DF), esteve com o presidente do Senado, José Sarney (AP) e o líder do governo na Casa, Renan Calheiros (AL), conversou por telefone com Temer. Há um esforço dos oposicionistas em afirmar que não irão propor a expulsão da parte perdedora e dos governistas em que não se empenharão para tirar o quórum da convenção. Da tribuna do Senado, o senador Pedro Simon (RS), da ala que prega o afastamento, sugeriu uma aplicação branda do resultado da convenção que exigirá que os ministros deixem seus cargos. O gaúcho sugere que o titular da pasta das Comunicações, Eunício Oliveira, e da Previdência, Amir Lando, tenham sua filiação suspensa enquanto estiverem no ministério, à semelhança do que o PT fez com a então filiada Luiza Erundina, quando esta foi ministra no governo Itamar Franco. Governista, o senador Ney Suassuna (PB) afirmou que a solução poderia ser examinada. Outra hipótese é derrubar, no encontro, em que só os aliados de Temer comparecerão, a proposta do ex-governador de São Paulo, Orestes Quércia, de impedir o direito à divergência da decisão da convenção. Os convencionais também irão deliberar, e devem rejeitar, a proposta de mudança da sigla de PMDB para MDB. A hipótese da convenção não atingir quórum é muito remota. Sem considerar os Estados onde há divisão de convencionais, a ala do presidente do partido já parte com a garantia de presença de 44% dos votantes. Como a maioria dos convencionais de Minas Gerais e do Espírito Santo deve comparecer, o quórum de 260 presentes é muito provável. Nem mesmo no Ceará do ministro Eunício Oliveira a ausência deverá ser completa. Os aliados de Temer esperam que o prefeito de Fortaleza, Juraci Magalhães , rival de Eunício na luta para controlar o partido, comande uma pequena dissidência. O número de votos é diferente do de convencionais porque no PMDB uma mesma pessoa pode votar até quatro vezes, dependendo da sua representação política: uma vez como delegado, outra como senador ou deputado, outra como membro do Diretório Nacional e outra como membro do Conselho Nacional. O amazonense Gilberto Mestrinho, por exemplo, é delegado, senador, membro do Conselho e membro do Diretório e vota quatro vezes, sendo o único convencional de seu Estado.