Título: Bancos devem pedir € 1 trilhão ao BCE em novo leilão emergencial
Autor: Jenkins,Patrick
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2012, Finanças, p. C2

Os bancos europeus estão se preparando para recorrer ao esquema de financiamento emergencial do Banco Central Europeu (BCE) em busca do dobro da quantia fornecida pela instituição em seu leilão de estreia de dezembro, de €489 bilhões, numa nova evidência do aperto de liquidez que passa o setor.

Vários dos maiores bancos da zona do euro disseram ao "Financial Times" que poderão duplicar ou triplicar sua solicitação de recursos no leilão de curto prazo do BCE, marcado para o dia 29.

"Os bancos não se mostrarão tão tímidos nesta segunda vez", disse o diretor de um banco da zona do euro no Fórum Econômico Mundial de Davos. "Devíamos ter feito mais da primeira vez."

Três principais executivos de bancos, que pediram para não ter seus nomes divulgados, disseram estar planejando uma participação duas ou três vezes maior desta vez.

O Goldman Sachs disse aos clientes que no leilão deste mês os bancos poderão solicitar o dobro do valor requerido em dezembro, quando mais de 500 instituições captaram €489 bilhões. "Eles poderão totalizar facilmente mais €1 trilhão em fevereiro", disse um alto dirigente do setor. "Poderá ser bem mais do que isso, se as coisas piorarem para os mercados."

Sob a gestão do novo presidente Mario Draghi, o BCE lançou sua linha de crédito de recursos de curto prazo em dezembro para evitar o aperto de crédito que se aproximava, diante dos €230 bilhões em bônus bancários por vencer com resgate no primeiro trimestre de 2012, enquanto os mercados de bônus permanecem, na maioria, fechados para novas emissões.

Os bancos atribuem a Draghi o mérito de ajudar a desestigmatizar a operação de repasse de recursos de curto prazo pelo BCE, ao convencer o maior número de instituições possível a participar. Até então os bancos fugiam desses esquemas de apoio por medo de parecerem frágeis.

Os dirigentes dos bancos preveem que um maior número de bancos captará recursos no leilão deste mês, estimulados pela participação generalizada observada na última vez, bem como pela promessa de montantes ilimitados de dinheiro barato - com uma taxa de juros de apenas 1%.

Analistas sugerem que os bancos podem ter usado parte desse dinheiro para investir em bônus soberanos de maior rendimento da zona do euro, contribuindo para reduzir o custo da tomada de empréstimos para vários governos em dificuldades da zona do euro, como Itália, Espanha, Irlanda e Grécia.

Mas ontem os rendimentos da periferia da zona do euro subiram, de modo geral, puxados pelos receios que cercam o plano de resgate da Grécia. O retorno dos bônus de 10 anos de Portugal avançou mais de dois pontos percentuais, para 17,26%, uma vez que um número cada vez maior de investidores prevê que o país ficará inadimplente.

Os bancos italianos dominaram a demanda por dinheiro em dezembro, segundo dados reunidos pelo Morgan Stanley.

Os dirigentes das instituições espanholas, francesas e alemãs disseram que foram grandes tomadores também. Até o Royal Bank of Scotland (RBS) lançou mão do programa, em busca de €5 bilhões em liquidez, por meio de sua subsidiária holandesa.