Título: Ataques vão começar pelos comerciais da TV
Autor: Agostine, Cristiane e Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 11/08/2006, Especial, p. A22

Com o início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão na próxima terça-feira, o acirramento da disputa entre o candidato do PT, presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e do PSDB, Geraldo Alckmin, virá principalmente dos comerciais de 15 e 30 segundos inseridos ao longo da programação das emissoras. No horário eleitoral, os petistas vão adotar o lema "com a casa arrumada, dá para fazer muito mais". Os tucanos vão dedicar 80% do programa a convencer o eleitor de suas propostas de governo.

O candidato tucano apresenta vantagem no programa eleitoral, com mais tempo e inserções. Alckmin terá 3 minutos e 1 segundo a mais em cada bloco do programa político, que irá ao ar três vezes por semana, às terças, quintas e aos sábados. Nos intervalos, o tucano terá 2 minutos e 29 segundos para inserções contra 1 minuto e 45 segundos do petista. Alckmin soma 65 inserções comerciais a mais que Lula. Além dessa vantagem, o comando da campanha tucana avalia que o horário eleitoral dos candidatos ao governo de São Paulo e Minas, José Serra e Aécio Neves, também podem servir de força auxiliar.

No programa diário de 10 min e 22 segundos de Alckmin, os 20% que restarem das propostas do candidato serão usados também nas críticas e ataques ao adversário, mas não por intermédio do candidato. Esse pelo menos é o plano inicial, que pode mudar de acordo com a avaliação sobre o impacto dos programas ao longo da campanha.

Já os programas do PT reforçarão o que o governo fez. Passando ao largo da questão ética que assolou a legenda, a campanha do PT vai tentar mostrar que os quatro anos de governo Lula sedimentaram as condições para que o país avance em todas as áreas caso o presidente venha a ser reeleito. "Vamos mostrar o que o presidente Lula fez desde 2003 e mostrar o que, qualitativamente, pode ser aprimorado daqui para frente", disse um integrante do núcleo da campanha petista.

Será dada atenção especial ao avanço dos programas sociais -com o aumento do número de pessoas atendidas e a diminuição da pobreza- e a consolidação da economia. As famílias beneficiadas por programas como Bolsa-Família e jovens estudantes que receberam o Prouni serão usados como exemplos dos resultados. A idéia é reforçar a idéia de que estabilidade com programas de transferência de renda trazem inclusão social. O programa vai apresentar também conquistas que sensibilizem intelectuais, cientistas, como o Hbio, os avanços na área de energia.

Flávio Florido/Folha Imagem- 4/11/2004 Gonzáles: perfil pouco afeito à campanha negativa estará sob pressão do comando político da coligação tucana Com a ampla vantagem de Lula nas pesquisas de opinião, a expectativa da campanha petista é que haja um recrudescimento dos ataques da candidatura tucana. "Lula está em posição confortável nas pesquisas, mas isso coloca o partido em alerta, porque os adversários podem partir para o 'tudo ou nada'", ponderou o dirigente petista Joaquim Soriano. Lula passou os últimos quinze dias gravando. Mas a campanha ainda não fechou o que vai ao ar. "Na primeira semana o programa pode mudar, vai depender da linha da oposição", relatou Romênio Pereira, também dirigente do partido.

A princípio, a estratégia é evitar ao máximo usar o programa eleitoral para responder aos ataques. O PT avalia que Lula não deve pautar suas ações e estratégias pelos adversários. Por isso, o foco da propaganda será mostrar a autoridade política de Lula. Mas o partido alerta: "Nenhum ataque ficará sem resposta, que não será feita necessariamente durante a propaganda", disse Romênio Pereira. O presidente usará as entrevistas e comícios para se defender.

Sob pretexto de mostrar quais programas avançaram no país, a propaganda vai comparar dados da gestão Lula com a anterior, de Fernando Henrique Cardoso. O Programa Luz para todos, por exemplo, mostrará não só que famílias foram beneficiadas mas também para lembrar que o governo Fernando Henrique foi marcado pelo "apagão".

No material publicitário da campanha de Lula existe uma reserva de imagens relacionando a crise na Segurança de São Paulo ao desempenho de Alckmin no governo. Segundo o presidente do PT, Ricardo Berzoini, as imagens "apresentam o problema e mostram soluções". "Não vamos fazer bate-boca na TV, nem falar de nossos adversários. Vamos falar de nossas propostas", disse Berzoini.

Na trincheira tucano-pefelista, apesar de divergências na área política, a idéia é fazer um primeiro programa mostrando quem é Alckmin - médico, prefeito, governador. Na percepção da coligação tucana, um dos entraves à ascensão de Alckmin é seu baixo grau de conhecimento junto à população de baixa renda.

O plano de vôo prevê também associar a imagem de Alckmin a programas sociais, uma espécie de vacina ao ataque que os tucanos aguardam do PT: o de que, se ele for eleito, acabará com programas como o Bolsa Família. Já neste sábado Alckmin visitará, em São José da Tapera, os primeiros beneficiários do programa Bolsa Alimentação, criado no governo Fernando Henrique Cardoso, e agora incorporado ao Bolsa Família de Lula.

Apesar de relembrar ações do governo FHC, o partido não prevê a participação de Fernando Henrique nos programas, a exemplo da campanha de 2002.

Dentro do comitê de campanha de Alckmin, integrantes não descartam o debate sobre ética nas propagandas eleitorais. "Lula não vai ser mais o mercador de esperanças. Ele vai ter que explicar as acusações, se não ficará como arrogante ou cínico", apontou o senador Heráclito Fortes (PFL), do núcleo político.

Os dois partidos prometem paz, mas prepararam grande carga de "munição". A campanha do PT tratará da crise de segurança em São Paulo para atacar a qualidade que os tucanos mais destacam em seu candidato: a gestão eficiente. Para os petistas, a crise da segurança é reveladora sobre as falhas administrativas do governo Alckmin.

Mas o PT deve abordar com cautela outros pontos, como o escândalo de verbas irregulares distribuídas pela Nossa Caixa e o episódio dos vestidos da ex-primeira dama, Lúcia Alckmin. "Não será nosso eixo de ação. Mas se avaliarmos que será necessário, com certeza será abordado", admitiu o dirigente.

Para rebater às críticas sobre o sistema prisional de São Paulo, Alckmin adotará o discurso de que o problema é nacional, vivido em todos os Estados, pela falta de repasse de recursos federais. "Não tem motivo para explorarem essa questão. Esse processo de violência é nacional, faz parte de uma situação brasileira", disse o senador Sérgio Guerra, coordenador da campanha de Alckmin.

O acervo tucano reservado para atacar a campanha de Lula incluirá imagens de CPIs, com depoimentos que possam associar os escândalos do PT a Lula, como o depoimento em que o ex-tesoureiro Delúbio Soares confessou o caixa 2 do PT e a sessão da CPI em que o publicitário Duda Mendonça admite ter recebido pagamentos no exterior.

Sobre a crise ética federal, a estratégia do PT será mostrar que ela não é prerrogativa do PT, mas resultado de um sistema político falido, tese, aliás, reiterada pelo próprio Lula por mais de uma vez. E dar informações, nos programas, sobre todas as investigações pedidas pelo governo, com a data do início das irregularidades.

A promessa de evitar ataques na propaganda eleitoral, feita pelo PT e pelo PSDB incluem a campanha da candidata Heloísa Helena, pelo PSOL. Aos tucanos, o sucesso de Heloísa ajudaria o partido a levar a disputa ao segundo turno. Ao petistas, a candidatura de esquerda não apresenta perigo e ajuda a tirar votos de Alckmin.