Título: Governo recua e cancela demarcação de terras
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2012, Internacional, p. A11

O acirramento dos conflitos agrários envolvendo produtores brasileiros e grupos de sem-terra no leste do Paraguai levou o presidente Fernando Lugo a cancelar o processo de demarcação de terras iniciado havia duas semanas, com o apoio do Exército.

"O trabalho que vinha sendo feito pelas Forças Armadas na região foi retirado, a fim de pacificar os ânimos", afirmou ao Valor o ministro-chefe do Gabinete Civil, Miguel Ángel López Perito.

Segundo o ministro, o governo ainda precisa fazer a demarcação a menos de 50 km da fronteira, segundo uma lei de 2006 que proíbe a venda de terras para estrangeiros nessa faixa. "Mas nada será feito até que se acalme a situação", disse ele.

Com relação aos 160 mil hectares ocupados por brasileiros e reivindicados pelos sem-terra como sendo de propriedade do Estado paraguaio, López Perito afirma que essa não é uma questão de competência do governo. "Quem deve resolver esse conflito é o Poder Judiciário."

O clima esquentou entre os sem-terra e os agricultores brasileiros, conhecidos como "brasiguaios", após a chegada do Exército, há duas semanas. Isso porque os sem-terra passaram a acompanhar os trabalhos de demarcação e a fazer manifestações a favor da expulsão dos estrangeiros. O episódio preocupou o governo brasileiro e foi tema de conversa entre o embaixador em Assunção, Eduardo dos Santos, e o presidente Fernando Lugo, na semana passada.

O recuo do governo, no entanto, irritou os sem-terra paraguaios, conhecidos como "carpeiros" por acampar em barracas de lona plástica ("carpas") à beira de estradas. "A decisão do governo não nos interessa. Nós não vamos deixar a região porque essas são terras do Estado paraguaio", disse ao Valor o presidente da Associação de Carpeiros do Alto Paraná, Victoriano López. "Nós vamos recuperar o nosso país, e os brasileiros que comprovarem a origem legal de suas terras não têm com o que se preocupar." (FM)