Título: Proposta da VarigLog ameaça as estatais
Autor: Vilella, Janaína
Fonte: Valor Econômico, 10/07/2006, Empresas, p. B3

Uma estimativa da administradora judicial da Varig, a Deloitte, com base na proposta de compra apresentada pela VarigLog, revela que restariam apenas R$ 4 milhões para o pagamento de rescisões trabalhistas e dos débitos de credores da classe 3 (Infraero, BR Distribuidora, Banco do Brasil, entre outros). Só as dívidas concursais desse grupo, aquelas previstas no plano de recuperação judicial da companhia, somavam R$ 2,56 bilhões, em 31 de dezembro de 2005.

No parecer entregue à Justiça, na sexta-feira, a Deloitte contesta o preço mínimo de R$ 277 milhões fixado pela VarigLog para a compra da Varig "velha", aquela que não irá a leilão e continuará em recuperação judicial. Segundo a administradora, esse valor estaria inflado, uma vez que a ex-subsidiária de transporte de cargas e logística da Varig incluiu como parte do preço mínimo receitas futuras com aluguéis de imóveis e arrendamentos de aeronaves. Feitas as devidas correções, o valor cairia para R$ 126,9 milhões. Desse total, as três classes de credores receberiam R$ 86, 9 milhões.

Como a proposta da VarigLog prevê o pagamento, já ajustado pela Deloitte, de R$ 82,9 milhões em debêntures aos credores das classes 1 (trabalhadores) e 2 (fundo de pensão Aerus), sobrariam somente R$ 4 milhões para cobrir os custos de demissão dos funcionários e ainda quitar os débitos dos credores da classe 3. Pelos cálculos da administradora judicial, o custo para a demissão de 7,5 mil funcionários, de um total de 10 mil, é de US$ 65 milhões. A nova Varig ficaria com 2,5 mil empregados.

"Verifica-se que o valor real da proposta é ínfimo se comparado ao montante dos créditos das empresas em recuperação (...) A venda que se pretende, assim, não só não recupera as concessionárias remanescentes, como provavelmente assegurará a falência destas", aponta o relatório. A Deloitte ressalta que se a Varig entrasse em falência e vendesse todos os seus ativos, obteria um valor superior ao preço oferecido pela VarigLog. Levantamento realizado pela Appraisal em 2005 avaliou os ativos da aérea em R$ 268,35 milhões.

Em razão do atraso na entrega do detalhamento financeiro da proposta de compra da VarigLog, o juiz da 8ª Vara Empresarial do Rio, Luiz Roberto Ayoub, suspendeu a assembléia de credores inicialmente marcada para hoje e o leilão previsto para o dia 12. O documento ainda precisaria ser analisado pela Deloitte e pelo Ministério Público do Estado do Rio. Como a administradora judicial apresentou uma série de questionamentos relativos à proposta, convocou uma audiência para hoje com representantes da VarigLog e da Varig para negociar um preço mínimo melhor.

Segundo uma fonte ligada ao processo, a principal preocupação é que se a VarigLog não modificar a proposta ou até mesmo retirá-la, a companhia não teria fôlego financeiro para resistir mais uma semana. Marcelo Gomes, da Alvarez & Marsal, responsável pela reestruturação financeira da Varig, disse que a VarigLog tem condições de alterar a proposta de compra da companhia aérea para que a Justiça convoque o mais rápido possível a assembléia de credores para apoiar um novo leilão da empresa.

Gomes minimizou as conclusões do relatório da Deloitte: "O relatório foi para informar que algumas coisas deveriam ser alteradas na proposta para enquadramento na lei. Não existe opinião contra (da Deloitte em relação à proposta da VarigLog). Existe opinião para que seja enquadrada proposta dentro da lei", disse Gomes.

Desde o dia 26 de junho, a VarigLog tem feito aportes diários no caixa da Varig com o objetivo de manter a companhia em operação até o leilão. A proposta da ex-subsidiária prevê uma injeção de até US$ 20 milhões. Até sexta-feira, os depósitos já totalizavam US$ 11 milhões. Credores e funcionários temem que com a demora do processo, a empresa acabe indo à falência. O presidente da Varig, Marcelo Bottini, no entanto, descartou a possibilidade de a Varig parar, caso a VarigLog não faça um novo aporte de recursos. (Com Agência Brasil e colaborou Ana Paula Grabois, do Valor Online)