Título: FMI vê risco de recessão global e pede ação na UE
Autor: Ribeiro,Alex
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2012, Internacional, p. A9

O Fundo Monetário Internacional (FMI) rebaixou a sua previsão para o crescimento da economia mundial em 2012, incluindo o Brasil, e alertou para o risco de um novo mergulho recessivo global, caso não sejam tomadas medidas adicionais para conter a crise na Europa e para estimular a demanda agregada em diferentes países.

Agora, a sua projeção é uma expansão mundial de 3,3% em 2012, abaixo dos 4% projetados em setembro. Os dados constam da nova versão do relatório Panorama Econômico Mundial, oficialmente divulgado ontem, cujas principais projeções já haviam sido antecipadas na semana passada pela agência de notícias Ansa.

O Brasil não ficará imune. Seu crescimento projetado em 2012 foi revisto para 3%, abaixo dos 3,6% estimados em setembro. A Europa deverá sofrer uma recessão moderada, com queda de 0,5% no seu Produto Interno Bruto (PIB). A projeção para o crescimento dos Estados Unidos, cuja economia surpreendeu positivamente nos últimos meses, permaneceu inalterada em 1,8%.

"O mundo poderá ser esmagado por uma outra recessão", alertou o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard. "Mas, com o conjunto certo de medidas, o pior pode ser evitado."

O crescimento mundial poderá ser dois pontos percentuais menor, projeta o FMI, se a crise da Europa se agravar, sem chegar á gravidade da quebra do banco Lehman Brothers, em 2008.

O receituário do FMI inclui colocar mais dinheiro nos fundos de socorro da Europa para criar uma barreira maior e impedir assim que a crise se alastre ainda mais. O Fundo também pede mais afrouxo monetário ao Banco Central Europeu (BCE) e prega moderação no ritmo de aperto fiscal, para evitar que o excesso de austeridade jogue a economia mundial ainda mais para baixo.

"Na Europa, os países com espaço fiscal devem desacelerar o ritmo de ajuste, para apoiar a atividade econômica", afirmou o chefe do departamento fiscal do FMI, Carlo Cotarelli. Mas os países que sofrem maior pressão dos mercados financeiros, como Portugal e Grécia, devem seguir com sua consolidação fiscal.

Outra preocupação central do FMI é evitar o congelamento do mercado de crédito bancário. Para fortalecer seus bancos, a Europa aumentou o índice de capitalização exigido. Os bancos, no entanto, estão cortando crédito para melhorarem seus índices de capitalização, em vez de levantar capital novo no mercado financeiro.

"Desalavancagem é como colesterol", afirmou José Viñals, conselheiro financeiro do FMI, sobre os riscos de os bancos europeus promoverem uma restrição severa de crédito. "Pode ser bom ou ruim." O FMI diz que, para corrigir o problema, será necessário exigir um volume mais alto de capital dos bancos, e não apenas um índice maior de capitalização.

Os países emergentes, afirma o FMI, já estão sendo afetados pela crise na Europa, por isso sua projeção de crescimento para 2012 foi rebaixada de 6,1% para 5,4%. O Fundo recomenda que eles estejam preparados para agir em caso de piora no cenário internacional

Um relatório fiscal divulgado ontem pelo FMI alerta que o Brasil deve estar preparado para tomar medidas adicionais de aperto fiscal para atingir a sua meta de superávit primário de 3,1% do PIB em 2012. Talvez seja necessária uma contenção adicional, afirma o documento, para compensar as medidas de estímulo fiscal adotadas recentemente pelo Brasil, cujo impacto é estimado em 0,2% do PIB pelo FMI.