Título: Petistas trabalham para manter Marta na vice do Senado
Autor: Ulhôa,Raquel
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2012, Política, p. A6

O PT está empenhado em manter a senadora Marta Suplicy na primeira vice-presidência do Senado, caso não seja acomodada no ministério. A seção paulista do PT avalia que precisará do envolvimento total de Marta na campanha de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo e teme que, se estiver acuada por sucessivas derrotas no partido, ela tenha reações prejudiciais à candidatura petista.

Marta foi preterida pelo comando do PT na escolha do candidato a prefeito, depois que Haddad foi ungido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A partir daí, ela tinha expectativa de ir para o ministério, mas a presidente Dilma Rousseff não dá sinais nesse sentido. Tirá-la da vice-presidência e deixá-la sem espaço pode ser uma jogada de alto risco para a candidatura de Haddad. Petista com maior projeção e votos na capital paulista, a senadora é independente no partido e sua atuação é incontrolável à cúpula. "Tirar tudo dela é cutucar onça com vara curta", diz um petista.

A cúpula petista busca uma saída política para defender a permanência de Marta na vice-presidência, evitando um racha na bancada. O problema é que o senador José Pimentel (CE) quer ocupar o cargo e cobra cumprimento de acordo de rodízio feito entre ele e Marta há um ano, em reunião da bancada, com aval do então presidente do partido, José Eduardo Dutra.

Um dos argumentos apresentados por dirigentes petistas é a questão de ordem levantada pelo líder do DEM, Demóstenes Torres (GO), que considera inconstitucional o revezamento. Depois de analisar o assunto, o partido teria concluído o questionamento procede e que o acordo não tem amparo regimental ou constitucional.

"A Constituição prevê que o mandato dos ocupantes da Mesa Diretora é de dois anos. A pessoa pode renunciar, mas não pode fazer um acordo para que essa renúncia se dê daqui a um ano para que um outro assuma, violando a Constituição Federal", afirmou Demóstenes em 1º de fevereiro de 2011, dia da eleição dos dirigentes do Senado. Com base nas notícias do acordo de rodízio entre petistas, o demista disse que caberia até representação por quebra de decoro parlamentar contra os envolvidos.

A favor da permanência de Marta, aliados dela apresentam outros argumentos. Um deles é o fato de Pimentel ter sido nomeado líder do governo no Congresso. Se for deslocado para a Mesa, ocupará dois cargos expressivos nos dois primeiros anos do mandato. Além disso, petistas de São Paulo dizem que Dilma gostou do desempenho de Marta na vice e teria manifestado que sua permanência é importante para o governo.

Alguns petistas temem que a disputa entre Marta e Pimentel traga à tona conflitos entre correntes internas do PT na bancada. Pimentel integra a Construindo um Novo Brasil (CNB), a mesma corrente de Lula. Marta não é alinhada a nenhuma tendência e teve apoio de petistas independentes quando concorreu com Pimentel pela indicação à vice.

O receio é que essa queda de braço contamine a disputa pela liderança. O pernambucano Humberto Costa, da CNB, deixa a função, que está sendo disputada por Wellington Dias (PI), também CNB, e Walter Pinheiro (BA), da corrente petista Democracia Socialista (DS). Na bancada de 13 senadores, seis integram a CNB, cinco são independentes, um é da DS e um, da Articulação de Esquerda.