Título: Nova visão do Banco Central da Índia
Autor: Mukherjee, Andy
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2006, Opinião, p. A11

O Banco Central indiano, se acreditarmos em algumas críticas que estão sendo dirigidas a ele, está inteiramente dedicado a bloquear a economia do país com o segundo crescimento mais acelerado do mundo. A "Economic and Political Weekly", uma publicação de esquerda, diz que predileção do Banco Central da Índia por elevações nas taxas de juros "ao estilo dos EUA" faz lembrar "as toscas políticas monetaristas adotadas até a metade da década de 1990".

As conseqüências políticas deste tipo de política "só podem ser consideradas perturbadoras", disseram os analistas da Weekly. Perturbadoras para quem? À exceção do governo, que de qualquer forma já tem um balanço patrimonial desprezível, não há nenhuma evidência de que outros tomadores de empréstimo, especialmente empresas, estejam sentindo a mordida.

Certamente o crédito não estaria crescendo ao ritmo escaldante de 33% - ou a economia, a 8% - se os empréstimos bancários fossem impagáveis. Isto, quanto às conseqüências. A outra acusação contra o banco central é que ele agiu sem causa suficiente. "Os motivos específicos apresentados para o recente aumento nas taxas oficiais parecem inadequados", disse o Conselho Nacional de Pesquisa Econômica Aplicada em Nova Déli. "Uma opinião contrária, de manutenção das taxas de juros inalteradas, tirando proveito da inflação, é igualmente poderosa".

O presidente do Banco Central da Índia, Y.V. Reddy, elevou a taxa básica de juros em um quarto de ponto percentual, para 6%, em 25 de julho, levando o aperto monetário total no ciclo atual a 150 pontos-base. A maioria dos economistas e corretores de valores espera um outro aumento em outubro.

Num momento em que o investimento e a demanda do consumo demonstram um vigoroso impulso, esse tipo de iniciativa será plenamente justificado. Certamente, a 4,6%, a inflação medida na Índia não parece muito assustadora, embora o Morgan Stanley esteja prevendo que a taxa subirá para 5% assim que os dados capturarem os ganhos recentes nos preços dos metais. Mais importante ainda, a inflação tem sido mantida em nível artificialmente baixo, evitando que as refinarias repassem o custo cheio do petróleo importado aos consumidores.

"Há um limite até o qual podemos continuar subsidiando o consumo de derivados do petróleo diante dos crescentes custos de importação", disse o primeiro-ministro Manmohan Singh, no seu discurso anual do Dia da Independência nesta semana, talvez na tentativa de preparar o seu país, e os seus aliados políticos marxistas difíceis de agradar, para um aumento nos preços ao consumidor no fim deste ano.

Seria perigoso para o Banco Central deixar a inflação escalar furtivamente para a sua zona de conforto de 5% a 5,5%, só para vê-la irromper de repente quando o governo permitir que os preços dos combustíveis aumentem de novo.

A oposição à estratégia do Banco Central não é meramente acadêmica. Infelizmente, parece que também o governo decidiu que precisa salvar a economia das mãos do banco central. O governo pediu aos bancos comerciais estatais, que em 2005 controlavam 78% de todos os depósitos, que levassem seus conselhos de administração a anunciar o fim de qualquer plano para aumentar as taxas de empréstimo.

-------------------------------------------------------------------------------- A inflação indiana tem sido mantida em nível baixo, evitando que as refinarias repassem o custo cheio do petróleo aos consumidores --------------------------------------------------------------------------------

Parece que o Ministério das Finanças quer que os seus diretores nomeados apresentem a opinião do governo na questão das taxas de juros. "O que há de errado nisso?" retrucou o ministro das Finanças, P. Chidambaram, depois de os jornalistas o terem questionado sobre o bom senso de antecipar o Banco Central. O governo, afinal, é o maior acionista nos bancos estatais, disse. O que ele não disse foi que o governo é também um grande tomador de empréstimo, e que, portanto, tem um interesse em manter as taxas de juros em nível baixo.

Que os políticos procurem influenciar diretamente o custo do dinheiro na economia - muito acima do prejuízo que infligem indiretamente com o seu planejamento orçamentário irresponsável - revela uma surpreendente falta de confiança no Banco Central, para não dizer uma total desconsideração para com os acionistas minoritários dos bancos comerciais estatais.

A falta de fé no Banco Central é surpreendente, pois até agora não há evidências de que o aperto monetário tenha minado a demanda na economia da Índia e preparado o terreno para uma desaceleração no crescimento. A demanda dos consumidores na economia realmente poderá desacelerar um pouco quando as taxas de juros subirem, porém isso não significa que a demanda do investimento também ficará instável, disse o Conselho Consultor Econômico do premiê Singh nesta semana.

"Os investidores geralmente assumem posições de longo prazo distribuídas por vários ciclos de taxas de juros", disse o conselho. "Realmente, o que impulsiona o investimento não é tanto a taxa de juros como as expectativas sobre o retorno de longo prazo sobre o investimento na comparação com a taxa de juros. Essas expectativas atualmente permanecem aquecidas".

Pesquisa realizada pelo ABN Amro também mostrou que os investimentos na economia indiana ao longo de um período de 23 anos não foram sensíveis às flutuações nas taxas de juros.

A inflação baixa e uma taxa de câmbio estável, os resultados pretendidos de uma postura econômica conservadora, são mais importantes para a Índia neste momento do que uma vinculação dogmática ao capital barato e o risco conseqüente de erosão no poder de compra interno e externo da moeda.

"Há evidências suficientes ao redor do mundo que demonstram que o investimento flui a partir da confiança do empresariado, e que esta última é adversamente afetada pela instabilidade nos parâmetros macroeconômicos - especialmente a inflação e a volatilidade da taxa de câmbio", disse o conselho consultor do primeiro-ministro.

Se a inflação se arraigar, realmente ficará impossível para o Banco Central estabilizar a economia sem sacrificar a produção. Para a Índia, o momento da verdade ainda não chegou.