Título: BCs ampliam estoque de ativos na crise
Autor: Hilsenrath,Jon
Fonte: Valor Econômico, 30/01/2012, Internacional, p. A6

Para os maiores bancos centrais do mundo, o balanço sempre foi a arma para uma economia mundial assolada por crises - uma arma que eles parecem propensos a continuar usando em 2012.

Antes da crise de 2008, a maioria dos bancos centrais administrava crédito, inflação e crescimento econômico aumentando ou diminuindo juros pouco a pouco. Mas recentemente, com juros perto de zero nos Estados Unidos, no Reino Unido e no Japão, e não muito acima disso na zona do euro, os maiores bancos centrais do mundo têm recorrido à prática de ceder empréstimos não convencionais e aumentar o tamanho de suas carteiras de investimentos, ações que economistas chamam de expansão do balanço porque isso implica que o estoque de ativos dos bancos está crescendo.

A meta dessas ações é tornar o crédito mais acessível para indivíduos e empresas, aumentando consumo e investimento, e evitar que os mercados financeiros congelem, como aconteceu em 2008.

As táticas variam. O banco central americano, o Fed, tem se concentrado em comprar dívida de longo prazo do governo dos EUA e títulos de dívida ligados a hipotecas. O Banco Central Europeu tem feito empréstimos de longo prazo diretamente aos bancos. O Banco do Japão chegou a se aventurar nos mercados de ações e de empréstimos a empresas.

Com o mundo desenvolvido crescendo pouco, ameaças de caos financeiro sobrevoando a Europa e inflação dando sinais de recuo em todo o mundo, analistas cada vez mais acreditam que o balanço dos bancos centrais vai crescer nos próximos meses.

"Alguns balanços acho que vão crescer em quanta", diz Nathan Sheets, economista do Citigroup e ex-diretor do departamento de pesquisa internacional do Fed.

Sheets espera que o Fed comece um novo programa de compra de dívida garantida por hipoteca, o Banco da Inglaterra amplie suas compras de dívida do governo e o BCE aumente tanto o empréstimo a bancos como as compras de investimentos. O Banco do Japão tem tendido a dar passos pequenos e em lugares não usuais, como o mercado de investimento imobiliário do Japão, e Sheets acredita que isso vá continuar.

Na semana passada, o presidente do Fed, Ben Bernanke, deu fortes indícios de que o banco central americano vai se inclinar a fazer mais compras. Se a recuperação dos EUA não se acelerar ou se a inflação der sinais de estar aplacada, pode haver "uma forte conjetura" por mais ações do Fed, disse ele.

A compra de ativos instigou o debate sobre seus prós e contras. Oponentes dizem que as medidas não estimularam fortes recuperações; defensores dizem que as economias estariam piores sem elas.

Críticos também já disseram que as medidas alimentam a inflação. Quando um banco central compra títulos hipotecários ou faz empréstimos de longo prazo para bancos, ele injeta dinheiro no sistema financeiro ao depositar dinheiro nas contas de investidores ou bancos em troca do ativo que o banco central está acumulando. O dinheiro novo que o banco central está criando poderia enfraquecer a moeda ou causar inflação. Alguns apontam para as compras de ativos - também conhecidas como afrouxamento quantitativo, ou a sigla em inglês QE - como uma causa da alta internacional de preços do petróleo, do trigo e de outras commodities em 2010 e início de 2011, que prejudicaram tantos consumidores.

Bernanke argumentou na quarta-feira que os alertas de inflação dos últimos anos não vingaram - os preços de commodities, por exemplo, arrefeceram-se no segundo semestre de 2011.

O BCE aumentou sua resposta em fins do ano passado, sob o presidente Mario Draghi, com cortes sequenciais de juros - revertendo um par de altas em meses anteriores - que trouxeram sua taxa principal de volta para 1%.

Alguns economistas dizem que o uso do balanço por parte do BCE teve o efeito principal de estabilizar os mercados. E que o banco poderia aumentar muito isso. Perto de €500 bilhões (US$ 660 bilhões) em novos empréstimos de três anos para os bancos, e compras em andamento de dívida do governo e de títulos lastreados por hipotecas, levaram os ativos no balanço do BCE para 2,7 trilhões de euros no começo deste mês.

As regras do BCE proíbem o banco de financiar governos, e mesmo suas compras limitadas de dívida soberana são polêmicas dentro da Europa. Em contraste, ele tem mais de €800 bilhões em empréstimos em aberto para bancos, muito mais do que outros bancos centrais.

A composição desses balanços é muito importante. O Fed e o Banco da Inglaterra têm comprado, principalmente, dívida de governos de baixo risco. Mas o BCE tem comprado títulos arriscados de Portugal, Grécia, Itália e Espanha, e já emprestou centenas de bilhões de euros para bancos frágeis do sul da Europa e da Irlanda.

"Se alguém não consegue quitar sua dívida e você lhe empresta mais dinheiro, isso só adia o risco e ele fica maior", diz Hans-Werner Sinn, diretor do centro de estudos alemão Ifo Institute.

O Banco da Inglaterra tem sido o mais agressivo em expandir seu balanço. Ele mais que triplicou o tamanho de seu balanço desde a crise financeira de 2008-09, em grande parte pelo programa de 275 bilhões de libras (US$ 432 bilhões) em compras de títulos de dívida do governo para manter os juros baixos, uma decisão que segundo economistas amenizou o enfraquecimento da economia britânica.

Sheets diz que o programa poderia ter sido ainda maior. "O Banco da Inglaterra é o campeão do QE", disse.