Título: INPC baixo ajuda acordos salariais do semestre
Autor: Maia, Samantha
Fonte: Valor Econômico, 11/08/2006, Brasil, p. A4

O bom momento da economia, a inflação baixa e também o aumento do salário mínimo estão levando as categorias com data-base no segundo semestre a preverem uma negociação mais tranqüila na concessão de aumentos reais. O índice utilizado para fixar os reajustes salariais - o INPC - deve ficar abaixo de 3% no acumulado em 12 meses ao longo do semestre. Entre as categorias com negociação nos próximos meses estão metalúrgicos, petroleiro, químicos e bancários.

Os metalúrgicos do ABC vão negociar reajuste salarial - reposição da inflação pelo INPC e aumento real ainda em aberto - apenas para os funcionários dos setores de bens de capital (máquinas e eletroeletrônicos, chamado grupo 9) e lâmpada e estamparias (grupo 10), pois os demais setores (montadoras, autopeças e fundição) já fecharam, no ano passado, acordo de aumento real entre 1,3% e 1,99% estendido para este ano, que já previa a reposição pela inflação. Em 2005, pela primeira vez, a categoria negociou cláusulas econômicas válidas por dois anos.

A categoria reivindica a instituição de um piso salarial único para os dois grupos e a mudança das datas-base para setembro, como os demais setores. Hoje, a data-base do grupo 9 é em agosto, e do grupo 10, em novembro. Para Adi dos Santos Lima, presidente da Federação Estadual dos Metalúrgicos (FEM-CUT), o bom momento da indústria ajudará a obtenção de aumentos reais. "Queremos garantir os 3% do INPC, e o reajuste real vamos ver na mesa de negociação", diz o sindicalista.

Os metalúrgicos representados pela Força Sindical farão campanha unificada no país. A maior parte da categoria está concentrada em São Paulo: cerca de 700 mil trabalhadores. O valor do reajuste será divulgado em plenária nacional no dia 21 de setembro, conta o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Eleno Bezerra. "Pediremos um valor fechado, em torno de 10% a 12%, já incluída a reposição da inflação", diz. Dois pontos fortes da campanha serão a implementação de um projeto profissionalizante, onde as empresas se comprometeriam a fornecer cursos de formação a seus funcionários, e a isenção de tarifas bancárias para as contas-salário.

Segundo o dirigente, o fato de a indústria apresentar bom desempenho favorece a negociação de benefícios. "Vamos incluir na convenção coletiva benefícios como desconto em medicamentos e plano odontológico, pois é um momento de buscarmos agregar valores que as empresas possam pagar", diz Bezerra.

A pauta inicial de reivindicações dos químicos também prevê aumento real, a ser estipulado de acordo com os resultados de produtividade do setor. "Ainda não temos esses números fechados, mas estimamos que a produtividade será de 4%", diz Aparecido Donizeti da Silva, coordenador-geral da Confederação Nacional dos Químicos (CNQ-CUT). Para o piso, que é de R$ 507, será pedido um aumento diferenciado. "Já chegamos a ter um piso equivalente a três salários mínimos. De 1994 para cá, o nosso piso perdeu muito poder de compra", afirma Donizeti.

Outros pontos reivindicados são o direito à organização no local de trabalho (as chamadas comissões de fábrica), uma participação de lucros maior e a redução de 10% da jornada de trabalho (96% da categoria trabalha 44 horas semanais) sem redução de salários. "As grandes empresas investiram muito em tecnologia, e hoje produzem muito mais com menos trabalhadores, dessa forma a jornada pode ser reduzida", avalia o sindicalista. Todos esses pontos deverão ainda ser debatidos em assembléia nos sindicatos até o dia 14 de setembro, e no começo de outubro a pauta será entregue aos empresários. A data-base da categoria é em novembro.

Os petroleiros estão aguardando avaliação da sua assessoria econômica sobre as condições da Petrobras para definir o valor do reajuste salarial que vão reivindicar. No ano passado, a categoria teve aumento real de 4% para os trabalhadores da ativa. "Até semana que vem devemos fechar a pauta de reivindicações e começar a campanha", diz o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP-CUT), Élio Seizel.

Em 2005, os petroleiros fecharam acordo para cláusulas sociais - questões referentes a regimes de trabalho, implementação de benefícios - válido também para este ano, e agora vão negociar apenas as cláusulas econômicas (reajustes de salários e benefícios, como vale-alimentação e vale-transporte), em uma situação contrária à dos metalúrgicos do ABC.

A data-base da categoria é setembro, junto com os bancários, que, em campanha unificada entre bancos públicos e privados, pedem este ano aumento de 7,05% além da reposição da inflação. Outras reivindicações são aumento da participação de lucros e resultados e a ampliação do horário de atendimento, com dois turnos de trabalho.