Título: Alckmin centraliza e tenta estancar crise
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2006, Política, p. A6

O presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen, apoiou ontem a transferência para São Paulo do comando de campanha do candidato a presidente Geraldo Alckmin (PSDB). Para o pefelista, essa é a melhor maneira de integrar o conselho político com o marketing da campanha tucana. "Não existe conflito. É uma idéia para melhorar o rendimento", disse.

O divórcio entre as duas equipes ameaça aprofundar uma crise latente na campanha, no momento em que as pesquisas internas da coligação PSDB-PFL apontam para realização de um segundo turno na eleição presidencial. A principal crítica é ao marqueteiro Luiz Gonzáles, que não participa das reuniões do conselho para discutir a estratégia eleitoral.

Na última reunião desse conselho ficou decidida a transferência do comando da campanha. Como Alckmin mora em São Paulo e terá de ficar pelo menos dois dias na cidade para a gravação do programa de televisão, ficou decidido que era mais fácil o conselho se deslocar até São Paulo do que Gonzáles, também encarregado da campanha de José Serra a governador, vir a Brasília para as reuniões.

Bornhausen defendeu a integração entre o marketing e o político. "Tem coisas que nós não entendemos e tem coisas que são dos políticos, é importante que haja essa simbiose". Os marqueteiros têm os grupos de pesquisa, é os políticos "a percepção, o sentimento do que está batendo na rua, no corpo-a-corpo - é boa essa simbiose", disse Bornhausen. "Não existe conflito. Nós temos que aproveitar a melhor maneira de melhorar o rendimento".

O presidente do PSDB, Tasso Jereissati, também disse que o marqueteiro Luiz Gonzáles tem carta branca do partido para seguir a estratégia que julgar mais adequada à campanha.

Tanto Bornhausen quanto Tasso, na realidade, tentam estancar uma crise anunciada, previsível por uma série de queixas represadas que ameaçavam transbordar às vésperas da eleição. A principal delas é a concentração de poderes na campanha no núcleo paulista que acompanha Geraldo Alckmin, do qual o marqueteiro é apenas um dos integrantes. Queixas que são também do PSDB, embora a maior parte das críticas à estratégia da campanha tucana seja atribuída ao PFL.

A definição do comando do marketing já foi um divisor de águas. O sociólogo Antonio Lavareda é colaborador do PFL, mas também amigo do presidente do PSDB, Tasso Jereissati, para quem o pesquisador poderia ajudar na campanha de Alckmin. Gonzáles afastou inteiramente Lavareda da campanha.

O assunto voltou novamente à discussão quando Lavareda, recentemente, previu que Alckmin subiria nas pesquisas após os programas partidários do PSDB, cairia em seguida e retomaria o crescimento após o horário eleitoral. As duas primeiras partes da previsão se mostraram corretas.

Por outro lado, Gonzáles não teria gostado da indicação de um senador do Nordeste, Sérgio Guerra (PSDB-PE), para a coordenação geral da campanha de Alckmin. Preferiria alguém do Sudeste, mais identificado com o grupo de Geraldo Alckmin. Guerra ficou, mas o homem-forte de Alckmin na campanha é João Carlos Meireles, que foi seu secretário no governo paulista.

Em meados de julho, um jantar reuniu o conselho político e Gonzáles com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. À época, como agora, ficou acertado que os políticos seriam mais ouvidos, algumas sugestões foram feitas por eles mas nenhuma foi levada adiante. Pelo menos nos primeiros programas do horário eleitoral gratuito.

Os dois primeiros programas reabriram a ferida: o conteúdo foi considerado excessivamente paulista, uma crítica recorrente dentro da campanha de Alckmin. Além do "paulistismo", há setores da coligação que defendem uma estratégia mais agressiva em relação ao presidente Lula. Como demonstrou na campanha de José Serra para prefeito, Gonzáles prefere a chamada campanha propositiva, só partindo para o ataque em último caso.

A própria participação do candidato na mediação de conflitos é criticada. Queixa também recorrente é a elaboração da agenda: enquanto o site de Lula na internet mostra a programação do candidato para toda a semana, ontem, por exemplo, Alckmin cancelou de última hora uma viagem que faria a Imperatriz (MA). A campanha tem justificativa: uma aliança com dois partidos fortes é difícil mesmo de administrar. Imperatriz, por exemplo, é reduto eleitoral do deputado Sebastião Madeira (PSDB), inimigo da família Sarney, que Alckmin recentemente andou afagando, em viagem a São Luís.

Também recorrente é o abandono do candidato por parte dos candidatos tucanos, uma experiência que Serra viveu em 2002. Os candidatos do PSDB alegam que nem sequer receberam material da campanha para trabalhar, o que é um fato, segundo o comitê de Alckmin, porque só na semana passada saiu o CNPJ da coligação tucano-pefelista.

Ontem, Sérgio Guerra foi a Pernambuco puxar a orelha do candidato Mendonça Filho (PFL) ao governo estadual: em suas peças de campanha, o aliado aparece ao lado de Lula no lançamento da pedra fundamental da refinaria a ser construída no Recife.

Mas há outra especulação em circulação entre os tucanos: Alckmin se isolou com seu grupo em São Paulo já tendo em vista um Plano B, para o caso de perder a eleição, como indicam as pesquisas: fazer uma campanha para se sair bem na disputa de 2006 a fim de ganhar musculatura para a batalha da sucessão de Lula, em 2010, quando terá dois concorrentes fortes pela frente: Serra e Aécio Neves.