Título: Presidente do Conselho de Ética do Senado recua e mantém processos
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2006, Política, p. A5

Pressionado por colegas, o presidente do Conselho de Ética do Senado, senador João Alberto Souza (PMDB-MA), recuou da idéia de engavetar as acusações contra os três senadores suspeitos de envolvimento com a máfia das ambulâncias. Na quarta-feira, ele havia desqualificado as provas colhidas pela CPI das Sanguessugas e praticamente adiantou posição contrária à abertura de processo para apurar o possível envolvimento de Ney Suassuna (PMDB-PB), Serys Slhessarenko (PT-MT) e Magno Malta (PL-ES). Ontem, o tom das declarações do afilhado político do ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP) era bem diferente.

"A minha tendência é indicar os três relatores dos processos. Eles vão apurar o que realmente aconteceu. Meu ânimo é de não arquivar. Não vai haver pizza coisa nenhuma", disse João Alberto, acuado desde a noite de quarta-feira, quando suas primeiras declarações começaram a ser divulgadas.

Naquela noite, o vice-presidente do Conselho de Ética do Senado, Demóstenes Torres (PFL-GO), telefonou para o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). "Vou ao Supremo Tribunal Federal para garantir a abertura dos processos. João Alberto não pode tomar uma decisão sozinho assim. Vou até o fim", disse o pefelista a Renan.

A pressão partiu também do padrinho Sarney. O ex-presidente ligou para João Alberto e o repreendeu. O engavetamento com o carimbo de Alberto atingiria a campanha de todos os aliados dos Sarney. O próprio presidente do Conselho é candidato a vice na chapa de Roseana Sarney ao governo do Maranhão. João Alberto entendeu bem o recado. "Fica muito ruim para mim, candidato que sou. Não vou arquivar coisa nenhuma", disse ontem. O senador deu prazo para os três acusados apresentarem defesa até segunda-feira. Na terça, decidirá se abre ou não inquérito. No dia seguinte deverá escolher os relatores, caso o processo seja instaurado. Ele dará 30 dias para os relatores investigarem os colegas e firmarem juízo. Dificilmente Malta, Suassuna e Serys serão cassados. Os três são da base aliada, maioria dentro do Conselho.

João Alberto é afilhado antigo de Sarney. E não esconde o relacionamento próximo com o ex-presidente. No ano passado, o senador afastado João Capiberibe (PSB-AP) havia atribuído a Sarney a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de cassá-lo. Alberto enfureceu-se. Bateu boca com Capiberibe e partiu para cima do colega. Teve de ser segurado por outros parlamentares. "Sempre que alguém fala mal do Sarney no plenário, ele sai do gabinete e corre para defendê-lo. Ele não é Sarney. Ele é supersarney!", brincou um influente senador pefelista.

Em 2003, o Conselho de Ética engavetou representação contra o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). O pefelista esteve perto de perder o mandato em função do episódio dos grampos da Secretaria de Segurança Pública da Bahia. Naquela ocasião, João Alberto votou a favor do cacique baiano, seguindo estratégia de Sarney.

Em 2004, durante o debate sobre a reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado, João Alberto bateu de frente com Renan Calheiros. Sarney presidia o Senado na época. Calheiros postulava o cargo. Quando a Executiva do PMDB decidiu não votar a favor da reeleição, João Alberto recorreu ao Conselho Nacional do partido.

A fama de falastrão de Alberto corre o Maranhão. Há algumas semanas, foi perguntado sobre um estudo divulgado no estado sobre as moradias dos maranhenses, em que constatou-se que mais de um milhão de pessoas moram em casas com telhado de folha de coqueiro. Alberto afirmou que esta era uma questão "cultural", em função do calor da região. O candidato do PSB ao governo, Edson Vidigal, colocou no seu programa eleitoral imagens da mansão em que mora o senador e moradores dessas residências humildes perguntando se João Alberto não gostaria de morar no local onde eles vivem. O senador ficou marcado no Senado pela relatoria da CPI dos Bancos.