Título: Desemprego é recorde na zona do euro, mas afeta mais o sul da UE
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Fonte: Valor Econômico, 01/02/2012, Internacional, p. A11

Em meio à crise da dívida e com a região à beira da recessão, o desemprego na zona do euro atingiu um nível recorde no final de 2011, com um em cada dez trabalhadores inativo.

Mas os números mostram uma Europa marchando a duas velocidades. De um lado estão os países com menor desemprego, no norte do continente, que têm superávit em conta corrente e estão crescendo pouco ou estagnados. Já os países com maior desemprego são os mais atingidos pela crise da dívida, ficam em sua maioria no sul do continente, têm elevados déficits em conta corrente e estão em recessão.

A Alemanha, que lidera o primeiro grupo, anunciou ontem o menor nível de desemprego em cerca de duas décadas.

Esses dados reforçam a necessidade de medidas de estímulo ao crescimento nos países mais afetados pela crise e devem elevar a pressão sobre a Alemanha, a maior economia da Europa, para que assuma um papel mais ativo na recuperação da região.

A Eurostat, a agência de estatísticas da União Europeia (UE), informou que o número de desempregados nos 17 países que integram o bloco atingiu em dezembro a marca de 10,4%. Trata-se do maior patamar desde o lançamento do euro, em 1999 - como comparação, em dezembro de 2010 índice estava em 9,5%. O fechamento de vagas aconteceu de forma progressiva durante todo o ano passado, em grande parte devido à crise da dívida.

Contudo, há enormes disparidades entre os membros da UE. Grécia e Espanha, países que se encontram na linha de frente da atual turbulência financeira, estão enfrentando níveis recordes de desemprego. Os espanhóis têm a pior taxa, com 22,9%, seguidos de perto pelos gregos, com 19,2%. Na Itália, o desemprego atingiu o nível mais elevado desde 2004, batendo em 8,9%.

Apesar de altos, esses números ainda mascaram o fato de que o desemprego entre os jovens é bem mais grave. As estatísticas mais recentes da Espanha apontam que 48,7% das pessoas com menos de 25 anos não têm trabalho. Além dos danos que a falta de experiência pode provocar na formação profissional dessa geração, há a questão da instabilidade social - não à toa, foi na Espanha que surgiu, no ano passado, o movimento dos Indignados, que inspirou o Ocupem Wall Street. "Não podemos aceitar que quase um quarto dos jovens da Europa estejam desempregados", disse José Manuel Barroso, presidente da Comissão Europeia, o braço executivo da UE.

Na outra ponta estão Áustria, Holanda e Alemanha, com índices de desemprego perto do nível considerado ideal. Segundo a Agência Federal do Trabalho da Alemanha, a taxa de desemprego no país caiu de 6,8% em dezembro para 6,7% neste mês - nível mais baixo desde a reunificação das duas Alemanhas. Utilizando uma outra metodologia, a Eurostat colocou em 5,5% o desemprego alemão em dezembro.

"A tendência de queda no desemprego vai desaparecer gradualmente nos próximos meses. Mas a Alemanha continuará a mostrar um melhor desempenho econômico que o resto da zona do euro", afirmou Ralph Solveen, economista do banco alemão Commerzbank.

Desde a explosão da crise da dívida soberana europeia, há cerca de dois anos, o foco dos governos tem sido na austeridade, com a adoção de medidas para colocar as contas em ordem por meio de severos cortes de gastos públicos e aumento de impostos. Esse processo culminou no pacto fiscal acertado na segunda-feira por 25 dos 27 países da UE, que limita o déficit público e prevê punição para quem ultrapassar as metas. Um diplomata europeu chegou a dizer que, com isso, "o keynesianismo foi declarado ilegal na Europa".

No entanto, há sinais de que a abordagem está mudando, considerando agora ações para estimular o crescimento econômico e a geração de empregos como cruciais para a resolução da crise.

Na segunda-feira, na cúpula que acertou o pacto fiscal, líderes europeus prometeram se empenhar por crescimento e empregos. "Sim, nós precisamos de disciplina [fiscal], mas também precisamos de crescimento", disse Barroso.

No encontro, os líderes europeus se comprometeram a oferecer mais treinamento para jovens, empregar fundos de desenvolvimento para a criação de vagas, reduzir as barreiras para negócios dentro da UE e assegurar que as pequenas e médias empresas tenham acesso a crédito.

A atual situação de maior conforto da Alemanha é usada como exemplo para os defensores de reformas trabalhistas. Em 2005, enquanto a Espanha tinha um desemprego de 8,5%, a taxa alemã disparou para mais de 12%. Berlim então modificou a legislação, flexibilizando as horas de trabalho de acordo com a demanda e encorajando os empregos "part-time" e a divisão dos postos de trabalho para mais de um funcionário. "A Alemanha, ao promover reformas, mostrou que existe uma maneira de impedir o aumento do desemprego", disse Etienne de Callatay, economista do Bank Degroof.