Título: Liderança no varejo garante rating acima do soberano
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 07/08/2006, Finanças, p. C3

A forte presença do Bradesco e do Itaú na captação de recursos junto ao público é um dos principais motivos que levou a agência de avaliação de risco de crédito Standard & Poor's (S&P) a atribuir aos dois bancos o rating "BB+" em moeda estrangeira, um degrau abaixo do "investment grade" e acima do rating soberano de "BB". Os outros grandes bancos de varejo brasileiros avaliados pela S&P - Unibanco, HSBC e Santander Banespa - são avaliados como "BB".

"A boa penetração dos dois bancos junto às pessoas físicas garante maior resistência em um cenário de estresse", disse o analista da S&P, Marcos Viesi. Ele explicou que raramente os bancos têm rating superior ao soberano porque investem muito em títulos públicos. Mas um funding diversificado e pulverizado, acrescentou, reduz o risco.

Segundo relatório elaborado pela agência, o Bradesco e o Itaú estão melhor posicionados do que seus concorrentes: os dois estiveram muito ativos na consolidação do sistema financeiro, inclusive no processo de privatização, conseguindo, junto com o crescimento orgânico, uma posição forte em rede de agências e no mercado de varejo.

Ao final de 2005, o Bradesco tinha 9,9% dos ativos totais do sistema financeiro e o Itaú, 8,7%. Em depósitos à vista e de poupança, a posição do Bradesco era de 15,9% e 15,5%, respectivamente; e a do Itaú, de 12,7% e 11,7%.

Em depósitos a prazo, alguns dos dois concorrentes dos dois bancos chegam mais perto: se o Bradesco tem 9,8% do mercado e o Itaú, 5,4%, o Unibanco chega a 8,1% e o HSBC, a 7%, com 6,2% para o Santander.

Na área de crédito, os dois grandes também dominam, com 13,4% do Bradesco e 10% do Itaú. No crédito de varejo, os dois estão crescendo, com o Bradesco ampliando a fatia de 15,6% para 17,6%; e o Itaú, de 14,8% para 16,1% entre 2004 e 2005.

A expansão do crédito de varejo acarretou o aumento da inadimplência no Itaú e HSBC entre 2004 e 2005. Os créditos com mais de 90 dias de atraso em relação à carteira total passaram de 5,5% para 6,7% no Itaú; e de 7,1% para 8,4% no HSBC. Mas recuou de 5% para 4,8% no Bradesco.

Os créditos baixados como prejuízo caíram de 2,3% para 1,2% no Bradesco, e pouco oscilaram nos demais bancos, subindo de 2,3% para 2,9% no Itaú. O índice de cobertura para os créditos com mais de 90 dias de atraso recuou a 127% no Bradesco e 100,4% do Itaú

Segundo a S&P, a qualidade do crédito dos bancos brasileiros é pior do que a de seus concorrentes da América Latina: as operações com mais de 90 dias de atraso atingiram 6,6% no Brasil, em 2005; a média é de 2,2% nos bancos também com rating "BB+" dos outros países. Para a agência, esse índice brasileiro reflete "o histórico de volatilidade econômica e seu impacto negativo na taxa de inadimplência assim como o lento processo de recuperação de créditos no país".

Mas, segundo a agência, os bancos brasileiros administraram "consistentemente" o risco de crédito. "A rentabilidade sólida e os spreads elevados no varejo também fornecem um colchão suficiente para compensar a deterioração potencial da qualidade do crédito", diz o relatório.

A capitalização dos dois bancos, com índice ao redor de 16%, foi considerada adequada pela Standard & Poor's.