Título: Mínimo reforça planos de parte da indústria
Autor: Martins,Arícia
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2012, Brasil, p. A4

Após um ano ruim para a indústria em 2011 - com crescimento de apenas 0,3% sobre 2010 -, o aumento de 14% do salário mínimo pode estimular a produção em setores cujas vendas dependem mais da renda do que do crédito e dar um alento ao resultado geral no fim do ano. Levantamento do Valor com nove empresas dos setores de alimentos e bebidas, vestuário, cosméticos e motocicletas e três associações de indústrias indica que a maioria dos empresários está otimista com o reajuste, que elevou o valor do mínimo de R$ 545 para R$ 622 a partir de 1º de janeiro, e planeja produzir mais este ano para atender essa demanda extra. Cálculos de diferentes consultorias indicam que o mínimo vai injetar uma renda extra de R$ 60 bilhões na economia este ano.

O setor de alimentos e bebidas - segunda maior indústria do país e empregadora de 1,54 milhão de pessoas em 2011 - deve ser um dos mais beneficiados com o aumento. Dos 4% a 4,5% previstos para o aumento da produção do setor em 2012, cerca de dois pontos percentuais devem vir apenas da alta do mínimo, segundo Denis Ribeiro, diretor do Departamento de Economia e Estatística da Associação Brasileira das Indústria da Alimentação (Abia), que reúne 45 mil empresas do segmento.

Ribeiro aponta que a nova Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE, mostrou que a família brasileira gasta, em média, 16% de seus rendimentos com alimentos. "Considerando a quantia a ser injetada na economia com o aumento do mínimo, 16% é substancial para o setor de alimentos", diz. Em 2011, a Abia calcula que a produção do setor aumentou 5% sobre 2010, número que não é a estimativa oficial da entidade para 2012, mas que pode ser alcançado caso não haja deterioração adicional do cenário externo, afirma o diretor. "A produção pode até crescer um pouco mais em função desse apoio do mercado interno."

A General Brands, empresa cujo principal negócio é a fabricação de refrescos em pó e néctares (sucos prontos para beber), planeja incrementar a produção dessas duas bebidas este ano após ter dobrado a de néctares e ter elevado a de refrescos em 5% em 2011. "Essa injeção do mínimo é um prato cheio para o consumo", diz Isael Pinto, diretor-presidente da GB, que ainda não tem projeções fechadas para a produção em 2012, mas acredita que o faturamento da companhia vai avançar 20% este ano.

Com uma fábrica em Guarulhos, a GB emprega cerca de 650 pessoas e também produz gelatinas, gomas de mascar, bebidas à base de soja, chás e sucos naturais. Pinto está mais otimista ainda com o mínimo porque seus produtos, vendidos em sua maioria em redes de supermercados, são líderes de mercado em boa parte do Norte e Nordeste, regiões onde o reajuste terá maior impacto na economia.

A Ajinomoto - cuja linha ao consumidor é voltada para temperos, mas inclui sopas individuais, refrescos em pó e adoçantes - não divulga estimativas de produção separadas por área de negócio, mas acredita que o mínimo impactará toda a linha de alimentos, pois cerca de 80% de seus consumidores pertencem às classes C, D e E, segundo Chiara Tengan, gerente de marcas da companhia. "O aumento da renda da população sempre se reflete positivamente em nosso volume, pois além de permitir a entrada de consumidores de todas as classes sociais, contribui para que consumidores atuais elevem sua frequência de consumo", diz.

Os setores têxtil e de vestuário também vislumbram um ano melhor em 2012, mas não só devido ao mínimo. Em 2011, segundo o IBGE, a produção nessas duas indústrias caiu 14,9% e 4,4%, respectivamente, em relação a 2010. Para a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), o resultado negativo é explicado pelo aumento da parcela de importados no mercado, já que o consumo se manteve em alta. Pesquisa do Pyxis Consumo, ferramenta do Ibope Inteligência, aponta que cada brasileiro gastou R$ 583 com roupas em 2011, valor que deve subir para R$ 670 este ano.

O presidente da Abit, Aguinaldo Diniz Filho, espera que, com a queda da taxa de juros, um câmbio menos valorizado que o de 2011 e a expansão da renda provocada pelo mínimo, a indústria nacional aumente sua participação no consumo desses produtos em 2012. "Se houver transferência de renda para importação, no entanto, estamos sendo ingênuos", pondera.

"A injeção de recursos no mercado é benéfica para todo mundo", afirma Carlos Alexandre Döhler, diretor-comercial da Döhler, empresa catarinense que fabrica produtos têxteis para casa. Por ter capital aberto, a companhia ainda não pode informar suas projeções para 2012, que devem ser divulgadas no próximo relatório trimestral à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A expectativa, no entanto, é positiva, antecipa o empresário, já que a Döhler é voltada para o consumidor das classes C e D. "Estamos prevendo para 2012 um "difícil ano bom". A produção vai ser um pouco maior do que em 2011 e continuamos fazendo investimentos", diz.