Título: Avanço do PIB no 2º tri foi modesto
Autor: Lamucci, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 07/08/2006, Brasil, p. A5

As projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre encolheram depois da divulgação pelo IBGE de uma queda de 1,7% da produção industrial na passagem de maio para junho. Se antes a expectativa era de um avanço na casa de 1% em relação ao primeiro trimestre, na série livre de influências sazonais, as apostas se concentram numa expansão perto de 0,6% - uma forte desaceleração em comparação com o 1,4% de janeiro a março.

As previsões para o ano, porém, não devem ser revisadas de imediato. Além de os analistas preferirem esperar a divulgação do resultado do PIB no fim do mês, há sinais de que a atividade se recuperou em julho, o que pode compensar o resultado de junho.

A economista Lygia de Salles Freire César, da Rosenberg & Associados, ressalta que o desempenho de junho foi prejudicado por fatores pontuais.. Ela lembra o efeito Copa do Mundo, que reduziu o número de horas trabalhadas em dias de jogos do Brasil, a greve das montadoras e da Receita Federal e também o fato de que junho teve um dia útil a menos do que o mesmo mês de 2005. Segundo o economista Bráulio Borges, da LCA Consultores, sem o impacto da Copa do Mundo, a indústria teria caído 0,6%, e não 1,7%. Ele diz que indicadores coincidentes, como a produção de automóveis e a expedição de papelão ondulado, não captaram esse efeito totalmente.

A retração em junho foi generalizada, atingindo todas as categorias de uso da indústria, como nota Lygia. A queda mais forte foi na produção de bens intermediários, com queda de 1,9% em relação a maio. No segundo trimestre, a produção industrial fechou em alta de apenas 0,5% em relação ao primeiro, em termos dessazonalizados.

Lygia, que esperava avanço de 0,9% do PIB no segundo trimestre, revisou a sua projeção para 0,6%. Ela avalia que há espaço para uma expansão mais forte da indústria nos próximos meses, num cenário marcado por juros mais baixos e expansão da renda. Por enquanto, ela mantém a previsão de crescimento de 3,6% para o ano.

A economista Giovanna Rocca, do Unibanco, também vai revisar sua previsão para o PIB no segundo trimestre, de 1,15% para algo como 0,7%. Ela diz que o resultado de junho a surpreendeu negativamente, mas também aposta numa recuperação da atividade no terceiro trimestre. A queda dos juros, a recuperação no mercado de trabalho e o aumento dos gastos fiscais tendem a impulsionar a economia nos próximos meses, avalia.

Bráulio fez uma revisão mais modesta de sua projeção, reduzindo-a de 1,1% para 0,9%. Ele reconhece que o recuo de junho foi forte, mas considera que ele não é suficiente para derrubar com muita força o desempenho do PIB no período, uma vez que a indústria teve um desempenho razoável nos dois meses anteriores, principalmente em maio. Ele também aposta que a recuperação da atividade em julho pode compensar os estragos produzidos pelo resultado de junho. O licenciamento de veículos cresceu com força no mês passado - 11% em relação a junho, com ajuste sazonal -, lembra ele, acrescentando que o consumo de energia aumentou 1,3% no período.

Bráulio chama a atenção para o desempenho positivo dos investimentos no segundo trimestre. Segundo sua estimativa, a formação bruta de capital fixo (FBCF), que mede o investimento na construção civil e em máquinas e equipamentos, deve ter crescido 4,4% em relação ao mesmo período de 2005. No período, a construção cresceu 2,5% e a as quantidades importadas de máquinas e equipamentos, 24,5%. A produção doméstica, porém, avançou apenas 1,3%. Na comparação com o primeiro trimestre, o avanço deve ser de 1,4%. Com isso, ele mantém a projeção de aumento de 7,5% para a FBCF no ano. Lygia espera alta de 3,7% em relação ao segundo trimestre de 2005 e estabilidade em comparação com o primeiro.