Título: IPCA-15 varia 0,84% em dezembro e confirma inflação na meta em 2004
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 22/12/2004, Brasil, p. A2

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) variou 0,84% em dezembro, fechando o ano em 7,54%, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número confirma expectativas do mercado de que, pela primeira vez, desde 2000, a inflação de 2004 vai ficar dentro da meta fixada pelo Banco Central. A variação mensal do IPCA-15 ficou acima dos 0,63% de novembro por conta principalmente da alta dos alimentos, que como era esperado, tiveram reversão de tendência no período de coleta de preços do índice, em meados de novembro. O grupo alimentação fechou em meados de dezembro (período de coleta do IPCA-15) com alta de 0,19% ante uma deflação no mês anterior de 0,05%, influenciado pelo reajuste das carnes, de 3,31%. Os alimentos pesam muito na inflação e nos últimos meses ajudaram a segurar as taxas. "É de se supor que se não fossem os alimentos, o IPCA teria ultrapassado a meta do BC mais uma vez", avaliou o economista Carlos Thadeu Filho, economista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Thadeu Filho destacou que o IPCA-15 indicou uma alteração forte na sua composição. "Foram embora os fatores que o BC estava monitorando, como o nível de repasse dos industrializados para o varejo, principalmente bens duráveis e entraram em cena fatores pontuais como alimentos, vestuário e serviços, ou seja, os não duráveis". Na sua análise, o fenômeno requer atenção pois sinaliza mudança no perfil de crescimento da economia. O crescimento, antes focado em duráveis por conta da oferta de crédito, agora está mais centrado no setor de não duráveis. "Estamos iniciando um período em que a renda vai ajudar a economia a crescer", pressagiou. Mas, o fato não é sinônimo de pressão de demanda, pois, como observou, os bens não duráveis ainda estão com elevada ociosidade. Para 2005, o grupo de conjuntura da UFRJ, ao qual pertence Thadeu Filho, projeta inflação de 5,9%. Ele avalia que a taxa de 5,1%, fixada como centro da meta pelo BC "é muito apertada". No seu cálculo, boa parte da inflação de 2005 já está contratada: 7% já é piso dos preços administrados para o ano que vem, mesmo que o combustível e a energia elétrica caiam um pouco, pois englobam contratos em doze meses com o IGP-M que deve encerrar o ano com taxa de 12,5%. "O espaço que sobra para os preços livres variarem é de 4,2%. Para fechar nos 5,1% os livres tinham de subir só 0,35% ao mês. Em janeiro, os preços livres vão subir 0,50% no mínimo, pois novas altas estão sendo anunciadas", previu. "A Vale espera alta de 25% para o minério de ferro e o aço deve subir 15%". Apesar dessa retomada das commodities, a trajetória da inflação de 2005 é de queda, na ótica de Thadeu. Isto, porque os indicadores de preços ainda não captaram o impacto positivo da apreciação cambial sobre os produtos comercializáveis, o que vai contribuir para neutralizar os novos choques. "Por esta razão, o BC prefere não influir nos rumos do câmbio". Seu único temor, é uma reviravolta na economia internacional com subida precipitada dos juros nos EUA.