Título: Interino fica até outubro
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 18/09/2010, Política, p. 2

Carlos Eduardo Esteves Lima deve seguir à frente da Casa Civil no período que antecede as eleições. Erenice Guerra tem que deixar a residência oficial

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve aplicar à Casa Civil a máxima de que em meio a um terremoto, o melhor é se mexer o mínimo possível. Por isso, o substituto efetivo da ex-ministra Erenice Guerra só deve ser escolhido depois das eleições. A informação de assessores próximos de Lula é de que ele pretende manter Carlos Eduardo Esteves Lima à frente da pasta de forma interina, pelo menos até 4 de outubro. Caso a eleição vá para o segundo turno, o novo titular do quarto andar do Palácio do Planalto só será divulgado em novembro.

A decisão prévia de Lula foi traçada porque não há, por hora, nenhuma necessidade de substituir emergencialmente Erenice. Os principais trabalhos tocados pela Casa o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a coordenação de outras iniciativas do governo federal, incluindo o processo de transição já estão entregues a Miriam Belchior e Esteves Lima, respectivamente. Os nomes de Miriam e do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, estão descartados, pelo menos por enquanto.

A gerente do PAC não pretende assumir a pasta no apagar de luzes do governo. Já Bernardo deve atuar na campanha da mulher, a deputada Gleisi Hoffmann (PT), candidata ao Senado pelo Paraná. Por isso, não teria tempo para coordenar os trabalhos da Casa Civil. Segundo relatos de um assessor próximo a Lula, Bernardo também deve ser preservado para um futuro governo Dilma, o que recomendaria não colocar o titular do Planejamento no epicentro de um terremoto político.

A avaliação de Lula é de que também não faria sentido nomear um novo ministro a três meses do fim do governo e às vésperas das eleições. Se Dilma Rousseff (PT) vencer a disputa presidencial, ela escolherá, com o atual presidente, o novo titular da pasta. Caso vença José Serra (PSDB), a tendência é de que Esteves Lima complete o mandato e figure como peça-chave no processo de transição. Antes de ocupar a Secretaria Executiva da Casa Civil, para a qual foi nomeado em abril, ele havia sido subchefe adjunto de Análise e Acompanhamento de Políticas Governamentais, secretário adjunto de Previdência Complementar, interventor do Fundo de Previdência Privada do Banco do Brasil (Previ) e inventariante da Legião Brasileira de Assistência (LBA) durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

Imóvel funcional

Com a publicação da exoneração no Diário Oficial da União de ontem, Erenice Guerra terá 30 dias para deixar o imóvel funcional que ocupava na Península dos Ministros (QL 12 do Lago Sul). A residência já tinha servido à antecessora, Dilma Rousseff, e a José Dirceu. Depois de entregar a carta de demissão ao presidente Lula, na quinta-feira, Erenice se despediu dos assessores mais próximos, que ficaram responsáveis por recolher seus pertences, e retornou à residência oficial. Ela ainda não informou quando pretende entregar o imóvel.

O NÚMERO

7.601.553

Eleitores no estado do Paraná, segundo o TSE

ENTENDA O CASO

Semana de calvário

O calvário de Erenice Guerra à frente da Casa Civil teve início há uma semana, quando a revista Veja trouxe reportagem com denúncias de tráfico de influência envolvendo o filho da ex-ministra Israel Guerra e servidores de sua confiança na pasta. Israel teria cobrado comissão da MTA Linhas Aéreas para renovar a concessão da empresa na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Com o aval da Anac, a empresa conseguiu firmar cinco contratos com os Correios, no valor de R$ 59,8 milhões. Um deles, de R$ 19,6 milhões, teria sido assinado sem licitação.

A série de denúncias foi reforçada pelo Correio, durante a semana, em reportagens que relataram tráfico de influência por parentes da ex-ministra no setor de mineração, incluindo concessões de lavras para pesquisa de minérios em Planaltina (GO). O jornal também mostrou que uma auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) apontava José Euricélio Alves de Carvalho, irmão de Erenice, como responsável pelo suposto desvio de R$ 5,8 milhões da editora da Universidade de Brasília (UnB).

Outra denúncia da influência da ex-ministra sobre a administração pública foram as nomeações de Israel para a Terracap e de Euricélio para a Novacap. Ambos foram apontados como funcionários fantasmas por servidores dos dois órgãos. Na quinta-feira, o jornal Folha de S. Paulo trouxe denúncia do lobista Rubnei Quícoli, de que Israel teria pedido comissão para liberar um empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a Campinas EDRB, no valor de R$ 2,25 bilhões, destinados à construção de um parque solar no Nordeste. Para intermediar o negócio, Israel teria utilizado a firma Capital Assessoria, que está registrada em nome do irmão Saulo Guerra e de Vinícius Castro, assessor de Erenice na Casa Civil. (II)