Título: Número de categorias com aumento real superior a 3% dobra em 2006
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2006, Brasil, p. A2

Pelo terceiro ano consecutivo os trabalhadores brasileiros conseguiram bons acordos salariais. No primeiro semestre deste ano, nada menos do que 95,6% das negociações deram ganhos iguais ou superiores à inflação acumulada nos 12 meses anteriores à data-base. Foi o melhor resultado para o período desde 1996, início da pesquisa. Dessa vez, dobrou o percentual de categorias que recebeu reajustes mais expressivos. Em 2006, 8% das negociações deram mais de 3% de aumento real, enquanto no ano passado esse número foi de 4,3%.

A pesquisa, contudo, também mostra que os acordos continuam estreitando as diferenças salariais, mas que isso ocorre pelo achatamento das faixas superiores. A prática do escalonamento, que restringe a correção salarial às faixas menores ou fixa percentuais menores para salários maiores, aumentou para 12% do total dos acordos. Em 2005, o percentual era de 5%.

Segundo José Silvestre de Oliveira, supervisor do escritório regional do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese ), entidade que realizou o levantamento, isso reflete o esforço dos sindicatos para valorizar rendimentos menores e estreitar as diferenças salariais. Mas também pode achatar os salários mais altos, já que os empregados de maior nível hierárquico negociam separadamente.

Oliveira diz que os resultados de 2006 refletem um cenário mais favorável. Uma inflação mais baixa e a perspectiva de maior crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ajudaram os acordos, explica o supervisor do Dieese. Os trabalhadores no setor de borracha do Estado de São Paulo foram alguns dos beneficiados pela inflação mais baixa. Com data-base em junho, os 42 mil trabalhadores do setor conseguiram um eajuste de 5%, o que representou um ganho real de 2,25%.

Na avaliação do supervisor, a tendência do segundo semestre deve ser a mesma vista no começo deste ano. "No balanço final do ano, deveremos ter 100% das categorias com a reposição integral das perdas causadas pela inflação", projeta Silvestre.

O levantamento do primeiro semestre mostrou que os melhores resultados foram obtidos pelo comércio. Tradicionalmente, é a indústria o ramo mais forte nas negociações. Neste ano, 91,1% das negociações no comércio deram um ganho real aos trabalhadores. No ano passado, esse número ficou em 72,5%. No ramo industrial, em 2006, 83,8% dos acordos pagaram mais do que a inflação, diante de 77,9% em 2005.

Contudo, o supervisor do Dieese não acredita que essa mudança se confirme no resultado do ano. Ele espera que a indústria volte a ser o setor com melhores acordos até o fim do ano. Só no Estado de São Paulo, por exemplo, 95% dos trabalhadores do setor industrial tiveram ganhos reais. E, segundo ele, a maioria das categorias paulistas têm data-base no segundo semestre, o que possibilitará mudança nos números dessa atividade.

A quantidade de abonos e parcelamentos dos reajustes salariais caiu neste semestre. "É mais um sinal de melhora do mercado de trabalho. É possível conceder aumentos reais de uma só vez, evitando o abono e o parcelamento", diz Oliveira.