Título: Politec monta fábrica na China e prepara-se para fazer censo chinês
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 11/08/2006, Empresas & Tecnologia, p. B1

A brasileira Politec, especializada em serviços de tecnologia da informação, está prestes a assumir um de seus maiores contratos internacionais desde a sua fundação, em 1970. A companhia acaba de assinar um acordo com o governo da China para participar do grupo de empresas que será responsável pelo censo demográfico do país mais populoso do mundo.

O trabalho, previsto para ocorrer em 2010, será coordenado por um "bureau de estatísticas" da China, responsável por executar funções similares às do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo o sócio-diretor da Politec, Hélio Santos Oliveira, os últimos detalhes do projeto estão sendo costurados. Nesta semana, o embaixador da China no Brasil, Chen Dunqing, esteve na sede da Politec, em Brasília, para ver a empresa de perto. Ainda neste mês, a companhia também deve receber a visita de representantes da área de ciência e tecnologia do governo chinês.

"Estamos muito otimistas com o projeto. Fica até difícil mensurar os resultados", diz Oliveira, ao se referir à população de 1,2 bilhão de habitantes do país.

Os acordos com o governo chinês também marcam a abertura de uma fábrica de software no país. A negociação foi fechada em recente viagem dos executivos da Politec à China, quando firmaram uma joint venture com a companhia chinesa NeuSoft, empresa que conta com cerca de 6 mil funcionários, número próximo ao da Politec.

A fábrica, que ficará no pólo tecnológico de Xangai, no litoral do Pacífico, começa a funcionar até o início do ano que vem. "Vamos levar para lá o conhecimento que geramos no Brasil, principalmente no setor bancário", diz o executivo. "Além disso, teremos uma fábrica de sustentação de sistemas na própria China."

Juntas, as empresas devem atender um contrato já fechado entre a NeuSoft e o Banco Agrícola da China. Para o primeiro ano de atividade, a companhia brasileira prevê investimentos de US$ 2 milhões na operação.

Neste momento, a Politec começa a colher os frutos de uma saga que teve início em maio de 2004, quando os diretores da companhia acompanharam a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva até a China.

Na ocasião, o sócio-diretor da empresa já levava na bagagem a experiência de ter realizado o censo brasileiro de 2000. "Mostramos nossa experiência, mandamos técnicos para lá e apresentamos um projeto ao governo chinês", conta Oliveira.

De lá para cá foram sete viagens até a China, com uma bateria de participações em comitivas, encontros com empresários locais e reuniões com representantes do governo.

"Se analisarmos com calma, três anos é até pouco tempo para os padrões chineses. Essas coisas demoram para se concretizar, mas depois que se vence essa barreira...." Ao fazer cálculos rápidos, o executivo fala de US$ 3 milhões investidos no período, dinheiro que foi injetado em viagens, treinamento de pessoal e elaboração de projetos.

Presente nos Estados Unidos desde 1998 e com mais de 22 clientes naquele país, a Politec pretende fazer da China não apenas uma porta de entrada para o mercado interno, mas também um ponto de presença para explorar contratos firmados com o Japão, onde montou um escritório recentemente e já atende dois clientes.

Com faturamento de quase R$ 500 milhões em 2005, a Politec conta com dez fábricas de software no Brasil. Embora a empresa com sede em Brasília seja tradicionalmente reconhecida como fornecedora para o setor público, atualmente 60% de seus negócios estão relacionados ao mercado financeiro. "Hoje só 30% do faturamento vem do governo", comenta o assessor da presidência da Politec e filho de seu sócio-fundador, Filipe Rizzo Oliveira.

A Politec também trabalha na abertura de uma unidade na Alemanha. A nova filial terá a função de dar continuidade às operações que a empresa realiza para a fabricante de sistemas SAP, em sua área de recursos humanos.