Título: Lula reforça campanha em Minas e alia-se a apoiadores de Aécio
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 07/08/2006, Política, p. A6

Fernando Donasci/ Folha Imagem Em campanha , presidente cumprimenta populares, ao lado do vice Alencar Dois comícios no fim de semana deram início à campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Minas. A meta é manter - se possível, ampliar - a diferença a seu favor no segundo maior colégio eleitoral do país. "Temos de trabalhar dia e noite para que Lula tenha, no primeiro turno, 80% do votos de Minas Gerais", disse o vice, José Alencar, ontem, em Governador Valadares, no interior mineiro. No sábado, o comício foi na capital.

O empresário José Alencar, que abriu sua primeira loja em Caratinga, vizinha de Valadares, e tem prestígio na região, deu o recado. "Um estado que tem o vice e cinco ministros no governo (Patrus Ananias, Luiz Dulci, Walfrido Mares Guia, Hélio Costa e Agenor Álvares) precisa dar o exemplo". Dos ministros mineiros, apenas Álvares (Saúde), não estava no comício.

Em nome de uma boa vantagem para Lula em Minas, a coordenação da campanha aliou-se a cabos eleitorais do governador tucano Aécio Neves, que disputa a reeleição no estado e é adversário do petista Nilmário Miranda. Pesquisas qualitativas encomendadas pelo PT mostraram que Lula corre o risco de perder votos dos mineiros para Alckmin ou Heloísa Helena (P-SOL) se a campanha ficar colada na do ex-ministro Nilmário, que não tem mais do 7% das intenções de votos já divulgadas.

O ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, ficou encarregado do comando das articulações com a frente suprapartidária de prefeitos mineiros, um movimento que já foi apelidado de "lulécio". Estão nesta frente aqueles que apóiam Lula para a Presidência mas, na disputa estadual, estão fechados com Aécio. Muitos são do próprio PMDB, que está coligado em Minas com o PT.

A primeira reunião de Lula com prefeitos da frente estava prevista para ocorrer ontem, em Valadares. Mas, segundo o coordenador da campanha em Minas, o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, não foi possível incluir o encontro na agenda. Lula deixou a cidade logo depois do comício.

De acordo com Pimentel, já estão acertados três encontros com os prefeitos: em Montes Claros, em alguma cidade do Sul de Minas e outra do Triângulo Mineiro. "Serão encontros fechados, obviamente sem a participação da coordenação da campanha estadual, já está tudo conversado com o Nilmário", explicou.

A união com cabos eleitorais que fazem campanha contra o petista Nilmário não é a primeira demonstração do pragmatismo da campanha de Lula. Em nome da vitória com a maior folga possível em Minas, o PT mineiro se viu obrigado a fazer aliança com um inimigo histórico, o ex-governador Newton Cardoso (PMDB). Ele é candidato ao Senado na chapa da coligação, com as bênçãos de Lula.

O preço da aliança foi muita discórdia interna e exigiu a articulação do próprio Lula. Diretórios de cidades mineiras onde o PT é forte, como Ipatinga, já comunicaram que não montarão palanque para Newton. Até o coordenador Fernando Pimentel chegou a declarar que não se sente à vontade para pedir votos para Newton.

Pimentel, entretanto, capitulou. Ontem, do alto do palanque, fez campanha para o "companheiro Newton". A militância petista, entre 2,5 mil e 3 mil pessoas que se apertavam em frente ao palco, não chegou a aplaudir com entusiasmo o ex-governador. Mas, desta vez, sob o comando das principais estrelas do partido, foi tímida na vaia.

Em Minas, o maior objetivo do PT é mostrar que é o governo federal - e não o governador Aécio Neves - quem custeia os principais programas, especialmente os voltados para a população pobre. "Pode procurar, Estado por Estado, para ver se os governantes gastam dinheiro com pobre", disse Lula. "São todos programas federais, sem exceção."

Lula focou grande parte de seu discurso em Valadares no programa Bolsa-Família. Lembrou que, só no Estado, o governo gasta mais de R$ 2 bilhões por ano com as famílias pobres. Segundo Lula, a transferência de renda impulsionou o crescimento do consumo popular e, com um pouco mais de dinheiro, os pobres estão fazendo mais compras.

O presidente desdenhou daqueles que criticam o programa. "Se isso for assistencialismo, vou fazer muito assistencialismo neste país", prometeu. "Não estou dando, estou pagando o que os pobres merecem neste país".Num discurso com apelo em Governador Valadares, a cidade brasileira que mais mandou imigrantes para os Estados Unidos, Lula prometeu que o nome de seu segundo mandato será "desenvolvimento".

Lula falou ainda sobre o sucesso do programa Pró-Uni, que garante bolsas para estudantes carentes nas universidades privadas em troca de isenção fiscal. Mais uma vez, cobrou a oposição aprove, no Congresso, a criação do fundo para educação básica (Fundeb).

Ressaltando que estava na cidade como candidato e não como presidente, Lula não anunciou o que a população queria, a criação de uma universidade federal do Vale do Rio Doce. Mas deixou claro que é isso que oferecerá à região. "Tenho na carne a exata dimensão do que é a expectativa de uma mãe, de um pai, para o filho estudar", disse, prometendo uma "revolução na educação", se for reeleito.

Pela última pesquisa DataFolha, Lula tem 45% das intenções de voto dos mineiros. Seu principal adversário, Geraldo Alckmin (PSDB), tem 26%. A avaliação da coordenação da campanha - não só a dos petistas mas também dos tucanos - é de que o resultado de Minas poderá ser importante para a definição, ou não, das eleições já no primeiro turno.

Em 2002, Lula teve 53% dos votos válidos no primeiro turno em Minas, Estado com 13,7 milhões de eleitores. Na capital, ficou com 58,4% dos votos válidos no primeiro turno. O resultado nacional de Lula naquela eleição foi de 46%.