Título: Dívida privada ganha estímulo
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Fonte: Valor Econômico, 02/12/2011, Finanças, p. C1

Se o pacote de estímulo anunciado ontem pelo governo não passar por remendos nos próximos dias, os títulos de dívida privados de longo prazo terão ganho uma importante vantagem na comparação com os papéis do governo federal, os preferidos dos investidores estrangeiros.

O governo zerou o IOF de 6% que incidia sobre as aplicações de estrangeiros sobre todos os títulos de renda fixa privados com duração a partir de quatro anos, mas manteve a alíquota sobre seus próprios papéis. Os estrangeiros já haviam sido isentados, em dezembro, do Imposto de Renda nas aplicações em papéis privados de longo prazo - benefício do qual já gozavam os títulos públicos.

A expectativa entre bancos é de os estrangeiros possam investir R$ 5 bilhões ao ano em debêntures e outros papéis emitidos por empresas brasileiras no mercado doméstico. Hoje esse volume é praticamente zero.

Já a redução do IOF anual sobre empréstimos a pessoas físicas - de 3% para 2,5% - dificilmente servirá de estímulo para a oferta de crédito. "Não é isso que vai alterar o valor da prestação mensal", observa Nicolas Tingas, economista da Associação Nacional de Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi). Ele acredita que a redução do IPI sobre alguns produtos terá impacto mais acentuado sobre o consumo.

Afinada com o governo, ontem mesmo a Caixa Econômica Federal anunciou uma ampliação de R$ 5 bilhões no limite de crédito disponível para aquisição de eletrodomésticos, móveis, eletroeletrônicos e outros bens de consumo, em ação que fez lembrar o protagonismo dos bancos públicos para estimular a economia na crise de 2008.

No mercado monetário, as medidas do Ministério da Fazenda para estimular a economia não foram bem recebidas. A avaliação é que, ao estimular o consumo, o governo tira espaço da política monetária e reduz a possibilidade de cortes mais acentuados da taxa de juro Selic.

A percepção é de que pode haver um excesso de ações oficiais para tentar acelerar a atividade em um momento em que o país já se mostra em leve recuperação. Uma indicação disso foi a alta dos contratos de juros futuros, negociados na BM&F, que mostram a expectativa dos bancos e fundos de investimentos dos próximos passos do Banco Central (BC) para a Selic.

Alguns operadores chamaram o conjunto de ações de um "novo Copom", pois desfez parte do trabalho do BC para coordenar as expectativas e trazer para baixo o juro mais longo - que é o que conta de fato para estimular a economia num ciclo de afrouxamento monetário como o atual.