Título: Pessimismo de analistas é exagerado, diz economista
Autor: Villaverde,João
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2012, Brasil, p. A4

Os analistas econômicos estão exagerando no pessimismo quanto ao cenário econômico mundial de 2012, da mesma forma que estavam excessivamente otimistas em relação ao desempenho de 2011 há um ano. A avaliação é do economista Luís Eduardo Assis, professor da PUC-SP e da FGV-SP e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central (1990-91).

Para o economista, os focos de pessimismo das últimas semanas, que ele chama de "dogmas", não vão se realizar: o euro não vai acabar, as eleições nos Estados Unidos não vão travar politicamente as decisões do governo do presidente Barack Obama, a China não vai sofrer uma desaceleração forte e o Brasil não será duramente afetado pela crise externa.

"O Brasil, mais uma vez, está com sorte", diz ele, prevendo que a China não será afetada pelas turbulências na União Europeia. "O mais importante para a economia brasileira é que a China mantenha seu ritmo de demanda de nossas commodities, e isso vai se realizar", afirma Assis.

Para ele, o cenário neste ano é um para os agentes do mercado financeiro, como integrantes de tesouraria e investidores, e outro para os analistas. "O mercado percebeu que a Grécia é um caso perdido e já colocou isso nos preços. Os investidores já entenderam que Itália e Espanha não vão quebrar, e que, no limite, o Banco Central Europeu vai atuar, concedendo liquidez na medida necessária", afirma Assis. "Mas os analistas ainda estão vendo um céu negro, em que a União Europeia inteira vai derreter, levando no caminho o euro."

Além disso, a situação econômica nos Estados Unidos começou a melhorar, com a redução da taxa de desemprego, depois de três anos (de 2009 a 2011) próxima a 10%. Ao mesmo tempo, o impasse no Partido Republicano em definir um candidato de oposição deve favorecer Obama, trazendo otimismo quanto à sustentação da recuperação econômica em 2013.

Segundo Assis, a economia brasileira neste ano será impulsionada, principalmente, pelo efeito combinado do forte reajuste do salário mínimo e da redução das taxas de juros. O Banco Central deve reduzir a taxa básica de juros (Selic) em mais um ponto percentual, deixando a taxa em 9,5% ao ano até dezembro - será, portanto, a menor desde o piso de 8,75% ao ano atingido em 2009.

O avanço do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano será semelhante ao registrado no ano passado, de cerca de 3%, mas em 2012, diferentemente de 2011, os percalços serão resultado exclusivamente da contração da entrada de recursos externos, devido à crise externa. "Não será um contágio pesado, justamente pelo efeito contracíclico do reajuste do salário mínimo, da queda dos juros e da China ainda aquecida", avalia Assis.

A desaceleração econômica não pode ser tão drástica, afirma o economista, porque a presidente Dilma Rousseff foi eleita na esteira do forte crescimento do PIB em 2010 (de 7,5%), de forma que, para o governo, a taxa de crescimento não pode ser muito inferior a 3%, no pior dos cenários. É esse o piso para o PIB com que trabalha a equipe econômica em Brasília.

Para Assis, o governo foi bem-sucedido em "derrubar o PIB" em 2011- o crescimento zero entre o segundo e o terceiro trimestres do ano passado não teve nenhuma relação com o agravamento da crise econômica mundial, entende Assis, mas com as políticas de aperto conduzidas pelo governo desde o início do ano passado.

"As medidas de contenção do crédito às famílias [macroprudenciais] foram desenvolvidas pelo governo como um parafuso. Na hora de reduzir o ritmo da economia, apertam o parafuso para um lado, depois, quando perceberam que exageraram no aperto, no terceiro trimestre, giraram para o outro lado, relaxando os controles e reduzindo os juros", afirma.

O economista entende que o BC deveria se concentrar apenas na missão de trazer o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o centro da meta, de 4,5% para o ano - foi de 5,9% em 2010 e de 6,5% em 2011. Neste ano, Assis prevê uma alta de 5,5% na inflação, e a taxa só não será menor porque o BC elencou a preocupação com o ritmo do PIB como prioridade, ao lado do combate à inflação.

Em 1990, quando Assis era o diretor de Política Monetária do BC, o IPCA atingiu 1.620,9%, taxa que foi brutalmente reduzida a 472,7% no ano seguinte, quando Assis liderou o início da utilização da Selic, que sofreu forte elevação para combater a alta de preços. "É claro que quando olhamos aqueles tempos vemos imenso avanço institucional, mas não podemos ainda nos contentar com uma inflação acima do centro da meta por quatro anos consecutivos", diz.