Título: A bolsa sem IOF
Autor: Rosa, Silvia
Fonte: Valor Econômico, 02/12/2011, Investimentos, p. D1

O fim do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% para aplicações de investidores estrangeiros em ações é visto como positivo pelo mercado, mas não será suficiente para aumentar significativamente o fluxo de recursos externos para a bolsa brasileira. O imposto foi criado em outubro de 2009 para conter a entrada de dólares no país e a valorização do real.

A medida ajuda a reduzir o custo do investimento no mercado acionário brasileiro, mas deve ter pouco impacto diante da aversão a risco nos mercados por conta da crise na Europa, afirma Roberto Serwaczak, presidente da corretora do Citibank. "Ela retira uma ineficiência do mercado brasileiro, mas as incertezas que rondam o mercado global continuam presentes."

Para investidores de curto prazo, o fim da alíquota de 2% reduzirá o custo das operações de arbitragem entre os recibos de ações brasileiras negociados no mercado americano (American Depositary Receipts, ADRs) e as ações locais. Essas operações buscam ganhar com a diferença entre o preço dos papéis negociados no mercado americano e o das ações na BM&FBovespa. "Antes as operações de arbitragem com ADRs tinham que ter um retorno maior para valer a pena", diz Serwaczak.

O IOF de câmbio cobrado na troca de recibos de depósitos americanos por ações de empresas brasileiras no mercado local, que chegou a ser de 6% em outubro de 2010, também reduziu a atratividade dessas operações.

Alterações constantes na tributação também não são bem vistas pelos investidores externos e aumentam o risco regulatório do país. "O que o estrangeiro menos quer é mudança de regras, e a possibilidade de retorno do imposto traz incerteza para os investidores", ressalta Serwaczak, do Citi.

Ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ressaltou que a retirada da tributação é um estímulo para as empresas brasileiras captarem recursos na bolsa. Mas Mantega destacou que o governo poderá voltar a cobrar o imposto. "Se houver novamente um fluxo especulativo, nós poderemos, a qualquer momento, colocar esse tributo novamente", afirmou o ministro.

No acumulado de 2011, as compras do estrangeiro no mercado acionário brasileiro superam as vendas em apenas R$ 353 milhões, mostrando forte desaceleração em relação a 2010, quando houve uma entrada líquida de recursos externos na bolsa de R$ 6 bilhões.