Título: Curado deve assumir a Embraer em abril de 2007
Autor: Adachi, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 07/08/2006, Empresas, p. B7

A expectativa de que o sucessor de Maurício Botelho na presidência da fabricante brasileira de aviões Embraer seria um executivo da casa se confirmou. O engenheiro Frederico Fleury Curado, atual vice-presidente da área de aviação comercial, assumirá o comando da companhia a partir de abril do próximo ano. Ele foi escolhido pelos onze membros do conselho de administração da Embraer na sexta.

Embora a opção por Curado viesse sendo mantida sob sigilo, seu nome já era tido por pessoas próximas à companhia como um dos mais prováveis para suceder Botelho, conforme noticiou o Valor em 23 de janeiro.

Com 45 anos, Curado está na Embraer desde 1984 e nos últimos oito anos esteve à frente da área de aviação comercial, o maior nicho de atuação da empresa, que responde por mais de 70% da sua receita. Como boa parte dos quadros da Embraer, Curado é formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Fez pós-graduação em Comércio Exterior pela Fundação Getúlio Vargas e MBA Executivo Internacional pela Universidade de São Paulo.

A partir de abril de 2007, Botelho permanecerá como presidente do conselho da Embraer pelo menos até 2009, quando vence o seu mandato. O executivo assumiu a empresa a partir da sua privatização, em 1995, e a transformou de estatal sucateada em referência mundial no setor aeronáutico, entre as quatro maiores empresas.

Sua sucessão foi acertada dentro de uma reformulação ampla da companhia, anunciada em janeiro deste ano. Os fundos de pensão Previ (Banco do Brasil) e Sistel (Telebrás) e o grupo Bozano, que adquiriram o controle da Embraer no leilão de privatização, decidiram fazer uma reestruturação societária para acabar com o bloco de controle. Desde 31 de março, a Embraer dispõe apenas de ações ordinárias e cada acionista tem seu poder de voto limitado a 5% do total em cada assembléia. Os três controladores receberam um prêmio de 9% na operação.

Um dos objetivos declarados da reestruturação foi criar as bases para o crescimento continuado da Embraer. Com essa nova composição acionária, a empresa poderá facilmente acessar o mercado de ações para captar recursos e financiar seus futuros projetos. Antes estava limitada porque, para emitir novas ações preferenciais sem diluir os controladores, esses teriam que acompanhar o aumento de capital. No entanto, os fundos de pensão encontram-se no limite legal para aplicação em ações.

A reestruturação, entretanto, também abriu as portas para que os antigos controladores deixem o investimento. Antes suas ações estavam atreladas ao acordo de acionistas. Tal amarra deixou de existir a partir de 31 de março, com a extinção de tal acordo. Além disso, seus papéis tornaram-se muito mais líquidos desde que todo o capital da Embraer passou a ser constituído de ações ordinárias, o que favorece a venda.

A princípio, os antigos controladores ficaram proibidos de vender suas ações por um período de seis meses (lock up). O prazo passou a contar em 31 de março, o que significa que a quarentena acaba a partir de outubro.

É sabido que a Sistel precisa desfazer-se de posições em bolsa. Mas também existe a possibilidade de que o grupo Bozano tenha interesse em vender participação. O ex-banqueiro Júlio Bozano já se desfez de diversos ativos nos últimos tempos, numa clara estratégia de tornar seu patrimônio líquido. Vendeu sua parte da fazenda de café Ipanema para um fundo administrado por Armínio Fraga e também saiu do negócio de shopping center. Só restariam os 11,10% em ações da Embraer, avaliados em cerca R$ 1,5 bilhão.