Título: Nossa Caixa contesta Santander Banespa
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2006, Finanças, p. C3

A disputa pelas contas dos funcionários públicos de São Paulo subiu de tom, ontem, quando o Banco Nossa Caixa contestou informações prestadas na véspera pelo Banco Santander Banespa.

No centro da briga estão as contas de 1,164 milhão de funcionários públicos do governo de São Paulo. Com uma renda média de R$ 1,6 mil e estabilidade no emprego, eles constituem um nicho bastante cobiçado. Pelo acordo de privatização do Banespa, o pagamento do salário desses funcionários passará para ser feito pela Nossa Caixa a partir de 1º de janeiro. Esse contingente representa cerca de 10% da carteira de clientes de cada um dos dois bancos.

O Santander Banespa informou os servidores que não precisariam abrir conta corrente na Nossa Caixa para receber o pagamento e sim apenas ter uma conta-salário no banco estadual, pela qual não é cobrada tarifa e que dá direito a uma transferência mensal gratuita. O Santander até anunciou que vai pagar os custos de remessa dos recursos caso os servidores caíssem "na esparrela" de abrir conta corrente no banco estadual.

O presidente da Nossa Caixa , Carlos Eduardo Monteiro, disse que a regra prevista na Resolução 2.718 do Banco Central, de 24 de abril de 2000, não é essa. Segundo ele, "é facultado ao banco abrir conta-salário para os clientes, desde que haja um acordo com os empregadores que se responsabilizam em caso de fraudes ou outros problemas". O governo estadual não faria isso, segundo ele, porque tem seu próprio banco.

"Aceito a briga comercial que está certa. Pior é quando o concorrente deturpa", afirmou Monteiro, lembrando que funcionários do Santander Banespa distribuíram "panfletos" nas portas das 40 agências que a Nossa Caixa abriu no sábado sugerindo a abertura da conta-salário.

Monteiro afirmou que os números de contas de funcionários estaduais divulgados pelo Santander Banespa não estão corretos. Para comprovar o que disse, mostrou no seu computador a tela em que monitora diariamente em qual dos dois bancos os servidores recebem seu salário. Ontem ela exibia o seguinte placar: Nossa Caixa, 668.366 pagamentos; Santander Banespa, 495.661. Desde abril, diz a Nossa Caixa, migraram espontaneamente 152,6 mil clientes. Desde o início do mês, quando decreto do governador orientou os servidores a abrirem escalonadamente conta na instituição, 57 mil foram abertas. Um total de 740 mil servidores estaduais teriam conta na Nossa Caixa.

No dia anterior, em entrevista à imprensa, o Santander Banespa havia informado que 650 mil servidores recebiam o salário no banco e 850 mil tinham conta na instituição.

A assessoria de imprensa do Santander Banespa informou "que o banco não discutirá nenhum assunto com outro banco, pela imprensa, até porque sabe, com toda certeza que, nesse caso específico, ninguém melhor que o próprio servidor público do Estado de São Paulo saberá decidir, ele mesmo, com quem quer manter seu relacionamento bancário, sem pressões de nenhum tipo".

A Nossa Caixa também contestou a afirmação do Santander de que tem uma rede duas vezes e meia superior. Monteiro informou que o banco está presente em todos os 645 municípios do Estado, diretamente ou por meio de correspondentes bancários.

A batalha chegou também ao front dos produtos: a Nossa Caixa oferece juros mais atraentes e o Santander um cartão sem anuidade e que dá desconto de 2% das compras em supermercados e postos de gasolina.