Título: O Brasil avança sobre omundo
Autor: Mainenti, Mariana; Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 28/09/2010, Economia, p. 12

O Brasil tornou-se um investidor cobiçado no mundo. Fortalecidas em relação às companhias cujas matrizes localizam-seempaíses que sofreram mais os impactos da crise global, as empresas nacionais avançam em seu processo de internacionalização. Agora, são os mercados desenvolvidos que buscam atrair os recursos dos brasileiros. França eHolanda, por exemplo, abriram este ano agências no país com o objetivo de levar reais para seus mercados.

Dados do Banco Central (BC) mostram que, de janeiro a agosto de 2010, o valor líquido da participação das empresas nacionais em outros países totalizou US$ 15,612 bilhões, comparável ao das estrangeiras no Brasil, que chegou a US$ 16,906 bilhões. Tratase de uma mudança significativa diante do que ocorreu no ano passado, quando os investimentos brasileiros no exterior resultaramemenvio de US$ 4,545 bilhões e os ingressos no país atingiramUS$ 25,949 bilhões.

Levando em consideração os empréstimos dentro de ummesmo grupomultinacional, o InvestimentoBrasileiroDireto (IBD) lá fora totalizou US$ 5,577 bilhões e o Investimento Estrangeiro Direto (IED) aqui dentro ficou em US$ 17,130 bilhões. O governo faz uma projeção de US$ 12 bilhões para o IBD e de US$ 38 bilhões para o IED em 2010, mas já trabalha com um cenário em que o hiato do valor líquido diminui, podendo até mesmo ocorrer uma inversão de cenário, emque as remessas ao exterior possam superar a chegada.

A crise deixou muitos países com ativos baratos e o real forte aumenta o poder de compra das empresas nacionais, que estão vendo a internacionalização como forma de escapar das barreiras ao comércio e de divulgar suas marcas, avalia o secretário de Comércio Exterior do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,Welber Barral. Entre as 20 companhias que integramo topo do ranking das marcas mais valorizadas do país, elaborado pela BrandAnalytics, 10 estão em processo de internacionalização. O potencial de investimentos de uma empresa no exterior influencia muito a sua imagem, acredita o diretor da consultoria EduardoTomiya.

Copa do Mundo Braskem e Gerdau são exemplos de consolidação dessa tendência: ambas fizeram importantes aquisições nos Estados Unidos em2010.Éumatremenda mudança. As empresas do Brasil estão deixando de ser jogadoras do campeonato brasileiro para jogar na Copa doMundo, afirma o vice-presidente de Negócios Internacionais da Braskem, Roberto Ramos. Segundo ele, a compra da Sudoku Quemical foi uma questão de boa oportunidade: Pagamos menos do que se tivéssemos de compor aquela capacidade produtiva nos Estados Unidos. Com a crise, diminui a concorrência e caem os preços.

Estávamos em melhores condições para aquisição porque sentimos menos os efeitos da crise, emque oBrasil teveumaretração de menos de 1%, enquanto outros países viram suas economias caírem até 9%. De uma hora para outra, ficamos 10% mais importantes no mundo do que éramos, calcula.

A compra da companhia norte-americana para produção de propilenoo plástico mais usado em componentes de veículos é apenas uma das pontas da estratégia de internacionalização da Braskem, que pretende investir cerca de US$ 12 bilhões nos próximos 10 anos no exterior. Planejamos ter fábricas na Bolívia, no Peru, naVenezuela e no México, revela Ramos. O avanço sobre os vizinhos latino-americanos é importante para integrar os mercados produtores ao principal consumidor, os EUA, para o qual a Braskem reserva outros planos: Os brasileiros estão trabalhando muito bem com os norte-americanos. Isso nos deixa esperançosos para fazer novas aquisições lá nos próximos 12 meses.

Para o diretor-presidente da Gerdau, André Gerdau Johannpeter, a recente compra da siderúrgica Tamco por US$ 165 milhões e a participação em torno de 34% na Gerdau Ameristeel representam passos importantes em território norte-americano. Continuaremos a avaliar seletivamente as oportunidades de mercado que surjam e que estejam alinhadas à estratégia de rentabilidade e crescimento com sustentabilidade da empresa, afirma.Oexecutivo acrescenta que o foco de atuação da companhia no momento é a integração das empresas. Em 2009, 53%da receita líquida do grupo foi gerada pelas unidades no exterior.

De 2010 a 2014, aGerdau irá investir cerca de R$ 2,2 bilhões fora do país.