Título: Icatu cria produto focado em risco de crédito privado
Autor: Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2006, Finanças, p. C4

De olho na disposição que os fundos de pensão têm demonstrado para trocar gradualmente títulos do governo pelos de empresas, a área de gestão da Icatu criou um fundo focado exclusivamente em ativos de crédito do setor privado, o Icatu Hartford Credit. Segundo Paulo Stockler, diretor comercial da área de asset management da Icatu, a idéia é aproveitar a expertise que a casa já tinha na seleção de ativos privados com perfil de longo prazo para as carteiras e oferecer um produto focado para os investidores institucionais que já começam a buscar alternativas vislumbrando cenário de queda do juro real.

Segundo o executivo, do patrimônio total de R$ 4,2 bilhões na Icatu, já há R$ 500 milhões alocados em ativos de crédito privado. "Então, achamos que estava na hora de fazer um produto que seja focado especificamente nisso", completa o executivo. O Icatu Credit tem como objetivo ter pelo menos entre 80% e 90% da carteira alocada entre os mais diversos tipos de títulos privados disponíveis hoje no mercado local. Além de debêntures e notas promissórias, podem entrar na carteira cotas de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) e Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), entre outros papéis.

Stockler explica que o fundo vai ter normas e políticas de risco muito bem definidas, além de uma regra que só permite o resgate com aviso prévio de 20 dias úteis. Isso porque o mercado secundário ainda é muito pouco líquido e o resgate imediato engessaria a gestão.

"Houve alguns problemas no passado com ativos de risco de crédito que acabaram gerando perdas, mas explicamos que estamos adotando uma política de governança rígida, com diversificação e limites de crédito por emissor, tipo de ativo e setor, além de análise criteriosa de rating", diz ele. Hoje, o fundo conta com patrimônio de R$ 83 milhões e possui ativos de 27 emissores diferentes na carteira.

O diretor de gestão da Icatu, Theodoro Messa, lembra que a formatação do fundo está ocorrendo agora também porque só recentemente o mercado local começou a ter volume de ativos suficiente para pensar num produto desse tipo. "Com uma gama maior de emissões já começou a ser possível pensar nesse produto, o que precisamos agora é ter um mercado secundário com mais liquidez, por isso torcemos para que apareçam outros produtos como esse, que ajudarão nesse processo", avalia Messa. Ele acrescenta que, apesar da falta de liquidez, o fundo terá regras de marcação a mercado para a contabilização diária das cotas. "Isso fica a cargo do administrador, que é a Mellon e que tem um manual próprio de marcação que será seguido", diz.

O gestor da Icatu admite que a revisão que a CVM está realizando na Instrução 409 - que reúne as regras relativas aos fundos de investimentos - pode fazer a casa ter de revisar o formato do fundo. Um dos focos da atualização da regra é justamente a questão dos limites de risco de crédito por emissor.