Título: CPI negocia citação de tucanos em relatório
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 10/12/2004, Política, p. A7

A finalização da Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga a evasão de divisas no país - a CPI do Banestado - trouxe novo nervosismo ao meio político. Por acordo negociado na noite de quarta-feira entre parlamentares governistas e de oposição, decidiu-se adiar, para a próxima terça-feira, a divulgação do relatório final do deputado José Mentor (PT-SP). A oposição deixou claro aos líderes do governo que o clima no Congresso será de pura tensão dependendo do conteúdo do relatório. Isso impossibilitaria, por exemplo, a votação, ainda neste ano, do projeto de lei que cria normas para as Parcerias Público-Privadas (PPPs). Dirigentes do PSDB e PFL afirmaram que não aceitariam "qualquer menção desabonadora" no relatório referente ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao ex-ministro da Fazenda Pedro Malan e aos ex-presidentes do Banco Central Gustavo Franco e Armínio Fraga. Tucanos e pefelistas receberam a garantia de representantes do governo de que isso não ocorrerá. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, já foi informado da situação. Dirigentes do BC também podem ser citados no relatório, como o ex-diretor de Política Monetária Luiz Candiota, e o diretor de Assuntos Internacionais, Beny Parnes. Segundo relato de parlamentares que participaram do acordo pelo adiamento, um parecer irresponsável de Mentor, expondo atuais ou ex-dirigentes do BC, pode ter efeitos nefastos, tanto na política, quanto no mercado. A intenção é que José Mentor faça um relatório mais protocolar, dedicado em grande parte a recomendar mudanças no sistema de funcionamento e fiscalização da contas CC5. Nomes evidentemente serão mencionados, mas a ordem é reduzir o grau de polêmica. A CPI do Banestado reuniu-se ontem ao final da manhã, com o compromisso de que Mentor apresentaria o relatório. Sob a alegação de que não houve tempo hábil para operacionalizar a impressão dos relatórios - são 600 páginas de parecer e quase 400 de documentos anexos -, a reunião foi adiada para a próxima semana. Mentor prometeu entregar 34 cópias aos integrantes da CPI na segunda-feira à noite. O senador Heráclito Fortes (PFL-PI) é contra a idéia. "Ninguém vai estar aqui segunda, nove horas da noite, para receber o relatório. Tem que ser feito à luz do dia, na reunião da CPI. E vamos exigir os cinco dias para analisar o relatório", avisou. A líder do PT no Senado, Idely Salvati (SC), que solicitou o adiamento da reunião, insistiu na tese de que o problema foi técnico. "Não houve tempo para imprimir", disse. Caso Mentor insista em apresentar um relatório detalhado, citando nomes e sugerindo indiciamentos de dirigentes do BC e políticos, o PSDB já traçou uma estratégia. O presidente da CPI, senador Antero Paes de Barros (MT), vai apresentar outro relatório, citando nomes que incomodam aos petistas. Tudo será decidido no voto. A lógica dos tucanos é a seguinte: mesmo que o relatório de Antero seja derrotado, ele será encaminhado da mesma forma ao Ministério Público. Ou seja, é dor de cabeça na certa.