Título: País desperta forte interesse em Davos
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Fonte: Valor Econômico, 30/01/2012, Internacional, p. A7

O salão no Hotel Belvedere, em Davos, estava cheio de convidados do governo brasileiro. O alemão Eric Essiger, presidente da Emirates Capital, parecia não conhecer muita gente. Mas queria só uma coisa: saber como investir "muitas centenas de milhões de dólares"" no Brasil.

A Emirates Capital caça investimentos para seus clientes, incluindo fundos soberanos e empresas da Arábia Saudita, como ele contou. Seu objetivo é simples: com a Europa em crise e os investimentos rendendo pouco no velho continente, seus clientes querem investir dinheiro em minas de ouro e em aquisição de terras no Brasil, que são consideradas aplicações seguras.

Essiger acertou um encontro com o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Alessando Teixeira, para a semana que vem em Brasília. E reiterou que o montante do dinheiro depende do que o Brasil pode aceitar como investimento que a Emirates quer fazer. Despediu-se e partiu antes do fim do almoço.

Dois outros fundos de investimentos procuraram os representantes brasileiros para dizer que querem investir "mais de US$ 1 bilhão no Brasil. No encontro de sábado ao meio-dia, que a Apex (Agência de Promoção de Exportações) organizou, a impressão era de que todo mundo queria investir ou pelo menos vender para o Brasil.

No Fórum Mundial de Economia, o interesse pelo país foi forte entre participantes. Um debate sobre as perspectivas brasileiras gastou quase todo o tempo em elogios. O ministro da Defesa da Noruega, Espen Barth Eide, chegou a apontar semelhanças entre o modelo brasileiro, de crescimento com inclusão social, e o norueguês. Outro ministro escandinavo tinha sugerido para o Brasil deixar de ser modesto e contar mais ao mundo o que está fazendo.

A voz discordante veio com o professor americano Daniel Isenberg. Ele não aguentou, levantou-se quase no fim do debate para reclamar de autossatisfação dos brasileiros. E passou a apontar problemas como burocracia excessiva, insegurança, mercado de capital distorcido.

"Um fala que somos modestos, outro aponta autossatisfação. A verdade deve estar no meio", comentou rindo o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. Ele e Teixeira, do MDIC, foram incansáveis nas explicações sobre a situação brasileira, ao longo do fórum de Davos.

A presença brasileira terminou com uma "noite cultural" no Centro do Congresso, onde os líderes fazem seus discursos, que dificilmente a elite mundial esquecerá. Foi provavelmente a melhor festa promovida nos últimos anos em Davos. Sem exageros, elegante, com boa representatividade da culinária brasileira - de tapioca a feijoada, picanha e bobo de camarão -, um excelente balé (grupo Corpo, de Belo Horizonte), música variando de bossa nova e forró a samba e chorinho. E, para completar, imagens do Brasil passando nos telões, para admiração geral.

A equipe da Apex deu um show. E restou ao fim sempre a mesma indagação de participantes: "onde está sua presidente?". (AM)