Título: De orações e protestos
Autor: Taffner, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 18/09/2010, Cidades, p. 37

Depois de reuniões internas, Roriz participou de dois eventos religiosos. Na Rodoviária, estudantes promoveram ato contra sua candidatura

A duas semanas das eleições, a coordenação da campanha de Joaquim Roriz (PSC) intensificou as reuniões internas para traçar as estratégias para a reta final. Ontem, o ex-governador passou o dia em sua casa no Park Way reunido com correligionários. À noite, acompanhado do vice, Jofran Frejat (PR), e da filha Jaqueline, Roriz prestigiou as comemorações de 50 anos da Assembleia de Deus do Gama. Por cerca de dois minutos, ele falou aos fiéis, mas as eleições não foram tema de suas declarações. Não vou fazer discurso político na casa de Deus. Tenho muito respeito pelos evangélicos porque sei que aqui não tem drogados, afirmou. Em seguida, ele participou de um culto na Convenção da Igreja Assembleia de Deus em Taguatinga Norte.

Até o fim desta semana, Roriz pretende se reunir com os quase 380 candidatos a deputado distrital divididos em grupos de 40 pessoas. A partir do próximo dia 20, o ex-governador deverá receber em sua casa os 24 postulantes à Câmara dos Deputados. A ideia é pedir união do grupo e passar o recado de que Roriz continua na disputa pelos votos. E desmentir o recado que os adversários estão espalhando pela cidade, de que ele não pode concorrer no pleito por ter o registro de candidatura barrado pela Justiça Eleitoral.

Enquanto a coligação luta para manter a competitividade da candidatura do ex-governador, os opositores de Roriz esperam vê-lo fora da disputa. Cerca de 60 pessoas se reuniram na noite de ontem na plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto em protesto contra o candidato do PSC. A manifestação foi organizada pelo Movimento Roriz Nunca Mais, grupo formado em sua maioria por estudantes e apoiado por mais de 20 entidades.

Por volta das 18h de ontem, carregando um caixão e usando camisetas pretas, o grupo iniciou um protesto contra Roriz. O ato foi iniciado no sinal de trânsito que liga a Rodoviária do Plano Piloto ao Conjunto Nacional, com a distribuição de um manifesto que destaca o envolvimento do ex-governador com o caso conhecido como o escândalo da bezerra de ouro, a renúncia ao cargo de senador e os recursos do candidato contra a impugnação de sua candidatura na atual disputa pelo GDF.

A reação de quem foi abordado pelos manifestantes ficou dividida: enquanto alguns gritavam palavras de apoio, outros vaiavam e criticavam o ato. Sou contra, o Roriz é gente boa e fez muita coisa boa para Brasília, reclamou a massagista Adriana Matos, 30 anos. O ritmo da caminhada foi acelerado justamente para evitar conflitos com os eleitores do candidato do PSC. No TSE, tivemos de ser escoltados pela polícia porque Roriz contratou lutadores para nos ameaçar, denunciou Pedro Henrichs, 25 anos, integrante do grupo. Após descer até a estação do metrô e circular a Rodoviária, os estudantes se dividiram e decidiram seguir até o Supremo Tribunal Federal (STF), onde será julgado o recurso contra a impugnação da candidatura de Joaquim Roriz.

Ontem, o TRE-DF determinou a perda de um total de 214 segundos do tempo destinado à divulgação da candidatura ao Governo do Distrito Federal da Coligação Esperança Renovada, encabeçada por Roriz. A coligação do candidato Agnelo Queiroz (PT) apontou invasão do horário destinado à divulgação das candidaturas às eleições proporcionais para divulgar candidatura a cargo majoritário. O fato ocorreu em 1º de setembro.

Gravação compromete ex-governador

Ana Maria Campos

Relatório da Polícia Federal (PF) incluído no inquérito da Operação Caixa de Pandora sobre a gravação em que o então presidente da Codeplan, Durval Barbosa, entrega dinheiro ao ex-governador José Roberto Arruda (sem partido), deputado federal à ocasião, tem um detalhe suspeito e ainda não esclarecido. Durante o encontro, ocorrido em 4 de setembro de 2006, a um mês das eleições, Arruda recebeu uma ligação do então candidato ao Senado Joaquim Roriz hoje na disputa ao Palácio do Buriti pelo PSC em que os dois aparentemente tratam de assuntos relacionados ao Judiciário.

A degravação, feita pela agente da Polícia Federal Janaína Araújo Martins, mostra que o vídeo foi cortado quando Arruda explicava a Durval o teor de uma conversa que acabara de manter por telefone com Roriz. Esse governador é uma parada!... Esse negócio aqui... esse assunto aqui... é o seguinte... um dos votos do Supremo, do TSE..., disse Arruda. Antes que o então candidato ao GDF desse continuidade na explicação, a imagem foi cortada. Os investigadores têm dificuldade para chegar a uma conclusão sobre o teor do diálogo.

A gravação, entregue por Duval Barbosa ao Núcleo de Combate às Organizações Criminosas (NCOC) do Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT), tem 23 minutos e 25 segundos. Nos primeiros 18 minutos e 15 segundos, o vídeo reproduz uma reunião em que Arruda e Durval conversam sobre política, amigos, eventos que participaram e amenidades, segundo registra a agente da PF. O então deputado pede que Durval consiga emprego para um de seus filhos adotivos e também receba o filho do empresário Renato Malcotti. Ele solicita ao homem forte na área de informática do governo Roriz que facilite a contratação de uma empresa do rapaz com a Codeplan. Malcotti é um dos investigados na Operação Caixa de Pandora como intermediário de negócios ilícitos.

Em seguida, Durval se lembra de entregar dinheiro para Arruda, que, por sua vez, o repassa ao secretário particular, Rodrigo Arantes. De acordo o ex-governador, a verba foi utilizada para a compra e a distribuição de panetones para famílias carentes no Natal daquele ano. A versão de Arruda é contestada pelo Ministério Público Federal. Logo depois, o então candidato do Buriti recebe uma ligação de Roriz, que havia deixado o governo meses antes para se candidatar a uma vaga no Senado. Acabou eleito, mas renunciou ao mandato em julho de 2007 por conta do escândalo provocado pela divulgação de uma gravação em que discute com o ex-presidente do Banco de Brasília (BRB) Tarcísio Franklim de Moura sobre a partilha de um cheque de R$ 2,2 milhões do empresário Nenê Constantino.

Na conversa ao telefone, Arruda afirma ter em mãos documentos para colher a assinatura de Joaquim Roriz e promete enviar os papéis para a residência oficial de Águas Claras. Arruda sempre sustentou que o encontro ocorreu em 2005, mas a perícia registrou a data de 4 de setembro de 2006. O coordenador de Comunicação da campanha de Roriz, Paulo Fona, sustenta que a degravação da Polícia Federal não traz nenhuma novidade. Isso é coisa velha. A imagem já mostrava esse diálogo, mas a investigação não avançou nada. São frases desconexas. Não se sabe o que Arruda quis dizer ou a quem estava se referindo.

Justiça libera Weber Magalhães

Juliana Boechat

O candidato a deputado federal Weber Magalhães (PSDB) recebeu o aval do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para concorrer no pleito deste ano. O funcionário do Senado teve o registro de candidatura barrado pela primeira instância da Justiça Eleitoral, em 4 de agosto, por não ter deixado o cargo de técnico- administrativo antes de 3 de julho deste ano. Mas os ministros do TSE entenderam, por unanimidade, que Weber não deve ser punido. Segundo o relator do caso, ministro Marco Aurélio Mello, o candidato demonstrou ter encaminhado o pedido de desincompatibilização em 1º de julho, antes de vencer o prazo. O documento anexado ao processo comprovou a data do envio ao setor responsável na Casa Legislativa. O julgamento foi realizado em 16 de setembro.

O Ministério Público Eleitoral também alegava que Weber teve as contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) após dirigir a Federação Metropolitana de Futebol, vinculada à Secretaria de Esportes. O deputado comandou a pasta de 2003 a 2006. Segundo a denúncia, ele teria comprado materiais esportivos por R$ 663 mil que nunca teriam sido entregues.Dessa forma, Weber seria enquadrado na Lei da Ficha Limpa.

Para embasar o voto, Marco Aurélio citou que se a parte interessada faz a entrega do pedido de afastamento do cargo dentro do prazo, como ficou comprovado em documentos, o órgão deveria afastá-la em seguida, o que não ocorreu. Constato não haver o TRE-DF observado a jurisprudência desta Corte. Não há o interesse da Administração Pública de dizer não. Por isso, não defiro o afastamento, votou.

Atualmente vice-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Weber afirmou ter ficado surpreso com a decisão do TRE de barrar o registro. Estava com a documentação correta, achei que estivesse tudo bem. Mas o TSE fez justiça, fiquei satisfeito, disse ontem ao Correio.

60 dias Prazo dado ao eleitor que não justificar a ausência nos dias de votação