Título: Marketing limpo conquista eleitores
Autor: Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 28/09/2010, Política, p. 2

Enquanto o país aguarda o desfecho da polêmica jurídica em torno da aplicação da Lei da Ficha Limpa, a migração de votos de políticos enquadrados na regra mostra um movimento de reação popular contra os acusados.

Pelo menos seis candidatos a cargos majoritários que foram barrados pela Justiça Eleitoral estão tendo de amargar índices mais tímidos na preferência do eleitorado. Quedas que resultam principalmente dos ataques de adversários nos programas eleitorais e da divulgação das pendências judiciais que resultaram nas impugnações das candidaturas.

A queda de Joaquim Roriz (PSC) nas pesquisas é uma demonstração da força do marketing em torno da nova regra e do sucesso dos ataques dos concorrentes que usam como argumento as acusações que pesam nas costas dos políticos barrados. Liderando a disputa com quase metade da preferência dos eleitorado em julho, Roriz caiu e abandonou o jogo, pelo menos formalmente, quando corria o risco de perder já no primeiro turno.

Essa queda nas pesquisas dos políticos cujacondutanãoécompatível com a Ficha Limpa nos anima. Ainda não é o ideal. O objetivo é barrar todas essas candidaturas desde o início.Mas, por enquanto, estamos comemorando a queda dos fichas sujas nas intenções de votos. Já é uma melhoria significativa. Umavanço, avalia o coordenador doMovimento de Combate à Corrupção Eleitoral, Márlon Reis.

Perdas Exemplos das desvantagens que políticos ficha suja estão tendo nessa disputa se espalham pelo país. No Pará, o candidato ao Senado Jader Barbalho (PMDB) iniciou a campanha nadando numaliderança de50%da preferência dos eleitores. Depois de meses de acusaçõeseda campanha intensa de opositores para conectar sua imagem a de umficha suja , o peemedebista continua na liderança, mas, agora, com 42% da preferência dos eleitores, segundo a última pesquisa Ibope. Considerando o número total de pessoas aptas a votar no Pará, a perda de Barbalho chega a 190 mil votosemummês.

No mesmo estado, também está outro candidato ao Senado prejudicado pela nova lei. Paulo Rocha (PT-PA), que se envolveu no escândalo do mensalão e renunciou ao mandato na Câmara em 2005 para escapar do processo de cassação, continua com 29% da preferência do eleitorado, segundo a última pesquisa Ibope.

No entanto, a campanha Ficha Limpa lhe rendeu a queda para o terceiro lugar na disputa pelo Senado, sendo ultrapassado por Flexa Ribeiro (PSDB).

Abuso Dificuldade maior tem sido enfrentada pelo candidato ao governo de Rondônia, Expedito Júnior (PSDB). Cassado pela Justiça Eleitoral por abuso de poder econômico e por compra de votos nas eleições de 2006, o tucano iniciou a disputa com 26%, na dianteira da preferência dos eleitores. Meses de campanha se passarame o cenário mudou, segundo a pesquisa Ibope divulgada no início do mês. Júnior tem agora 22% e foi ultrapassado pelo atual governador João Cahulla (PPS), que aparece com 24%. A queda do tucano representa a perda de mais de 43 mil votos, considerando o número de eleitores do estado.

Em Alagoas, Ronaldo Lessa (PDT) também tem enfrentado um marketing intenso de adversários para divulgar suas pendências judiciais. Acusado quase diariamente nos programas como ficha suja, perdeu a posição de vantagem que tinha no início da campanha e agora briga para sobreviver a uma disputa embolada com Fernando Collor (PTB) eTeotônioVilela (PSDB).

Para Márlon Reis, as mudanças nos cenários são umreflexo de que a população começou a avaliar a conduta pregressa dos candidatos. Segundo ele, independentemente da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a aplicação imediata da lei, os próprios eleitores poderão deixar de lado candidatos fichas sujas.

O futuro é promissor. O eleitorado está ficando consciente e esperamos que cada vezmais os políticos fichas sujas fiquem de fora das disputas eleitorais, diz.