Título: Gasto com juro da dívida cai R$ 1 bi
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2006, Finanças, p. C1

A agressiva política de acúmulo de reservas e de pagamento da dívida externa começa a ter os seus primeiros efeitos sobre as contas externas. Os gastos líquidos com juros da dívida, um item que historicamente pesa muito nas contas correntes, sofreram redução de R$ 1,039 bilhão nos primeiros sete meses do ano.

Segundo dados do Banco Central, os gastos líquidos com juros ficaram em US$ 6,901 bilhões de janeiro a julho de 2006, ante US$ 7,940 bilhões no mesmo período de 2005. A redução foi possível graças, principalmente, à ampliação das reservas, que reforça a receita do BC em aplicações no exterior. Mas também começa a ser notado o efeito da redução da dívida, sobretudo a pública.

As receitas com juros saltaram de US$ 1,261 bilhão para US$ 3,023 bilhões, na comparação entre os primeiros sete meses de 2005 e de 2006. O crescimento foi tão expressivo que, devido apenas a esse fator, o BC reviu suas projeções para o saldo em conta corrente neste ano, de US$ 7,8 bilhões para US$ 8,8 bilhões.

O BC projetava uma receita de US$ 2,7 bilhões com juros. Foi obrigado a rever para US$ 3,7 bilhões, rendendo-se ao fato de que, de janeiro a julho, o ingresso chegou a US$ 3,023 bilhões. Não será surpresa se o BC voltar a mudar a projeção, pois, mantido o ritmo atual, os ingressos devem chegar a US$ 5 bilhões.

Por trás desse forte acréscimo nas receitas com juros está o aumento das reservas. No início deste ano, elas se encontravam-em US$ 53,799 bilhões e, pelo posição referente a anteontem, chegaram a US$ 69,999 bilhões.

O lado negativo é que, ao mesmo tempo em que o governo aumenta as receitas em dólar, paga mais juros internamente, onde as taxas são mais elevadas. O acúmulo de reservas é feito à custa do aumento da dívida interna.

Outro fator que leva ao menor pagamento de juros são as amortizações feitas pelo Tesouro na dívida. "Até há pouco tempo, isso não aparecia na estatísticas, porque quando é feito o resgate do principal, também ocorre a antecipação dos juros", diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Em julho já houve uma ligeira queda na despesa bruta com juros, que foi de US$ 1,474 bilhão, ante US$ 1,562 bilhão no mesmo mês de 2005. A tendência é que a despesa fique ligeiramente menor no resto do ano. A projeção do BC é que sejam pagos US$ 5,304 bilhões de agosto a dezembro, ante US$ 5,526 bilhões no mesmo período de 2005.

Essa queda da despesa é resultado da redução do endividamento externo - que em 2003 era de US$ 214,930 bilhões, em 2005 havia fechado em US$ 169,450 bilhões e, em julho, estava em US$ 156,495 bilhões.

Ao mesmo tempo em que a despesa com juros cai, porém, os lucros e dividendos ganham importância. De janeiro a julho, ficaram em US$ 9,714 bilhões, ante US$ 6,799 bilhões no mesmo período de 2005. Em julho, as saídas líquidas ficaram em US$ 864 milhões, o que significa que perderam força em relação aos meses imediatamente anteriores. Mas ainda estão altos em relação a julho de 2005, quando somaram US$ 681 milhões.

As contas correntes registraram em julho um superávit de US$ 3,049 bilhões, numa leve recuperação em relação aos meses anteriores, graças às exportações. O superávit acumulado em 12 meses subiu de 1,41% para 1,45% do Produto Interno Bruto (PIB) entre junho e julho.