Título: Proposta de Kassab irrita petistas e tucanos
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2012, Política, p. A6

A proposta do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), de formar uma chapa para sua sucessão com o pré-candidato do PT e ministro da Educação, Fernando Haddad, e um vice do PSD, desagradou a petistas da capital paulista, que são oposição ao prefeito, e tucanos que negociam uma aliança com os pessedistas e veem na movimentação de Kassab uma tentativa de forçar o acordo.

O aceno para o PT ocorreu na quarta-feira, em visita de Kassab ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde o petista realiza tratamento radioterápico para curar um câncer de laringe. O provável nome para compor a chapa seria o do ex-presidente do Banco Central no governo Lula, Henrique Meirelles, que filiou-se ao PSD em outubro.

"Era só questão de tempo para ele [Kassab] dar a facada no PSDB. Sempre falei isso, mas muita gente no partido achava que não aconteceria", afirmou o presidente estadual do PSDB, Pedro Tobias, crítico à parceria com o prefeito paulistano. "O Kassab não sabe ficar fora do poder. Ele está se aproximando [do PT] para ver se sobra algum ministério para ele", diz o tucano.

Apesar do convite feito a Lula, Kassab já manifestou publicamente o interesse em formar chapa com o PSDB. A ideia do prefeito é ter o vice-governador Guilherme Afif Domingos (PSD) como candidato, com um tucano de vice. Em troca, Kassab apoiaria a reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB). O prefeito teria como contrapartida a garantia de ser o candidato do grupo político ao Senado, em 2014.

Pressionado pelos quatro pré-candidatos tucanos que disputam as prévias, o governador tenta atrair outros partidos para a aliança e deixar o PSD como vice.

Menos crítico, o presidente do diretório municipal do PSDB, Julio Semeghini, afirmou que "a notícia é chata" para o partido, mas que continuará insistindo na coligação com o PSD. "O prefeito Gilberto Kassab deve estar estudando as possibilidades e as alternativas do PSD, mas ainda acreditamos numa ampla aliança", disse o tucano, que é secretário de Planejamento e Desenvolvimento Regional de Alckmin.

Orientados pelo diretório municipal a não atacar o prefeito, o que poderia inviabilizar a aliança, o deputado federal Ricardo Tripoli e o secretário de Meio Ambiente, Bruno Covas, pré-candidatos do PSDB, também minimizaram o aceno de Kassab para o grupo adversário e ainda se disseram dispostos a procurar o prefeito em busca de apoio.

"Quando você parte para um projeto eleitoral, procura se aproximar de partidos que tenham a mesma ideologia e identidade que você. E acho que nisso ele [Kassab] se aproxima mais da gente", disse Tripoli. Os outros pré-candidatos tucanos, os secretários estaduais de Cultura, Andrea Mattarazzo, e de Energia, José Aníbal, preferiram não se manifestar.

No PT, a aproximação com Kassab foi recebida com descrença e alguma indignação. "Seria uma traição ao nosso eleitorado e aos movimentos sociais que nos apoiam. Somos oposição a Kassab e sua administração é uma continuidade do projeto de José Serra na prefeitura", afirma o vereador Chico Macena. "Acredito que Kassab deixou vazar essa história para pegar carona na popularidade de Lula, já que a dele está baixa", acrescentou.

Para o vereador José Américo, "Kassab está tentando pressionar o PSDB, fazê-los decidir por uma candidatura logo ou aceitar o candidato do PSD como cabeça de chapa". Líder do partido na Câmara de Vereadores, Ítalo Cardoso foi o único petista a falar com o Valor que não se opôs à chapa. "Acho improvável, porque embora Kassab tenha feito acenos ao governo da presidente Dilma Rousseff [PT], aqui na capital temos muitas críticas à sua gestão. Mas não considero que a formação de uma aliança seria o fim do mundo", avalia.

Até o ex-ministro da Casa Civil e deputado federal cassado José Dirceu (PT) resolveu se manifestar a respeito. Em seu blog, o petista pôs em dúvida a veracidade da história, mas pontuou que "a proposta do prefeito Kassab, real ou não, é um retrato do isolamento e da confusão em que vive a oposição tucana e seus atuais e ex-aliados - neste caso de ex, o prefeito paulistano".

Braço-direito de Kassab na criação do PSD, o secretário-geral da legenda, Saulo Queiroz, afirmou que, em "nenhum momento, ninguém no partido ventilou uma aliança com o PT" na capital paulista. No entanto, ele diz que, se Kassab deu declarações a respeito da coligação, "ele deve ter suas razões". "Ele é mais esperto que todos nós juntos. E se disse isso quer dar um recado. Mas não é para esta eleição [municipal]. É para a de 2014. Os tucanos querem ficar sozinhos agora? Então fiquem", afirmou Queiroz.

O dirigente do PSD disse que "o PSDB é complicado até para escolher vice", e citou o imbróglio, em 2010, que, por fim, apontou o ex-deputado federal Indio da Costa (então no DEM, hoje presidente estadual do PSD fluminense) para compor a chapa de Serra à Presidência. "Eles [os tucanos] acham que são o Pai e o Espírito Santo em qualquer hipótese. E o Filho é o vice. Mas, por enquanto, tudo é farofa no ventilador", completa Queiroz, numa indicação de que as negociações podem ter idas e vindas.

Já a prefeita de Ribeirão Preto, Dárcy Vera (PSD), mostrou-se entusiasmada com a possibilidade de aliança com o PT na capital paulista. Candidata à reeleição em sua cidade, Vera deve contar com o apoio do PT na eleição e enfrentar um candidato tucano, ainda não definido. "Acho que é o momento do PSD de buscar novos caminhos", afirmou. Vera avaliou como "soberba" a indefinição do PSDB em decidir um nome para a disputa ou discutir a possível composição com o PSD.