Título: Graça Foster poderá assumir comando da estatal
Autor: Magalhães, Heloisa
Fonte: Valor Econômico, 23/01/2012, Política, p. A8

A engenheira química com mestrado em engenharia de fluidos, pós-graduação em engenharia nuclear e MBA em economia, Maria das Graças Silva Foster, ou Graça Foster, como é chamada, terá como desafio à frente da Petrobras, se confirmada sua nomeação para a presidência da estatal, tirá-la de um impasse: aumentar a produção e dar fim à desconfiança do mercado financeiro de que, hoje cheia de reservas, não consegue atingir esse objetivo.

Comparada a José Sérgio Gabrielli, Graça tem perfil mais executivo e de menor exposição à mídia. E é vista pela presidente Dilma Rousseff como grande executora de projetos. "Assim como Dilma, ela tem profundo conhecimento sobre a indústria química e de energia. É extremamente preparada", avalia o sócio-diretor da consultoria MaxiQuim, João Luiz Zuñeda. "Seja quem for responder pelo cargo, um dos principais desafios será acelerar os projetos e o debate sobre como valorar o pré-sal."

A atual situação da Petrobras preocupa. Em dezembro a empresa não conseguiu atingir a meta de produção de 2,1 mil barris diários. A estatal encontra dificuldades para tocar projetos em função dos entraves que a nova legislação impõe à companhia, como as exigências de nacionalização de plataformas.

Conforme Zuñeda, a definição do papel que a Petrobras vai desempenhar nesta década, com vistas ao fortalecimento da indústria química e petroquímica, também aparece como uma das prioridades da empresa. "A Petrobras é peça fundamental para fazer acontecer qualquer grande movimento na área. É preciso encontrar alguma maneira de acelerar o fortalecimento da cadeia, a exemplo do que os EUA já fazem".

Em outubro, foi Graça quem participou, como executiva da Petrobras, da visita oficial da presidente Dilma à Bulgária, Bruxelas e Turquia. A executiva conheceu a presidente em 1999, quando ela ainda era secretária de Energia do Rio Grande do Sul e presidente do conselho de administração da distribuidora Sulgás. Graça era gerente da área de Tecnologia do Gás Natural da Gaspetro. A aproximação rendeu o convite para ocupar a secretaria de Petróleo e Gás quando Dilma assumiu o Ministério de Minas e Energia, no primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela ocupou o cargo por dois anos e oito meses, de 2003 a 2005, período em que as duas mulheres fortes da área de energia ficaram ainda mais próximas.

Da Petroquisa, a executiva foi presidir a BR Distribuidora, onde organizou o mercado de biocombustíveis. Ficou na subsidiária até setembro de 2007, quando se tornou a primeira mulher a assumir uma diretoria da Petrobras. A área acumulou lucro de R$ 2,6 bilhões até setembro de 2011, o segundo melhor resultado da estatal, só atrás da exploração e produção. Quando assumiu o posto, o prejuízo acumulado no mesmo período era de R$ 895 milhões.

O estilo de Graça é duro, semelhante ao da presidente. Com a Associação Brasileira das Distribuidoras de Gás (Abegás), travou uma queda de braço em torno dos preços do gás natural, que terminou por retirar a Gaspetro da associação, apesar de a subsidiária ter participação acionária em 21 das 27 distribuidoras de gás do país. Graça justificou a medida dizendo que a Petrobras tinha que se unir às empresas que produzem, carregam e transportam gás, e não das que vendem. Tanto esforço lhe rendeu críticas nas negociações de regulamentação da Lei do Gás. Outro atributo da executiva é o horário de trabalho, que pode começar às 7h e se estender até 21h. Mas sempre carrega uma pasta intitulada "trabalho de casa". Também é conhecido o fervor quase religioso com que defende a Petrobras como corporação.

Graça Foster nasceu em Minas e cresceu em uma favela do Rio nos anos 50 - o Morro do Adeus, que hoje faz parte do Complexo do Alemão. Foi lá que viveu até os 12 anos, quando a família se mudou para a Ilha do Governador. No morro, começou a trabalhar aos oito anos, catando papel, garrafas e latas, que vendia para comprar material escolar e presentes para sua "florzinha", como chama a mãe, Terezinha Pena Silva. Procurada pelo Valor, Graça Foster não foi encontrada até o fechamento desta edição.