Título: Hospital pede que valor da venda da carteira da Interclínicas fique em juízo
Autor: Carolina Mandl
Fonte: Valor Econômico, 10/12/2004, Empresa, p. B2

O episódio da Interclínicas não deve se encerrar com a venda de sua carteira de clientes para a Saúde ABC. Essa venda foi determinada pela Agência Nacional de Saúde (ANS), no dia 29 de novembro, depois que o órgão decidiu intervir na empresa por problemas financeiros. Ontem, segundo Antônio Penteado Mendonça, advogado do hospital Oswaldo Cruz, foi enviada petição à juíza Maria Goretti Beker Machado Ferreira Farias, da 4ª Vara Cível de Barueri (SP), solicitando que o valor pago pela Saúde ABC não vá para o caixa da Interclínicas, mas para depósito em juízo. Isso porque, de acordo com Mendonça, desde agosto o hospital trava uma batalha judicial com a operadora. "O Oswaldo Cruz é o maior credor da Interclínicas. São valores que podem abalar a saúde financeira do hospital", diz ele, sem citar o montante envolvido. O Valor apurou com fontes envolvidas no processo de venda da carteira que o plano de saúde deve R$ 35 milhões ao hospital. Em fevereiro, diz o advogado, a Interclínicas renegociou a dívida. O acordo firmado entre ambas exigia que a Interclínicas pedisse autorização para a vender de qualquer ativo que superasse R$ 200 mil. "Em agosto, ficamos sabendo por terceiros que a Interclínicas negociava sua carteira e resolvemos levar o caso à Justiça", afirma Mendonça. Ele diz que a juíza Maria Goretti determinou em decisão liminar que a Interclínicas deposite qualquer valor alienado em juízo. Ontem, ao saber da venda da carteira para a Saúde ABC, Mendonça afirmou que resolveu voltar à Justiça para pedir que aquela determinação fosse cumprida. Segundo o advogado, a juíza confirmou sua decisão. Procurada ontem, a Interclínicas não se pronunciou. A Saúde ABC emitiu comunicado em que "reitera que a compra da carteira dos associados da Interclínicas está garantida contratualmente e os direitos dos associados serão integralmente assegurados". A assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça também não informou o teor do pedido feito pelo hospital em agosto, apenas disse que ele foi deferido e que hoje duas novas petições foram entregues: uma por parte do Oswaldo Cruz e outra pela Interclínicas. Além de credor, o Oswaldo Cruz é sócio da Interclínicas. Segundo Mendonça, na formação da empresa, o hospital entrou com 2% do capital da operadora. O mesmo ocorreu com o hospital Samaritano. De acordo com ele, o fato não impede o hospital de receber.