Título: Horizonte político de Mercadante cresce na avaliação de parte do PT
Autor: Junqueira,Caio
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2012, Política, p. A8

A posse de Aloizio Mercadante no Ministério da Educação não só lhe dá condições de ser uma peça fundamental do PT no projeto do partido de tomar o Estado de São Paulo do PSDB nas eleições de 2014, como também amplia seu horizonte político e lhe permite sonhar com voos maiores. Era essa a avaliação de petistas ligados ao político, presentes ontem à cerimônia de posse de Mercadante no Palácio do Planalto.

O motivo é a conjunção de fatores como a declarada prioridade da presidente Dilma Rousseff à melhoria de qualidade da educação, o iminente incremento do orçamento da área para 7% do PIB nos próximo anos e o fato de que teria de se desligar do cargo em pouco mais de dois anos, se quisesse tentar suceder Geraldo Alckmin (PSDB).

Mercadante fez o sucessor e também conseguiu manter no Ministério da Ciência e Tecnologia técnicos que o assessoraram no segundo e terceiro escalões. Sua área de influência tende a extrapolar os limites do MEC, que deve passar a ter uma atuação mais afinada com a área de ciência e tecnologia.

Isso ficou mais evidente após Dilma anunciar ontem em seu discurso o "casamento" das duas Pastas: "Estamos fazendo uma transmissão de cargo e um casamento entre a educação e ciência e tecnologia. Temos de dar conta de elevar o nível de conhecimento da nossa população para sermos capazes de gerar uma massa crítica que produz ciência, tecnologia e que produz inovação. Isso é o que estamos aqui reconhecendo ao ver este casamento.". Na sequência, classificou Mercadante de "excelente gestor e obstinado".

Até a nomeação ao cargo ser confirmada, o ministro era nome certo na disputa interna do PT pelo Bandeirantes. Com a posse, seu nome continuará a ser lembrado, mas seu empenho em conquistar a indicação é tão duvidoso quanto seu real interesse em partir para essa eleição.

Isso porque tal aposta diminuiria o tempo de trabalho no MEC, que teria de ser compartilhado com muitas articulações políticas. Em consequência, as chances de atender ao desejo de Dilma e apresentar resultados concretos seria também diminuída. Por outro lado, assumir o ministério e jogar com um cenário otimista de reeleição de Dilma poderia lhe garantir pelo menos cinco anos em uma das Pastas onde mais há trabalho a ser realizado no país e, consequentemente, visibilidade.

Ele mesmo deu sinais ontem nesse sentido. Questionado sobre seu papel em 2014, disse que sua prioridade agora é a educação. "Minha única preocupação é o MEC. O MEC é importante demais e a educação é a política mais estratégica para o Brasil. Toda a minha energia, toda a minha concentração, dedicação é exclusivamente à educação." Em seguida, ao responder se ficaria até o fim do mandato, declarou que "depende da presidenta", "é ela que decide o futuro de ministro" e que vai "trabalhar para isso [ficar até o fim]".

A se confirmar a permanência de Mercadante, os nomes apontados pelo PT para o que é considerado o grande projeto da década - tirar os tucanos do Palácio dos Bandeirantes - são os dos ministros da Saúde, Alexandre Padilha; da Justiça, José Eduardo Cardozo; e dos prefeitos de Osasco, Emídio de Souza; e de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho.

Seus correligionários avaliam que Marinho está um pouco à frente por ter a preferência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, assim, como ele, é oriundo do movimento sindical. Lula aliás foi fundamental para a ida de Mercadante ao MEC, o que eliminou um possível adversário interno do caminho de Marinho. Mas a candidatura também tem problemas. Além de ser reeleito neste ano, ele precisaria colocar o PT na vice, o que tem sido difícil. A vaga deve ser mantida com o PTB. Desse modo, deixar o cargo significaria entregar uma prefeitura importante e simbólica para a legenda.

Já Padilha tem grande trânsito interno e externo, mas precisará mostrar serviço em sua área, considerada nas pesquisas a mais problemática do país. Emídio é o que mais trabalha para conquistar a preferência petista. Entretanto, também precisa fazer seu sucessor. Cardozo corre por fora, mas se Haddad vingar na eleição de São Paulo, ganha força. Integra seu mesmo grupo político (Mensagem ao Partido) e é tido como mais palatável para a classe média paulista, que o PT tem dificuldades em conquistar.