Título: É preciso explorar melhor o mercado americano
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Fonte: Valor Econômico, 07/08/2006, Internacional, p. A11

É auspiciosa a decisão do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, de buscar uma aproximação comercial com os Estados Unidos. Trata-se do maior e mais aberto mercado do planeta, destino, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), de 16,1% das exportações mundiais em 2004. Somente no ano passado, os americanos importaram o equivalente a US$ 1,670 trilhão.

Décimo quinto maior exportador para os EUA, o Brasil vem perdendo espaço nesse mercado fabuloso. Há vinte anos, faturava o mesmo que a China nas exportações aos americanos. Em 2005, segundo estatísticas do Departamento de Comércio dos EUA, exportou US$ 24,4 bilhões, um décimo do total vendido pelos chineses naquele ano.

Nos últimos seis anos, na esteira da verdadeira revolução que vem ocorrendo no comércio exterior brasileiro, as exportações para o mercado americano avançaram 116%. Foi o segundo melhor desempenho no período, ficando atrás apenas da China. Os números mostram, todavia, que esse movimento está perdendo ímpeto.

Em 2004, segundo a Secretaria de Comércio Exterior, as vendas do Brasil para os EUA cresceram 20%. No ano seguinte, a taxa de expansão caiu para 10% e, nos primeiros seis meses de 2006, para 4,3%. Se o ritmo de vendas brasileiras para os EUA está desacelerando, o mesmo não se pode dizer de outros exportadores. Nos últimos três anos, as importações americanas aumentaram 43,6%.

Falta ao Brasil, na avaliação de especialistas como o embaixador Rubens Barbosa, a definição de uma estratégia clara para a conquista do mercado americano. Uma série de fatores concorre para isso, entre eles, a ausência de cultura exportadora até o passado recente, os elevados custos de produção do país, a escassez de recursos para promoção comercial, a falta de interesse da atual cúpula do Itamaraty, marcada por um forte sentimento antiamericano, em aprofundar as relações com os Estados Unidos.

O governo dos Estados Unidos, como se sabe, impõe um sem-número de barreiras tarifárias e não-tarifárias para bloquear a entrada, em seu mercado, de produtos agrícolas. Além disso, subsidiam seus agricultores com somas vultosas, diminuindo o poder da concorrência dos produtos importados. O Brasil é um dos países que mais sofrem com esse bloqueio justamente por ser um dos mais competitivos nessa área.

Com o fracasso das negociações multilaterais, tanto no âmbito da OMC quanto da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), com vistas à abertura do comércio agrícola e à redução dos subsídios, tornou-se ainda mais distante o dia em que o Brasil poderá ampliar seu acesso ao bilionário mercado agrícola americano. Diante disso, as autoridades deveriam adotar postura pragmática, voltando sua atenção para aquilo que os americanos querem comprar.

Quase 70% dos produtos industriais entram nos Estados Unidos com alíquota zero. Realistas, os chineses aprenderam isso há 25 anos. Em 1985, exportavam US$ 7 bilhões ao ano para os americanos. No ano passado, venderam o equivalente a US$ 243,4 bilhões, quase 35 vezes mais. Enquanto isso, no Brasil, os responsáveis pela política externa se dão ao luxo de não considerar o mercado americano como uma prioridade.

Com uma visão inteiramente distinta, o ministro Furlan decidiu adotar providências para abrir caminho aos exportadores brasileiros. O objetivo é executar um programa de redução das barreiras técnicas ao comércio de produtos das cadeias farmacêutica, siderúrgica e de carnes, entre outras. Furlan quer facilitar o trânsito de executivos entre as duas nações, liberando a exigência de visto diplomático para empresários americanos e negociando o mesmo benefício para os brasileiros.

Técnicos dos dois países discutem, desde junho, medidas de facilitação do comércio, normas técnicas e concessão de marcas e patentes, para ampliar o acesso aos mercados. Os esforços são nas duas mãos do comércio - é fato que as importações brasileiras dos EUA estão no mesmo nível de dez anos atrás. "Nossa meta, visionária, é abrir caminho para dobrar a corrente de comércio até 2010", disse Furlan. Se isso acontecer, o intercâmbio de mercadorias entre as duas economias atingirá US$ 100 bilhões nesse prazo. É um bom começo.