Título: Despedida de Haddad pode ter presença de Lula
Autor: Junqueira,Caio
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2012, Política, p. A5

As cúpulas do PT e do governo Dilma Rousseff colocaram em prática estratégia para alavancar a candidatura a prefeito de São Paulo do ministro da Educação, Fernando Haddad. A vitória do petista no principal colégio eleitoral do país, onde os petistas só saíram vitoriosos em duas ocasiões (em 1988, com Luiza Erundina, e em 2000, com Marta Suplicy), é a prioridade política do governo nas eleições municipais deste ano. O objetivo é derrotar o PSDB e fortalecer o PT para a disputa em 2014 do governo de São Paulo, Estado que o partido nunca governou.

Sob a justificativa de apresentar um balanço ou cumprir um rito formal de transmissão de cargo, o governo programou dois eventos oficiais no Palácio do Planalto para dar exposição a Haddad. Ontem, uma cerimônia para celebrar a concessão de um milhão de bolsas do ProUni; hoje, uma solenidade de transmissão de cargo do Ministério da Educação, com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A participação de Lula marca o início dos trabalhos em 2012 do marqueteiro João Santana. Responsável pelo marketing das campanhas de reeleição do ex-presidente em 2006 e de eleição da presidente Dilma Rousseff em 2010, Santana ainda não foi confirmado para a campanha de Haddad à Prefeitura de São Paulo, mas já aconselha o passo-a-passo do ministro nesta pré-campanha.

Levar Lula a Brasília hoje, por exemplo, foi ideia dele. O ex-presidente passa por uma sessão de radioterapia pela manhã e, havendo liberação dos médicos, embarca na sequência para a capital federal. Para concretizar a viagem, porém, outros avais foram necessários. Santana contatou o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, para que avaliasse com Dilma essa possibilidade. Também idealizou um evento programático antes da despedida oficial. Isso ocorreu ontem, na cerimônia em comemoração a um milhão de bolsas de estudo no ensino superior pelo Programa Universidade para Todos (Prouni).

A avaliação é de que o ministro vinha se desgastando desde o fim de 2011 com o noticiário negativo do Enem e que era necessário "mostrar antes de ele sair que o Ministério da Educação não é só o Enem", segundo as palavras de petistas ligados ao ministro. Para gerar um contraponto a isso, o Palácio encampou a ideia. Haddad ganhou, então, palanques oficiais para defender sua gestão.

Ontem, falou de Prouni, mas também sobre a duplicação das matrículas no ensino superior nos últimos dez anos - seis dos quais esteve à frente do MEC. Recebeu elogios de Dilma, que lhe desejou "boa sorte", e do presidente da UNE, Daniel Iliescu. E saudou dois deputados fundamentais para a definição de seu nome como candidato petista: o líder da bancada federal, Paulo Teixeira (PT-SP), e o vice-líder do governo, Jilmar Tatto (PT-SP).

Não esqueceu da senadora Marta Suplicy (PT-SP), cujo empenho na campanha é tão necessário quanto incerto. Citou a experiência adquirida em seu governo em São Paulo (entre 2001 e 2004), quando foi chefe de gabinete da Secretaria de Finanças e Desenvolvimento Econômico. No evento de hoje, o tom político-eleitoral deve se repetir.

A organização da campanha de Haddad avalia que ele precisa desse empurrão inicial e que a fórmula de juntar Lula e Dilma em um mesmo ato, como esperado hoje, é a ideal. Nas pesquisas internas do PT, a aprovação de Lula e Dilma supera as médias históricas de votações de candidatos petistas na capital paulista, sempre em torno de 30%. O objetivo é fazer o ministro, que hoje tem entre 3% e 4% das intenções de voto, ter avaliação semelhante a do ex e da atual presidente.

O problema é que há uma diferença na postura de ambos. Enquanto Lula está disposto a mergulhar na campanha municipal a partir da segunda quinzena de março, Dilma não deu sinais de que fará o mesmo. Por isso buscou-se articular para que os dois estivessem juntos hoje, na troca de comando do MEC.

A oposição reagiu. O senador Agripino Maia (DEM-RN), presidente nacional do Democratas, disse que se trata de uma "overdose de exposição e de uso da máquina pública". O deputado Roberto Freire (PPS-SP), declarou não acreditar que "Dilma vai se preocupar em ter compostura para eleger Haddad".

Amanhã, a presidente irá a São Paulo para ser condecorada pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), com a medalha 25 de Janeiro. Ela também será concedida ao governador Geraldo Alckmin (PSDB). Cogitou-se a possibilidade de Haddad acompanhar Dilma neste evento, mas o ministro disse que precisa cuidar da sua mudança para São Paulo. Além disso, é seu aniversário também. Confirmou, então, apenas presença na reunião do conselho político da campanha neste sábado. Em pauta, a aliança com Kassab e o calendário da pré-campanha. (Colaborou Fernando Exman)