Título: Nova demissão e acerto de rumos
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 18/09/2010, Política, p. 2

Enquanto um terceiro integrante do suposto esquema de tráfico de influência na Casa Civil deixava o cargo ontem, o comando de campanha petista traçava a estratégia para se descolar do caso

O escândalo de tráfico de influência que derrubou Erenice Guerra da Casa Civil levou mais um funcionário do Palácio do Planalto a ser demitido e colocou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de prontidão para se empenhar ainda mais pela campanha da presidenciável petista Dilma Rousseff. Sem ainda conseguir medir o tamanho do impacto da demissão de uma antiga auxiliar por denúncia de irregularidade, a candidata reuniu-se em São Paulo com os principais assessores para formular a estratégia da reta final da corrida pelo Planalto. Diante de um cenário incerto, uma frase que antes era tida como proibida passou a ser ensaiada pela cúpula da campanha: possibilidade de segundo turno.

Depois de gravar cenas para o programa eleitoral, Dilma reuniu-se em um hotel com os deputados do PT José Eduardo Cardozo e Antonio Palocci, discutiu o impacto eleitoral do caso e ajustes de agenda para a próxima semana. A ordem é reforçar a comparação entre os governos, mostrando inclusive que demissões de ministros ocorrem em todos. Pode aparecer, inclusive, a lista dos titulares de pastas que caíram por corrupção de 1995 a 2002, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Além disso, a ordem é mostrar fragilidades resultantes do que chamam de desespero de José Serra e usar a carta mestra do jogo eleitoral: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A nossa meta é ganhar as eleições, seja em 3 de outubro ou 31 de outubro. Primeiro ou segundo turno é uma questão de aritmética. Se não tivermos votos suficientes, vamos lutar para vencer depois, afirmou o presidente do PT, José Eduardo Dutra. Mas, nesse momento, vamos reforçar a imagem de sucesso do governo, a biografia da Dilma e a vinculação com o presidente, emendou o dirigente, que também é coordenador-geral da campanha.

A figura de Lula, que desponta como o principal e mais eficiente cabo eleitoral da campanha, servirá para desidratar o escândalo que levou à demissão de Erenice, ex-principal auxiliar de Dilma quando ela chefiava a Casa Civil. A campanha, no entanto, não pretende fazer um ajuste de trajetória já no início da próxima semana, quando faltarão menos de duas semanas para o dia da votação. Levar o escândalo para o programa de televisão, segundo a lógica dos coordenadores, seria agir contra a estratégia até agora adotada, de jogar Erenice no colo do governo e espanar a ex-ministra de perto de Dilma.

Não temos por que mudar nada. Vamos manter uma campanha propositiva, fazendo as comparações. Vamos fazer o nosso jogo, afirmou Cardozo. As pesquisas internas do partido não captaram qualquer movimento brusco do eleitorado em função dos dois mais recentes escândalos da Receita Federal e Erenice Guerra e a pesquisa mais recente do Ibope(1), divulgada ontem, mostrou que a vantagem da petista cresceu. Para Cardozo, o eleitor sabe diferenciar a maneira desesperada do principal adversário de Dilma, o tucano José Serra. Não há nada que abale frontalmente a campanha, afirmou. Demissões de ministros ocorrem em todos os governos. Não estamos acobertando nada. Estamos incentivando as investigações, emendou.

Além das medidas na campanha, o governo decidiu tomar ações administrativas para blindar a Casa Civil. O chefe interino da pasta, Carlos Eduardo Esteves, assinou portaria criando comissão de sindicância para apurar em 30 dias os fatos relacionados a servidores públicos da pasta acusados de tráfico de influência.

Demissão

O funcionário da Casa Civil Stevan Knezevics foi demitido ontem. Como é servidor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), volta ao órgão de origem. A exoneração será publicada no Diário Oficial a pedido, como tornou-se praxe nesse episódio. Os cofres públicos não economizam com o salário do servidor, já que quem bancava o custo mensal de Knezevics era a Anac. Ele estava cedido ao Palácio do Planalto desde setembro de 2009, trabalhava no Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), ligado à Casa Civil.

Knezevics era amigo de Vinícius Castro, ex-funcionário da Casa Civil exonerado no início da semana, citado no caso de tráfico de influência. Os dois aparecem como personagens do suposto esquema que teria sido montado por Israel Guerra, filho de Erenice, para vender benefícios do governo a empresários. Knezevics era apontado ainda como facilitador com o Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

1 - Tendência mantida

Realizada entre 14 e 16 de setembro, durante o período de efervescência do caso de Erenice, a pesquisa do Ibope divulgada ontem aponta que Dilma Rousseff (PT) lidera a disputa com 26 pontos percentuais de vantagem sobre José Serra (PSDB). Dilma tem 51% das intenções de voto, contra 25% de José Serra e 11% de Marina Silva. Em relação à última sondagem, Dilma manteve o percentual, Serra perdeu dois pontos e Marina ganhou três. O Ibope ouviu 3.010 eleitores em 205 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais. A pesquisa foi registrada no TSE sob o nº 30.271/2010.

O NÚMERO

Faltam

15 dias

para o 1º turno