Título: Nova vítima na Casa Civil
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 23/09/2010, Política, p. 3

Filha do presidente dos Correios, apadrinhada por Erenice, foi exonerada ontem de cargo comissionado

A lista de parentes e amigos da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra no governo incluiu também a filha do presidente dos Correios. Antes de indicar David José de Matos para a Presidência da estatal, a ex-ministra nomeou Paula Damas de Matos para cargo comissionado na Casa Civil. Contratada em 25 de junho para a função de assessora DAS 4, com salário de R$ 6.400 Paula foi exonerada ontem a pedido, publicou ontem a Casa Civil no Diário Oficial. Ela trabalhou lá por dois meses. Pedi para ela sair. Ela foi fazer um trabalho específico sobre enchentes, resume o presidente dos Correios.

As denúncias de tráfico de influência realizadas pela empresa de Israel Guerra, filho de Erenice, que culminaram na saída da ministra da Casa Civil, apontaram também a presença de pelo menos oito parentes e amigos de Erenice em cargos comissionados no governo. O próprio Israel sócio da consultoria Capital, que tinha contrato com a empresa de aviação Master Top Linhas Aéreas (MTA) foi funcionário da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). José Euricélio Alves de Carvalho, irmão de Erenice, passou pelo Ministério das Cidades, na Secretaria de Mobilidade Urbana. Um outro irmão da ex-ministra, Antônio Eudacy Alves, trabalhou na Controladoria-Geral da União (CGU) e na Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). A irmã de Erenice, Maria Euriza Alves de Carvalho, atuou como consultora jurídica para o Ministério de Minas e Energia.

Seleção A lista de familiares também passa pelo Ministério do Meio Ambiente. Um primo do ex-marido de Erenice está atualmente na Agência Nacional de Águas (ANA), mas o funcionário alega que não foi apadrinhado pela ex-ministra. A filha de Erenice chegou a participar de seleção para o ministério, mas não assumiu o cargo.

David José de Matos é amigo de Erenice há mais de 30 anos. Os dois trabalharam juntos na Eletronorte e na Companhia do Metrô do Distrito Federal. Erenice fez a indicação de David ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar da estreita relação com a ex-ministra, o presidente dos Correios afirma que não pretende colocar o cargo à disposição.

"Ela trabalhou lá por dois meses. Pedi para ela sair. Foi fazer um trabalho específico sobre enchentes David José de Matos, presidente dos Correios

PF ouve Baracat Edson Luiz

A Polícia Federal pretende tomar, ainda esta semana, os depoimentos de Israel e de Saulo Dourado Guerra, filhos da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra. Hoje, a PF vai ouvir o coronel Eduardo Artur Rodrigues, ex-diretor de Operações dos Correios, e o empresário Fábio Baracat, que negociou contratos entre a estatal e uma empresa aérea da qual era representante no Brasil e serviu de fonte para a reportagem que denunciou o esquema de tráfico de influência na Casa Civil. Na sexta, será a vez de Vinicius Castro, que pediu exoneração da Casa Civil quando surgiram as denúncias.

Desde o início da semana, a PF tenta localizar Israel e Saulo. Israel, segundo familiares, teria viajado para Goiânia, enquanto na casa do irmão ninguém atendeu os policiais. Ontem, a PF recebeu parte dos documentos que serão anexados à investigação. O principal é a renovação da licença da Master Top Airlines (MTA) representada no Brasil por Baracat pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Entenda o caso Propina e influência Israel Guerra é acusado de lobby e tráfico de influência, usando o nome de sua mãe, a ex-ministra Erenice Guerra, para negociar vantagens em contratos de empresas privadas com o governo. A empresa Capital Assessoria e Consultoria, da qual Israel era sócio, foi contratada pela Master Top Linhas Aéreas (MTA), uma empresa especializada em transporte aéreo, para ajudar a firma a fechar negócio de mais de R$ 80 milhões com os Correios. De acordo com reportagem da revista Veja, Israel receberia 6% do montante se os contratos fossem firmados. Um total estimado em R$ 5 milhões. A denúncia abalou a permanência de Erenice na Casa Civil. Mas a mãe de Israel só deixou a pasta depois de nova revelação. Israel foi acusado por empresário de cobrar propina para facilitar o acesso da firma à Casa Civil para negociar empréstimo com o BNDES. Reportagens do Correio também indicaram que Israel era funcionário fantasma da Terracap, no DF, com salário de R$ 6,8 mil mensais. O filho de Erenice acabou exonerado do cargo. (JJ)