Título: A crise ainda não terminou
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Fonte: Correio Braziliense, 18/09/2010, Economia, p. 27

O alerta é do Banco Central, que pede aos países um esforço para tirar instituições da ajuda estatal. Irlanda volta a preocupar depois de boatos sobre socorro do FMI

Autoridades do Banco Central Europeu (BCE) disseram ontem que a crise financeira não terminou e que os governos precisam fazer mais para tirar os bancos do auxílio estatal, embora não seja provável que um país da Zona do Euro declare moratória. Ewald Nowotny, membro do Conselho Executivo do BCE, disse que a ação do governo é necessária para acabar com o capital barato fornecido aos bancos desde o início da crise, no fim de 2008.

Isso reforça a percepção de que o destino de alguns bancos da Zona do Euro especialmente os da Irlanda e de Portugal voltou ao primeiro plano das preocupações de investidores e autoridades, mesmo após o acordo de novas regras de capital na semana passada.

Axel Weber, presidente do Banco Central alemão e membro do conselho do BCE, afirmou que ainda há trabalho a fazer até que todos os bancos, embora grandes, possam quebrar sem arrastar consigo o sistema financeiro. Ele disse que a regulação financeira teria de ser renovada regularmente.

A crise financeira ainda está conosco. Nós não estamos no primeiro ano depois da crise, estamos no quarto ano da crise, disse Weber em discurso. O risco moral está presente no sistema financeiro ... Eu quero chegar a uma situação em que o termo grande demais para falir não exista. Os bancos precisam poder falir, mas isso precisa acontecer de forma organizada.

Sem moratória

O diretor do fundo europeu de estabilidade, Klaus Regling, disse que é improvável que o fundo seja usado e que, se for o caso, será concedida apenas uma quantia suficiente para dar algum espaço aos governos, permitindo a realização de reformas.

O fundo de 440 bilhões de euros, criado no início de maio auge do pânico do mercado sobre a crise de dívida europeia , não foi uma solução aos problemas estruturais dos países endividados.

Minha expectativa principal é que o fundo não precise emprestar dinheiro, disse Regling.

O diretor da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Angel Gurria, afirmou que a economia global mostrou mais fraqueza que o esperado no segundo trimestre e que os países deveriam considerar o adiamento das medidas de austeridade fiscal se a fraqueza persistir.

Nós tínhamos previsto um enfraquecimento da recuperação no segundo semestre. A questão era o quão fraca ela seria. E eu tenho que dizer que ela está mais fraca do que pensávamos, disse ele.

Ontem, o ministro de Finanças da Irlanda e o Fundo Monetário Internacional (FMI) tiveram que acalmar os mercados depois que uma reportagem levantava a possibilidade de um socorro do organismo internacional. Com isso, os títulos públicos irlandeses bateram recorde de alta. O FMI disse à Reuters que não há qualquer perspectiva sobre a necessidade de uma assistência financeira à Irlanda.

O Departamento de Finanças da Irlanda rebateu o artigo do jornal irlandês. Não há absolutamente nenhuma verdade no rumor a respeito de uma possível ajuda internacional. Ele é baseado em uma interpretação local de um relatório de pesquisa, disse um porta-voz em um comunicado.

O jornal usou um relatório do Barclays Capital, como base para o artigo. O Barclays disse que a posição de liquidez da Irlanda era confortável, mas se houvesse perdas bancárias inesperadas ou se as condições econômicas se deteriorassem uma ajuda externa poderia ser necessária.

Proteção financeira ao consumidor

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, nomeou a advogada Elizabeth Warren, especializada em defesa do consumidor, como conselheira para ajudar a criar uma agência de proteção financeira ao consumidor. Segundo Obama, ele e o secretário de Tesouro norte-americano, Timothy Geithner, concordaram que Elizabeth deve criar uma agência e que ela influenciará decisões futuras sobre isso.