Título: Banco médio recorre mais aos FIDCs
Autor: Bautzer, Tatiana
Fonte: Valor Econômico, 07/08/2006, Banco médio recorre mais aos FIDCs, p. C1

A expectativa em torno da mudança da contabilidade de cessão de crédito está animando o mercado de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), com mais emissões de bancos pequenos e médios. O Votorantim planeja a maior emissão de FIDC do ano, de R$ 1 bilhão. Instituições que até agora não cediam suas carteiras preferem ir direto ao mercado de capitais ao invés de fechar acordos de cessão com os grandes.

"Alguns bancos que só faziam concessões diretas querem lançar fundos agora para evitar a necessidade de injeção de capital quando mudar a regra do Banco Central", diz o diretor da Oliveira Trust, Juarez Dias Costa. O Paraná Banco está preparando sua primeira emissão, com "road show" para investidores esta semana no Rio e em São Paulo.

O Banco Votorantim está esperando aprovação de um novo fundo de R$ 1 bilhão. Em junho, o banco já havia lançado um fundo de R$ 500 milhões com liquidez diária, tendo como alvo investidores de private banking. O novo fundo será fechado, com prazo de cinco anos e carência de dois. "Queremos diversificar o funding da financeira, até agora só da tesouraria, para continuar expandindo a carteira de crédito de veículos", afirma o diretor de mercado de capitais do Votorantim, Emílio Otranto. Desta vez o público será de investidores institucionais e outros bancos. A emissão, sem coobrigação, terá duas séries, uma sênior, rendendo 102% do CDI, e duas séries de subordinadas, com alvo de 102,2% do CDI.

Também está em análise uma emissão do Cruzeiro do Sul, de R$ 50 milhões.

A Oliveira Trust lançou oito fundos, no valor total de R$ 500 milhões, e está estruturando outros quatro de R$ 250 milhões. Agora, está disputando mandato para estruturar fundos de dois bancos médios. O diretor não revela o nome das instituições, mas acredita que até 15 bancos que estavam fora do mercado passem a vender FIDC.

O Bradesco é um dos principais compradores de carteiras de crédito de bancos médios, incluindo BMC, Panamericano, Pine, Bonsucesso, Industrial e Cruzeiro do Sul. O Itaú tem acordos com BMG e o HSBC, do banco Schahin. O ABN AMRO Real costuma comprar parcelas da carteira do Cacique.

Espera-se que o Banco Central mude a regra contábil para concessão de crédito com coobrigação, no qual o risco permanece com o banco que vendeu a carteira. A ponderação do risco para cálculo do capital necessário à instituição passará de 50% para 100% na nova regra.

Para outra instituição bastante atuante na originação de FIDC, o Mellon Brasil, as emissões de bancos pequenos e médios têm crescido, mas já são lançadas com comprador definido e não vêm a mercado. "O problema é que muitas dessas emissões já estão com o custo de captação fechado com o comprador", diz Roberto Pitta, diretor do Mellon Brasil. "Se viessem a mercado talvez pudessem conseguir taxas melhores. A taxa já chega a mercado fechada a 110% do CDI, por exemplo, mas se outros investidores pudessem disputá-la ela poderia cair", argumenta.

O volume de FIDC administrado pelo Mellon subiu 24% nos primeiro semestre do ano, de R$ 2,9 bilhões para R$ 3,9 bilhões. Nos seis primeiros meses a instituição originou R$ 850 milhões nestes fundos. Pitta espera que o volume gerado no segundo semestre seja de R$ 1 bilhão.

Ele vê uma perspectiva melhor para emissões de empresas privadas, que estão avaliando as operações pelo custo mais baixo e melhora dos seus índices de endividamento no balanço, o que não ocorre com papéis tradicionais de dívida. Segundo dados da CVM, o estoque total de emissões de FIDC é de R$ 4,4 bilhões até julho, com R$ 2,3 bilhões em análise. Não há estatísticas sobre o total de cessões de crédito entre os bancos, mas o volume é de bilhões mensais.

A geração de crédito mensal para pessoa jurídica superou R$ 70 bilhões ao mês e para pessoa física, R$ 40 bilhões. O total de FIDCs ainda é inferior a 20% do total de debêntures, de R$ 44 bilhões no ano.