Título: Portugueses também têm interesse na Vivo
Autor: Moreira, Talita
Fonte: Valor Econômico, 11/08/2006, Empresas, p. B3
A Portugal Telecom é um candidato tão "inevitável" e "natural" para adquirir o controle acionário da Vivo quanto a Telefónica, afirmou ontem o presidente mundial da operadora lusitana, Henrique Granadeiro.
O executivo rebateu a análise recorrente no mercado de que a Telefónica é o maior candidato a assumir, sozinha, o controle da Vivo para integrá-la à Telesp, sua concessionária de telefonia fixa.
"A idéia de que a Telefónica é o comprador natural e inevitável da Vivo é completamente absurda e eu nunca poderia aceitar uma idéia dessas. Porque, do outro lado, a tendência de negócios [no setor de telecomunicações] é cada vez mais o foco na transmissão de conteúdo. E, vendo dessa perspectiva, o comprador natural seria a Portugal Telecom, porque os conteúdos são muito mais próximos entre Portugal e Brasil do que entre Brasil e Espanha", destacou.
Granadeiro deu entrevista ao Valor antes de participar de almoço na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) junto com a comitiva que acompanha o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, em visita ao Brasil.
"Nós também temos uma estratégia para o Brasil. Para nós, o Brasil é uma das geografias do crescimento e está fora de causa que a Portugal Telecom deixe de estar no Brasil", disse Granadeiro.
Indagado se o grupo teria interesse em adquirir uma operadora de telefonia fixa no país (já foi apontado como potencial comprador da Brasil Telecom e da Telemar), ele afirmou apenas que, neste momento, o objetivo é "relançar" a Vivo - que tem apresentado resultados negativos e perda de participação no mercado.
O executivo rechaçou o que chamou de uma percepção "balcanizada" do relacionamento entre portugueses e espanhóis na Vivo - os dois grupos ibéricos detêm, cada, 50% da joint venture que controla a operadora de celular.
Porém, segundo fontes próximas à empresa, a parceria é conflituosa e os espanhóis têm procurando se posicionar mais firmemente no dia-a-dia da empresa.
O presidente da Portugal Telecom disse que não recebeu qualquer proposta de compra de suas ações na Vivo desde que assumiu o cargo, há pouco mais de três meses. "E, se a Telefónica disser que quer comprar, eu respondo: não vendo e pronto. Um dia resolveremos o problema. Mas eu não aceito que os 50% da Portugal Telecom na Vivo valham menos sob nenhum ponto de vista do que os 50% que tem a Telefónica."
Os espanhóis poderão ter o direito de vender as ações dos sócios na operadora de celular caso seja bem-sucedida a oferta hostil de aquisição do controle da Portugal Telecom feita pela Sonaecom. O acordo de acionistas da Vivo prevê que os espanhóis poderão vender sua fatia na Vivo em caso de mudança no controle da Portugal Telecom. Igualmente, uma venda do controle da Telefónica daria aos portugueses o direito de se desfazer de suas ações na joint venture.
O grupo português vem tentando resistir à oferta.
Ao ser questionado sobre a existência de atritos entre a Portugal Telecom e a Telefónica em torno da gestão da operadora brasileira, Granadeiro respondeu: "Não somos obrigados a ser amigos nem a ter os mesmos objetivos estratégicos. Somos obrigados a nos entender sobre a condução do negócio. É isso o que vai ter que acontecer".
"Esse, para mim, é o único ponto de conversa e, digo também, de concordância com a Telefónica", acrescentou o executivo.
Segundo ele, o objetivo dos acionistas, agora, é sanear a Vivo. Granadeiro observou que a implantação da rede GSM em paralelo à atual, no padrão CDMA, é uma medida nesse sentido, mas não a única. Ele citou a simplificação da estrutura societária e a integração dos sistemas de informação utilizados pela empresa como outras ações que fazem parte do projeto.
A Vivo é a maior operadora de telefonia móvel do país, mas não tem conseguido evitar um forte avanço da concorrência. A empresa teve prejuízo líquido de R$ 493,2 milhões no segundo trimestre e fechou o período com 28,5 milhões de clientes - quando limpou de sua base assinantes inativos, numa tentativa de reduzir custos e aumentar a transparência.
O presidente da Vivo, Roberto Lima, disse que foram criadas frentes de trabalho para ajudar no processo de melhora da situação da empresa. E acrescentou que perder a liderança do mercado brasileiro está fora de cogitação. "Vamos fazer de tudo para isso", destacou.