Título: Brasileira Stefanini monta filial na Índia
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 11/08/2006, Empresas, p. B3

"Antes de dizer alguma coisa, tenha certeza de que oferecerá algo melhor que o silêncio." O antigo provérbio indiano parece cair bem ao gosto do executivo Marco Stefanini, fundador e presidente da empresa que hoje carrega seu sobrenome e que figura entre as maiores prestadoras de serviços de informática no país.

Ponderado quanto aos debates acalorados que há um bom tempo envolvem a rivalidade entre Brasil e Índia no mercado de tecnologia da informação, nessa semana o executivo deu uma cartada que vai muito além das rodas de discussões. A brasileira Stefanini IT Solutions acaba de inaugurar uma filial na cidade de Hyderabad, o coração tecnológico da Índia. A operação, que receberá investimentos de aproximadamente US$ 3 milhões nos próximos três anos, deve contratar cerca de cem profissionais nos próximos seis meses. Até o fim de 2008, a expectativa é que pelo menos mil profissionais indianos sejam contratados.

E para quem pense em dirigir críticas ou desconfianças sobre aquele que decidiu fazer do "território inimigo" seu próprio ambiente de crescimento, Stefanini, enfim, fala: "O Brasil não é, nem será concorrente da Índia na área de tecnologia. Somos, na realidade, uma alternativa para trabalhar em nichos, de forma complementar". A tese, ao menos para a companhia, tem se confirmado.

Na Índia, a Stefanini não pretende brigar pelo mercado local, até porque o grande negócio dos indianos está mesmo no exterior. O objetivo, como aponta seu principal executivo, é ampliar a oferta de serviços para contratos globais, tendo como alvo os americanos. "Nós temos vantagens como o fuso-horário, a cultura ocidental e o conhecimento de negócios", comenta. "Já a Índia tem marca forte e muita gente que fala inglês."

Atualmente a companhia conta com cerca de 30 clientes internacionais, entre empresas como Dell, IBM, Johnson & Johnson, Roche e Scania. O executivo não revela detalhes, mas foi justamente o contrato com um de seus atuais clientes o que motivou sua ida para a Índia. "O usuário pede presença global, disponível a qualquer momento e nas melhores condições", argumenta.

Mas tudo isso não poderia ser feito a partir do Brasil? "Também a partir do Brasil. Na prática, não vamos substituir nada, queremos apenas complementar a oferta", responde Stefanini, acrescentando que, com a nova filial, passará a ter mais lastro para negociar contratos de grande porte. Outro fator que reforça a aposta na Índia reside no fato de que, atualmente, 70% dos serviços terceirizados naquele país são controlados diretamente pelas contratantes, e não por empresas indianas, propriamente. "Serei uma companhia brasileira, oferecendo também lá um serviço que já faço no Brasil", diz.

A nova unidade, basicamente, será responsável pelo desenvolvimento e manutenção de sistemas, além de suporte para pacotes de software usados na gestão das empresas. Com um contrato nas mãos, a empresa corre para fechar mais três contas globais nos próximos 12 meses. No mapa da Stefanini, cidades como Bangalore e Mumbai também estão entre as candidatas para receber outros dois escritórios que a companhia pretende montar até o fim de 2008. "É um investimento de fôlego. Estamos falando de algo que só começará a dar retorno após cinco anos de operação", comenta o executivo.

Com faturamento de R$ 250 milhões em 2005 e projeção de R$ 320 milhões para esse ano, a Stefanini nasceu em 1987, em um escritório montado na casa de seu fundador. Hoje são 11 escritórios nacionais e outros 11 espalhados nos Estados Unidos, Europa e África. Das contas internacionais vêm 20% da receita. A expectativa é que essa participação suba para 50% em quatro anos. Boa parte dessa meta está atrelada aos promissores negócios da Índia, um país que Marco Stefanini só visitou uma única vez, em 1990, e a passeio. Mas está claro que tanto a freqüência, como as motivações deste destino, mudarão rapidamente.